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Economistas falam da 'dependência'
da Reportagem Local
Criticado, ironizado, aplaudido,
o presidente Fernando Henrique
Cardoso acaba sendo um personagem importante no livro "Conversas com Economistas Brasileiros 2".
Ele aparece em histórias da época do regime militar, é citado como exemplo positivo e negativo, é
lembrado como intelectual, suas
teses e idéias são analisadas e discutidas. Também são recontadas
suas disputas no Cebrap (Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento) com outros intelectuais.
Um dos temas colocados no
centro das entrevistas pelos autores do livro é exatamente a tese de
FHC sobre a teoria da dependência, desenvolvida em conjunto
com o sociólogo chileno Enzo Faletto, no livro "Dependência e Desenvolvimento da América Latina", publicado há 30 anos.
Leia nesta página alguns comentários sobre Fernando Henrique Cardoso feitos pelos economistas no livro.
Paul Singer: "(Nessa época,)
Fernando já estava fora do Partido Comunista havia vários anos,
mas ele foi muito influenciado pelo pensamento do Partido Comunista, do qual ele tinha sido membro. O pai dele era simpatizante...
Ele saiu junto com uma grande
parte da intelectualidade do próprio Partido Comunista, a partir
do relatório Kruschev (o primeiro-ministro da então URSS que
sucedeu a Stalin e o acusou de crimes políticos), em 1957."
Francisco de Oliveira: "O Luiz
Carlos Bresser Pereira era muito
frequente nos debates (do Cebrap). Ele não era do Cebrap, mas
apoiou desde o princípio e tinha
uma posição muito aberta, o que
não ocorre hoje com os tucanos.
Como é que eles ficaram tão arrogantes? O Bresser levava cacetadas e acolhia com elegância. Discutia sem ressentimentos, sem
rancores e o Fernando Henrique
tinha uma posição muito generosa, que é outra das coisas que, volto a dizer, me surpreende; a arrogância que ele tem hoje".
José Serra: "Há 30 anos não folheio (o livro "Empresário Industrial e Desenvolvimento Econômico", de FHC) de novo. Quando
eu fiz o curso do ILPES, quem dava sociologia do desenvolvimento
era o Fernando Henrique, ajudado pelo Francisco Weffort. É bom
esclarecer isso porque às vezes se
pensa que sou da geração deles. O
livro era, em última instância,
pessimista. Aliás, referindo-se ao
Brasil, ele concluía: "No limite, fica
a pergunta: subcaptalismo ou socialismo?"."
Antônio Barros de Castro: "A
minha reação foi bastante negativa (em relação a dois livros de
FHC, "Empresário Industrial" e
"Dependência e Desenvolvimento"). Lembro-me, no entanto, que
não ficaram claros para mim, de
início, os motivos pelos quais a
leitura desses trabalhos provocava tamanho desconforto e rejeição."
João Sayad: "Acho que o "Dependência e Desenvolvimento" foi um livro importante. (...) Mas não sei se há
uma teoria da dependência, assim como há uma teoria da relatividade. Aí é uma outra coisa, aí se rompe
com um paradigma anterior. Não sei se a teoria da dependência é uma ruptura desse tamanho. Acho que
não é! Acho que nem o presidente da República acha
que é!".
Yoshiaki Nakano: "Na época, estava na moda (a
teoria da dependência, de FHC e Faletto), mas eu não
conseguia ver novidade, pelo menos do ponto de vista
de um economista".
Francisco Lopes: "Houve um debate interno muito
forte sobre a política cambial depois da crise mexicana de 1994. O debate envolveu basicamente o Banco
Central, o Serra, o (Pedro) Malan e o Edmar Bacha,
que ainda estava no BNDES, e mais raramente o Clóvis (Carvalho) e o presidente".
Aloízio Mercadante: "Eu tenho lido tudo o que o
Fernando Henrique escreve e fala, ainda que cada vez
goste menos. Eu sou obrigado a ler. (...) O Fernando
Henrique identificou que o empresariado brasileiro
se associava ao capitalismo internacional. Só que ele
acabou levando ao pé da letra o livro dele. Não é verdade que ele rompeu com muita coisa que ele escreveu. Ele está fazendo aquilo que aparentemente criticava, mas no fundo está promovendo o quê? Uma associação do capital nacional com o capital internacional, aprofundando o processo de subordinação".
Gustavo Franco: "Eu li os dois livros ("Empresário
Industrial" e "Dependência e Desenvolvimento').
Sempre gostei demais do Fernando Henrique sociólogo, mesmo naquela época, quando havia uma uniformidade oposicionista monumental e todos estavam
aprisionados pela linguagem marxista e pelas emanações do partidão. Do grupo do qual ele fazia parte,
com certeza, era aquele que tinha mais dúvidas e mais
liberdade para explorar novos caminhos".
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