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Conversas afiadas
Série reúne críticos como Philippe Sollers, Thomas Pavel, Antoine Compagnon e Alain Finkielkraut para debaterem o romance
PATRICK KÉCHICHIAN
Os críticos literários
com freqüência
estão cansados,
desanimados de
assumir esse nobre e minúsculo magistério que
consiste em avançar na direção
de obras e de autores com competência suficiente, sim, mas
sobretudo desejo e disponibilidade suficientes.
Em seu programa "Répliques" [Réplicas], na rádio
France Culture, Alain Finkielkraut não é um apresentador
que se contenta em segurar o
microfone: ele faz realmente
um trabalho de crítica, com sua
própria voz.
Aliás, quase não o vemos agir
de outro modo, pois o vigor e a
determinação de seu envolvimento parecem ter superado
qualquer cansaço e desânimo.
Poderes da literatura
A retomada em grande volume de entrevistas radiofônicas
neste "Ce Que Peut la Littérature [O Que Pode a Literatura,
Stock/Panama, 300 págs.,
18,50, R$ 50] é arriscada, mas
ao ler a transcrição (revisada e
emendada pelos interessados)
desses 12 debates que reuniram em cada uma das vezes,
além de Finkielkraut, dois convidados, felizmente predomina
a impressão de solidez e de verdadeiro diálogo. Impressão que
é reforçada pelo fato de que os
convidados defendem e promovem seus próprios livros -o
que dá a suas palavras uma liberdade revigorante.
No atual volume, primeiro
de uma série, é abordada principalmente a questão do romance e a dos poderes da literatura, que Finkielkraut resume citando Paul Ricoeur: "O
que saberíamos do amor e do
ódio, dos sentimentos éticos e,
em geral, de tudo o que chamamos de "eu" se não tivesse sido
transportado à linguagem e articulado pela literatura?".
Mona Ozouf e Pierre Manent, na estréia, sobre Henry
James; Suzanne Julliard e Bertrand Visage a propósito de "O
Primeiro Homem" [ed. Nova
Fronteira], de Camus ("A expressão de uma literatura que
não se separa de ninguém", diz
com excelência Visage); Claude
Habib e Pierre Pachet sobre
"Desonra" [Cia. das Letras], de
J.M. Coetzee; Geneviève Brisac
e Valérie Zenatti a propósito de
Aharon Appelfeld; Pierre Pachet novamente e Michel Aucouturier sobre Boris Pasternak; Antoine Compagnon e
Eric Marty sobre Roland Barthes e o romance; Thomas Pavel e Marc Fumaroli dividindo
o "gosto pelos clássicos"; Jacques Roubaud e Jacques Garelli definem o "lugar dos poetas"... São apenas alguns dos temas não somente abordados,
mas realmente desenvolvidos.
Os intercâmbios às vezes podem ser contraditórios e francos, e Alain Finkielkraut toma
partido animadamente, como
no "caso Aragon", com Daniel
Bougnoux e François Taillandier, ou ainda mais sobre Céline, com Philippe Sollers no papel do advogado e Jean-Pierre
Martin. Sobre Céline, Finkielkraut lembra a bela e justa frase de Gracq: "Há em Céline um
homem que se pôs a marchar
atrás de seu clarim".
Disjunção
E esta outra, a propósito de
Barthes: "Não é na literatura
que se opera (...) a disjunção entre antigos e modernos, mas
entre a literatura como santuário de delicadeza e a grossura
florescente".
Este texto saiu no "Monde".
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.
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