São Paulo, domingo, 16 de agosto de 2009 |
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A Ascensão das oficinas literárias
CRESCE A PROCURA NO PAÍS POR CURSOS QUE ENSINAM TÉCNICAS NARRATIVAS; NO RIO GRANDE DO SUL, PROGRAMAS TRADICIONAIS JÁ PRODUZIRAM UMA NOVA GERAÇÃO DE ESCRITORES COM "DIPLOMA DE AUTOR"
ERNANE GUIMARÃES NETO DA REDAÇÃO
O Brasil vive a emergência de um movimento literário:
o dos escritores
com diploma de
autor. Centros culturais com
lotação esgotada e professores
particulares com fila de espera
caracterizam a vicejante versão
brasileira da disciplina "creative writing" (escrita criativa)
das universidades norte-americanas. Os resultados são semelhantes: escritores reconhecidos pela crítica e premiados
nos concursos de literatura.
Diploma de autor O escritor Evandro Affonso Ferreira teve em julho sua primeira experiência como professor de ficção, na Casa das Rosas. "Você não constrói um artista", diz à reportagem, mantendo a aura dos escritores. "O curso é um exercício de leitura, dá caminhos". O ataque mais comum à oficina a reduz a nada mais do que um trabalho que todo intelectual já deveria fazer em casa: ler. Na pior das hipóteses, é vista como uma sessão de ajuda mútua pautada por elogios superficiais entre os alunos. Charles Kiefer, que leciona escrita criativa na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, diz que na academia a crítica ao texto alheio é rigorosa. "Não sou pago para ser hipócrita." A PUC-RS, que mantém oficinas há mais de 20 anos, abriu em 2006 o eixo de escrita criativa na graduação. As turmas tiveram de ser ampliadas para dar conta da demanda. O professor Luiz Antonio de Assis Brasil, que comemora também a criação do mestrado no tema, integra com Kiefer o que pode ser visto como o atual centro nervoso das oficinas de escrita gaúchas, das quais saíram nomes como Cíntia Moscovich, Daniel Galera e Michel Laub. Kiefer mantém uma das mais procuradas oficinas de escrita do Brasil. "Tenho mais de 1.200 pessoas na lista de espera", diz. E conjectura: "A internet é que está gerando a demanda enorme no Brasil. Todo mundo tem blog, todo mundo escreve, mas uma hora se dá conta de que precisa estudar, avançar". "A formação do escritor inclui ler muito, conhecer a crítica e, podendo, fazer um curso de escrita", diz Assis Brasil. Para ele, editores consideram esse item na biografia do autor quando apreciam originais. O músico, editor e autor premiado com o Jabuti de ficção Arthur Nestrovski estudou música e letras em Iowa e não participou das célebres oficinas de escrita daquela universidade, mas declara ter visto uma "convivência rica, produtiva" entre as comunidades de teoria e prática. Ele diz duvidar de que tais diplomas tenham poder de convencimento sobre o mercado brasileiro de publicação. Veterano das oficinas, o crítico Silviano Santiago afirma que a universidade brasileira não está preparada para diplomas de graduação em escrita. "Que concurso você poderá prestar com um diploma desses?" No fim da história, todas as personagens se obrigam a concordar que escola não faz gênio, mas pode desenvolver pessoas interessadas. Cabe ao aluno escolher o professor. Texto Anterior: +(r)éplica: O espanto de Bense Próximo Texto: O modelo americano Índice |
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