São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

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POR MARCELO COELHO

O QUE LER

Retrato do Artista Quando Jovem Cão
de Dylan Thomas, trad. Hélio Pólvora, ed. José Olympio (tel. 0/ xx/21/2585-2060), 150 págs., R$ 20,00.
Nestes contos, um dos mais importantes poetas do século 20 relembra uma infância de alucinada vitalidade entre acampamentos na praia, corridas no meio do mato, casarões de fazenda, parentes pobres, prazeres e revelações.

Mar Inquieto
de Yukio Mishima, trad. Leiko Gotoda, Companhia das Letras, 168 págs., R$ 26,00.
Conhecido pelo extremo tradicionalismo político e pelas tonalidades mórbidas de suas preferências sexuais, o escritor japonês (1925-70) narra aqui, com arte precisa, uma história de amor muito simples numa comunidade de pescadores mais simples ainda.

Middlemarch
de George Eliot, trad. Leonardo Fróes, ed. Record (tel. 0/xx/21/ 2585-2000), 882 págs., R$ 70,00.
Este romance clássico ainda não tem entre nós a fama que merece. A autora (1819-1880) descreve a vida provinciana, com seus velhos pedantes, seus moços simplórios, suas mulheres românticas, práticas ou frívolas, num livro extraordinário pela inteligência, pelo afeto e pela acuidade moral -numa palavra, pela compreensão- com que trata seus personagens.

A Companhia dos Filósofos
de Roger-Pol Droit, trad. Eduardo Brandão, ed. Martins Fontes (tel. 0/xx/11/3241-3677), 434 págs., R$ 42,50.
Seguindo o bem-sucedido exemplo do "Pequeno Tratado das Grandes Virtudes", de André Comte-Sponville, a Martins Fontes publica mais um livro de discussão filosófica acessível e interessante. Professor universitário e colaborador do "Le Monde", Roger Pol-Droit comenta a obra de vários filósofos célebres e de outros nem tanto.

Pinóquio - Um Livro Paralelo
de Giorgio Manganelli, trad. Eduardo Brandão, Companhia das Letras , 200 págs., R$ 27,50.
Esse texto inovador, que aparentemente se propõe a comentar o clássico infantil de [Carlo Lorenzini] Collodi (1826-90), em poucas páginas se ramifica em especulações sobre a religião, o Estado, a literatura, sem perder nunca o tom jocoso, a imaginação desnorteante, a felicidade intelectual.

O QUE NÃO LER

Da Alvorada à Decadência
de Jacques Barzun, trad. Álvaro Cabral, ed. Campus, 928 págs., R$ 119,00.
Um mastodôntico panorama da história da civilização ocidental de 1500 até hoje, sob uma ótica ultraconservadora. Num misto de falso alarme, autocongratulação e santimônia, o autor condena como sinais dos tempos, e com igual seriedade, tanto a literatura de Joyce quanto a moda dos jeans desbotados.

O Universo numa Casca de Noz
de Stephen Hawking, trad. Ivo Korypowski, ed. Arx, 216 págs., R$ 38,50.
Muito ilustrado e com algumas piadinhas, este livro tenta explicar de forma ultra-sintética os mistérios da física. Por medo de cansar o leitor com frases longas e raciocínios um pouco mais elaborados, o texto se torna atrapalhadíssimo e incompreensível, como se alguém tivesse enfiado o universo inteiro num buraco negro.

A Casa dos Espíritos
de Isabel Allende, trad. Carlso Martins Pereira, ed. Bertrand, 448 págs., R$ 49,00.
Este sucesso da literatura latino-americana, reeditado agora, apresentava-se nos anos 80 como uma versão feminina e requintada do realismo fantástico; mas o tom poético dos capítulos iniciais vai cedendo a uma banalidade que a obra posterior da autora só fez confirmar.

A Construção Social da Realidade
de Thomas Luckmann e Peter L. Berger, trad. Floriano de Souza Fernandes, ed. Vozes, 247 págs., R$ 27,80.
Levei este livro para ler em três férias consecutivas, e nunca consegui passar da página 40. Bastante citado, este "tratado de sociologia do conhecimento", como diz seu subtítulo, está entre os textos mais tediosos com que já me debati na vida.

A Divina Comédia
de Dante Alighieri, trad. Fábio M. Alberti, ed. Nova Cultural (428 págs., R$ 9,90), editora 34 (3 vols., R$ 56,00, tel. 0/xx/11/3816-6777), ed. Cultrix (336 págs., R$ 26,00, tel. 0/xx/11/272-1399).
Claro que é para ler. Mas não perca as férias experimentando a tradução em prosa que está à venda nas bancas por R$ 9,90. Procure as traduções em verso, completas (ed. 34, ed. Itatiaia), ou parciais (Henriqueta Lisboa, "Purgatório", Haroldo de Campos, "Cantos do Paraíso"), se possível ao lado de alguma edição bem anotada do original italiano, disponível em sebos a baixo preço.

Marcelo Coelho é colunista da Folha e autor de, entre outros, "Folha Explica Montaigne" (ed. Publifolha).


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