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Em busca do Eldorado
Cientista sem meias palavras
Conselheiro
de d. João 6º, mas acusado
de ajudar
os franceses, Vandelli foi desterrado para os Açores
DA SUCURSAL DO RIO
Domenico Vandelli
já era um cientista
renomado na Europa quando chegou a Portugal, em
1764, acompanhado de outros
italianos, entre eles o jardineiro-botânico Julio Mattiazzi,
que seria o responsável por cuidar do Jardim Botânico da Ajuda e por organizar as remessas
vindas dos correspondentes no
Brasil.
Cinco anos antes, Vandelli
mandara a Lineu sua descrição
de uma espécie de tartaruga,
recebendo do mestre uma
aprovação entusiasmada. Publicada em 1761, a epístola teve
grande repercussão.
Mas a especialização do saber, característica do século 20,
era algo ainda fora de questão.
Os membros da Academia
Real das Ciências de Lisboa
opinavam em diversas áreas,
escrevendo, por exemplo, as
"Memórias Econômicas", nas
quais Vandelli colaborou ativamente. Ele se tornou, oficialmente, conselheiro da realeza
em 1799, nomeado por d. João
6º, alçado a príncipe-regente
por causa da insanidade mental da mãe, d. Maria 1ª.
Nas memórias que escreve
para d. João, ele não pisa em
ovos: propõe demissão de ministros, diz que os gastos pessoais do regente devem diminuir e opina sobre as alianças
internacionais de Portugal. Esse ponto iria lhe custar caro.
Vandelli não era francófilo e
suas opiniões variavam de
acordo com a conjuntura. Ele
era pragmático, e sabia que as
tropas portuguesas não teriam
a menor chance contra as de
Napoleão. "Se esperará que
chegue o Exército francês para
fazer a paz?", perguntou ele
numa memória.
"Vale mais agora dar-se dez
que depois por força cem, ou
tudo, segundo a vontade do
vencedor", aconselhou.
Vandelli defendia, principalmente, que o Brasil fosse preservado como colônia portuguesa. "Mas nunca lhes [aos
franceses] seja livre a navegação do rio das Amazonas; ao
contrário, se lhes conceda tudo
o que Portugal possui na Ásia;
mas conclua-se de uma vez essa irremediável paz".
Em alguns momentos, escreveu que não havia problema
em Portugal se manter fiel à
Inglaterra, contanto que esta
lhe garantisse proteção contra
França e Espanha -algo em
que, talvez, ele não acreditasse
muito. "Com o insignificante
socorro inglês e com o nosso
exército se poderá resistir aos
franceses e castelhanos unidos", afirmou em 1796.
Prisão
Quando a família real rumou
para o Brasil a fim de escapar de
Napoleão, ele ficou. Passou a
ser acusado por portugueses de
"afrancesado" e de ter entregue
aos invasores franceses o acervo de história natural do complexo da Ajuda, em Lisboa.
Foi preso em 1810, com seu
filho Alexandre António Vandelli, e desterrado para os Açores. No ano seguinte, o naturalista inglês Joseph Banks conseguiu autorização para levá-lo
para seu país. Vandelli só voltaria para Portugal em 1815, com
a derrota de Napoleão.
No ano seguinte, quando
morreu, seu projeto, iniciado
três décadas antes, ganhou outras línguas, já que caiu a proibição de expedições estrangeiras ao Brasil.
Vieram, então, o francês Auguste de Saint-Hilaire (com o
pintor Debret) em 1816; o alemão Johann von Spix e o austríaco Karl von Martius em
1817; e o alemão Heinrich von
Langsdorf em 1824.
Localizada pelas pesquisadoras no Museu de História Natural de Paris, a lista do que o naturalista Geoffroy Saint-Hilaire encontrou no complexo da
Ajuda e levou para a França
-segundo ele, apenas itens duplicados, o que inocentaria
Vandelli- aponta 2.855 peças.
São, por exemplo, 35 oriundas de Goa, 88 da Conchinchina
(sul do Vietnã), 182 de Uppsala
(cidade sueca onde viveu Lineu) e 1.400 do Brasil. A superioridade numérica traduz o
que significava o Brasil para o
cientista italiano.
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