UOL


São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LEOPOLDO BERNUCCI

[EUA]

1. Deixei o Brasil depois de trabalhar como professor de inglês e administrador geral de uma firma importadora de produtos químicos.

2. Depois de me formar em letras pela USP em 1976, trabalhei dois anos mais no setor administrativo, sem perder de vista a perspectiva de poder estudar literatura hispano-americana nos Estados Unidos. Solicitei a minha admissão à Universidade de Michigan para o programa de mestrado. A razão era simples: eu queria estudar com um professor chileno, Cedomil Goic, radicado nos Estados Unidos. Foi uma das melhores escolhas que eu já fiz na minha vida.

3. Não. Hoje, a imagem que se tem do Brasil aqui é muito diferente daquela do Carnaval e do futebol. Obviamente, precisamos setorizar a opinião. O povo americano em geral ainda vê o país pela perspectiva exótica. No setor acadêmico, que é o meu, o Brasil atual é respeitado e, justamente agora, durante o governo Lula, o país tem sido reverenciado e apreciado. Isso começou no governo do FHC e, se tudo continuar assim como estamos observando, o respeito será ainda maior pelo nosso país.

4. As diferenças são radicais quanto a salários. O salário aqui é negociável durante a contratação de um professor. Os aumentos salariais anuais são dados tendo como princípio básico o mérito (produção acadêmica na área de pesquisa, ensino e serviço). Predomina ainda o mote "publish or perish". As condições de trabalho são quase idênticas, exceto pelo acesso às grandes bibliotecas. A Biblioteca Nacional do Rio é uma jóia única. Há outras menores muito boas também, mas não tão completas em qualidade e quantidade como as das universidades norte-americanas.

5. Na área de literatura brasileira, a diferença é muito grande. Há muito poucos pesquisadores aqui que se dedicam a esse campo quando comparamos, por exemplo, as áreas de literatura com as de ciências sociais, história ou sociologia. Proporcionalmente ao grande número de professores hispânicos em literatura, há um número muito pequeno de professores universitários brasileiros lecionando nos Estados Unidos. Uma de minhas funções como "chairman" recém-contratado na Universidade do Texas é reverter esse processo.

6. Não. Ao contrário, sempre fui tratado com muita dignidade e respeito. E sempre gostei de fazer questão de dizer que "sou brasileiro". Sinto-me perfeitamente adaptado ao ambiente norte-americano e também, é claro, ao brasileiro. Meus três filhos emblematizam essa duplicidade: são cidadãos brasileiros e americanos; o que quer dizer que, muito em breve, serão cidadãos do mundo.

7. Sempre estou voltando ao Brasil. Viajo ao meu país pelo menos duas vezes ao ano para desenvolver pesquisas, dar conferências e rever familiares e amigos. Morar definitivamente no Brasil? Só depois de aposentado. Duas razões: (1) tenho como missão profissional lutar para melhorar a visibilidade e qualidade do ensino do português e da literatura brasileira no meu departamento da Universidade do Texas, em Austin; (2) os meus filhos ainda dependem de mim e portanto, daqui a 15 anos, estarei mais livre para retornar e viver o que me restar da vida nessa boa terra.


Os aumentos salariais anuais são dados tendo como princípio básico o mérito; predomina ainda o mote "publique ou pereça"


Professor de literatura brasileira, 50
Universidade do Texas
Deixou o Brasil em: 1978
Principais obras: Edição comentada de "Os Sertões" (Ateliê Editorial) e "A Imitação dos Sentidos" (Edusp)



Texto Anterior: [FRANÇA]: Luiz Felipe de Alencastro
Próximo Texto: Ponto de fuga: A imagem do historiador
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.