ZIRALDO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ver um bom filme, ouvir seu Vivaldi ou uma negra americana cantando, continuar dormindo até tarde na boa companhia da parceira que lhe coube, comer com sal; ainda resta muita coisa interessante para um sujeito da minha idade não ver passar o tempo. A melhor de todas essas coisas, porém -juro-, é ler um livro que, quando passou por sua vida, você era outro.
Por exemplo, "Madame Bovary" [ed. Nova Alexandria], de Gustave Flaubert [1821-80, foto]. Que canalha! Esse cara escreveu o romance mais perfeito de todos os tempos e só fui descobrir agora, na velhice que, nele, ele curtiu tão mal. Que incongruência para um homem que tão profundamente mergulhou na alma humana.