São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

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POR BEATRIZ RESENDE

O QUE LER

As Ilusões Armadas
de Elio Gaspari, Companhia das Letras, vol. 1 ("A Ditadura Envergonhada", 424 págs., R$ 40,00) e vol. 2 ("A Ditadura Escancarada", 512 págs., R$ 44,00).
Minha cesta básica começaria pelo óbvio e imperdível: os dois volumes de Elio Gaspari. Neles, a pesquisa impecável se transforma em livro que captura o leitor pela emoção. Para além do depoimento ou do registro jornalístico minucioso, inclusive com fotos incomuns, estamos diante de um trabalho absolutamente autoral.

Tragédia Moderna
de Raymond Williams, trad. Betina Bischof, ed. Cosac & Naify, 272 págs., R$ 39,00.
Ainda para ser lido naquela parte das férias ou feriados em que planejamos colocar leituras mais sérias em dia, sugiro o excelente estudo de Raymond Williams. Williams foi um dos criadores dos estudos culturais, na Grã-Bretanha, e é autor de obras de crítica da cultura e da literatura como "O Campo e a Cidade" (Companhia das Letras).

Contos Reunidos e O Espelho Partido
de Marques Rebelo, ambos pela Nova Fronteira. "Contos Reunidos" (384 págs., R$ 46,00) e "O Espelho Partido" ("O Trapicheiro", 504 págs., R$ 48,00; "A Mudança", 592 págs., R$ 48,00; e "A Guerra Está entre Nós", 608 págs., R$ 49,00".
Merece destaque a volta de Marques Rebelo com os três tomos que compõem "O Espelho Partido" e os "Contos Reunidos". Este último nos traz o prazer de reencontrar "Oscarina", "Stela me Abriu a Porta", "Caprichosos da Tijuca" e "Cenas da Vida Carioca". É preciso dizer mais?

eles eram muitos cavalos
de Luiz Ruffato, ed. Boitempo, 152 págs., R$ 22,00.
A narrativa brasileira vem revelando mais um sopro de renovação com propostas ousadas de jovens escritores, críticos implacáveis do cotidiano das grandes cidades. Uma das mais originais obras narrativas recentemente publicadas é "eles eram muitos cavalos".

Nove Noites
de Bernardo Carvalho, Companhia das Letras, 176 págs., R$ 28,00.
Finalmente o que me parece ser o melhor romance que um de meus autores contemporâneos favoritos já escreveu. Sempre a angustiante questão da dissolução e da busca da identidade, de identidades múltiplas e cambiantes. Em "Nove Noites" o tema fica menos hermético, sem perder a contundência, em relatos de registros múltiplos que são literatura no estado mais puro. Dói, mas é belo.

O QUE NÃO LER

Poesia numa Hora Dessas?
de Luiz Fernando Veríssimo, ed. Objetiva, 108 págs., R$ 24,90.
Merece bem o espanto. Cronista genial, capaz de dar conta do cotidiano mais banal, da vida política da república ou da obra de Shakespeare em umas dez ou doze linhas, não precisa ocupar todos os nichos do mercado editorial. Melhor deixar escapar o das gracinhas poéticas.

Ramsés e Nefertiti & Akhenaton
de Christian Jacq, trad. Maria D. Alexandre, ed. Bertrand, cinco volumes (Ramsés).
Não percam tempo ou dinheiro com a série. Ai, que dó eu sinto diante daquela dispendiosa capa em preto e dourado de "Nefertiti & Akhenaton". Fico pensando nos bons autores inéditos e nas pobres árvores de nossas florestas!

Sartre em 90 Minutos
de Paul Strathern, trad. Marcus Penchel, ed. Jorge Zahar (tel. 0/ xx/21/2240-0226), 88 págs., R$ 10,00.
Nem percam vários 90 minutos com pílulas de filósofos e cientistas. Não que a idéia seja ruim, tem até sua graça e poderia ser provocadora, mas, convenhamos, é muita pretensão de Paul Strathern dar conta do vasto elenco escolhido.

O Homem Duplicado
de José Saramago, Companhia das Letras, 320 págs., R$ 36,00.
Passando para outro registro e com todo respeito ao justíssimo Prêmio Nobel atribuído ao companheiro Saramago, "O Homem Duplicado" não justifica, no verão, o esforço de escalarmos todos aqueles capítulos sem parágrafos.

Alguma Poesia
de Carlos Drummond de Andrade, ed. Record, 156 págs., R$ 17,00.
Finalmente, ao terminarem as comemorações dos cem anos de Drummond, sugiro que deixemos em paz, por um tempo, seus principais poemas, especialmente os de "Alguma Poesia", que já foram lidos em público até por seu Creysson. Não se podem saborear ostras ou salmão defumado todos os dias. Há jejuns que apuram o paladar.

Beatriz Resende é professora da UniRio e pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de "Apontamentos de Crítica Cultural" (DNL/Aeroplano).


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