São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
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Economistas falam da 'dependência'

da Reportagem Local

Criticado, ironizado, aplaudido, o presidente Fernando Henrique Cardoso acaba sendo um personagem importante no livro "Conversas com Economistas Brasileiros 2".
Ele aparece em histórias da época do regime militar, é citado como exemplo positivo e negativo, é lembrado como intelectual, suas teses e idéias são analisadas e discutidas. Também são recontadas suas disputas no Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) com outros intelectuais.
Um dos temas colocados no centro das entrevistas pelos autores do livro é exatamente a tese de FHC sobre a teoria da dependência, desenvolvida em conjunto com o sociólogo chileno Enzo Faletto, no livro "Dependência e Desenvolvimento da América Latina", publicado há 30 anos.
Leia nesta página alguns comentários sobre Fernando Henrique Cardoso feitos pelos economistas no livro.

Paul Singer: "(Nessa época,) Fernando já estava fora do Partido Comunista havia vários anos, mas ele foi muito influenciado pelo pensamento do Partido Comunista, do qual ele tinha sido membro. O pai dele era simpatizante... Ele saiu junto com uma grande parte da intelectualidade do próprio Partido Comunista, a partir do relatório Kruschev (o primeiro-ministro da então URSS que sucedeu a Stalin e o acusou de crimes políticos), em 1957."

Francisco de Oliveira: "O Luiz Carlos Bresser Pereira era muito frequente nos debates (do Cebrap). Ele não era do Cebrap, mas apoiou desde o princípio e tinha uma posição muito aberta, o que não ocorre hoje com os tucanos. Como é que eles ficaram tão arrogantes? O Bresser levava cacetadas e acolhia com elegância. Discutia sem ressentimentos, sem rancores e o Fernando Henrique tinha uma posição muito generosa, que é outra das coisas que, volto a dizer, me surpreende; a arrogância que ele tem hoje".

José Serra: "Há 30 anos não folheio (o livro "Empresário Industrial e Desenvolvimento Econômico", de FHC) de novo. Quando eu fiz o curso do ILPES, quem dava sociologia do desenvolvimento era o Fernando Henrique, ajudado pelo Francisco Weffort. É bom esclarecer isso porque às vezes se pensa que sou da geração deles. O livro era, em última instância, pessimista. Aliás, referindo-se ao Brasil, ele concluía: "No limite, fica a pergunta: subcaptalismo ou socialismo?"."

Antônio Barros de Castro: "A minha reação foi bastante negativa (em relação a dois livros de FHC, "Empresário Industrial" e "Dependência e Desenvolvimento"). Lembro-me, no entanto, que não ficaram claros para mim, de início, os motivos pelos quais a leitura desses trabalhos provocava tamanho desconforto e rejeição."

João Sayad: "Acho que o "Dependência e Desenvolvimento" foi um livro importante. (...) Mas não sei se há uma teoria da dependência, assim como há uma teoria da relatividade. Aí é uma outra coisa, aí se rompe com um paradigma anterior. Não sei se a teoria da dependência é uma ruptura desse tamanho. Acho que não é! Acho que nem o presidente da República acha que é!".

Yoshiaki Nakano: "Na época, estava na moda (a teoria da dependência, de FHC e Faletto), mas eu não conseguia ver novidade, pelo menos do ponto de vista de um economista".

Francisco Lopes: "Houve um debate interno muito forte sobre a política cambial depois da crise mexicana de 1994. O debate envolveu basicamente o Banco Central, o Serra, o (Pedro) Malan e o Edmar Bacha, que ainda estava no BNDES, e mais raramente o Clóvis (Carvalho) e o presidente".

Aloízio Mercadante: "Eu tenho lido tudo o que o Fernando Henrique escreve e fala, ainda que cada vez goste menos. Eu sou obrigado a ler. (...) O Fernando Henrique identificou que o empresariado brasileiro se associava ao capitalismo internacional. Só que ele acabou levando ao pé da letra o livro dele. Não é verdade que ele rompeu com muita coisa que ele escreveu. Ele está fazendo aquilo que aparentemente criticava, mas no fundo está promovendo o quê? Uma associação do capital nacional com o capital internacional, aprofundando o processo de subordinação".

Gustavo Franco: "Eu li os dois livros ("Empresário Industrial" e "Dependência e Desenvolvimento'). Sempre gostei demais do Fernando Henrique sociólogo, mesmo naquela época, quando havia uma uniformidade oposicionista monumental e todos estavam aprisionados pela linguagem marxista e pelas emanações do partidão. Do grupo do qual ele fazia parte, com certeza, era aquele que tinha mais dúvidas e mais liberdade para explorar novos caminhos".



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