São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002
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POR PETER PÁL PELBART O QUE LER PanAmérica de José Agrippino de Paula, editora Papagaio (tel. 0/xx/11/3051-5544), 258 págs., R$ 25,00. Com irreverência hilariante, este livro escrito nos anos 60 e reeditado há pouco brinca com os clichês da cultura de massas e reaviva o horizonte que constituiu a sensibilidade brasileira das décadas subsequentes. Extinção de Thomas Bernhard, trad. José Marcos Macedo, Companhia das Letras, 480 págs., R$ 45,00. Num único parágrafo ofegante e siderado, o autor austríaco aciona sua metralhadora giratória contra a sociedade burguesa e, como em toda sua obra, é a literatura a serviço da extinção, isto é, da salvação. Homo Sacer de Giorgio Agamben, trad. Henrique Burigo, editora UFMG, 214 págs., R$ 30,00. Com erudição e fineza, o filósofo italiano disseca o estatuto ambíguo da vida ontem e hoje, localizando no campo de concentração o paradigma biopolítico contemporâneo. A ser lido à luz do estado de exceção no mundo pós-11 de setembro, de Guantánamo a Ramallah. O Homem Pós-Orgânico de Paula Sibilia, ed. Relume-Dumará (tel. 0/xx/21/2564-6869), 232 págs., R$ 28,00. O velho corpo humano, tão primitivo e obsoleto diante da nova matriz tecnocientífica, é o ponto onde o sonho prometéico torna-se projeto fáustico de remodelação infinita. A transformação do corpo num pacote de informações, as tecnologias da imortalidade, a tendência a um corpo pós-biológico são os temas da introdução a esse panorama inescapável. Espinosa - Filosofia Prática de Gilles Deleuze, trad. Daniel Lins, editora Escuta (tel. 0/xx/11/ 3825-8573), 144 págs., R$ 21,00. Finalmente sai em tradução brasileira essa pequena jóia, que não cessa de reinventar seus efeitos e leitores. Uma introdução singular a Espinosa através de suas teses práticas: contra a moral, as paixões tristes, a consciência, uma filosofia que redescobre a potência do corpo, a alegria ética e o "inconsciente" do pensamento. O QUE NÃO LER O Choque de Civilizações de Samuel Huntington, trad. M.H.C. Côrtes, editora Objetiva, 456 págs., R$ 45,90. Para quem busca a visão mais simplista e preconceituosa sobre a relação entre o Ocidente e o islã, a partir da suposta incompatibilidade entre as culturas. Pode servir de guia ao presidente Bush, mas também aos membros da Al Qaeda... Nietzsche - Biografia de uma Tragédia de Rüdiger Safranski, trad. Lya Luft, Geração Editorial (0/xx/11/3872-0984), 364 págs., R$ 27,30. Onde a biografia se confunde com mistificação. Construção de um Nietzsche fenomenólogo e existencial, próximo de Heidegger. Tagarelices sobre o inaudito se alternam com juízos peremptórios sobre os "erros" do filósofo, seu pretenso darwinismo, biologismo e anti-humanismo, reativando clichês que pensávamos definitivamente superados. Fragmentos - Memórias da uma Infância 1939-1948 de Binjamin Wilkomirski, trad. Sérgio Tellaroli, Companhia das Letras, 214 págs., R$ 16,60. A impostura do século. O autor desta falsa autobiografia nunca esteve em Auschwitz quando criança, jamais experimentou a vida do campo, mas, com suas "memórias", semeou confusão entre os sobreviventes e dedicados estudiosos do Holocausto. Partículas Elementares de Michel Houellebecq, trad. Juremir Machado Freire, editora Sulina (tel. 0/xx/ 51/ 3333-3345), 340 págs., R$ 35,00. O polêmico escritor francês usa seu virtuosismo, neste romance e no seguinte, para suscitar um voyeurismo duvidoso, através de preconceitos sexuais e raciais, pseudomeditações científicas e uma literatura de apelação. A Ilusão Vital de Jean Baudrillard, trad. Luciano Trigo, editora Civilização Brasileira, 96 págs., R$ 17,00. Com o costumeiro deleite niilista, o autor continua dissecando o que ele chama de "Cadáver do Real". Onde o médico e o monstro se confundem. Peter Pál Pelbart é filósofo, tradutor de Deleuze para o português e autor de "O Tempo Não-Reconciliado" (ed. Perspectiva) e "A Vertigem por um Fio" (ed. Iluminuras). Texto Anterior: por Teixeira Coelho Próximo Texto: por Beatriz Resende Índice |
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