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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO

[FRANÇA]

1. Quando deixei o Brasil, era professor adjunto de história no Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).

2. Vim, por um ano, como professor convidado de história do Brasil na Universidade de Paris 4 (Sorbonne). Depois, quando foi aberto o concurso para professor titular da cátedra, percebi que tinha mais chances de me tornar professor titular aqui do que na Unicamp ou na USP.

3. Isso mudou. Desde o impeachment de Collor (1992), feito na mais perfeita legalidade constitucional, o Brasil tem demonstrado muita maturidade política. Os dois governos de Fernando Henrique Cardoso, os fóruns de Porto Alegre e a eleição de Lula confirmaram a solidez das instituições democráticas no país. O Brasil é visto como um país democrático e inovador numa região atravessada por impasses políticos. No meio universitário há respeito pelo Brasil. Estive durante um semestre na Universidade Brown (EUA) e também tive essa impressão. Somando tudo, já vivi uns 25 anos fora do país e creio que nunca o Brasil foi tão respeitado como agora por estas plagas.

4. O salário universitário é melhor do que no Brasil. Paris é uma cidade cara, mas é claro que a qualidade de vida compensa. Quanto às condições de trabalho, o número de aulas devidas é o mesmo que nas universidades paulistas. A sobrecarga vem da orientação de teses de mestrado e doutorado, visto que aqui, ao contrário do que ocorre no Brasil, somente o professor titular pode orientar teses. Por isso, tem mais trabalho.

5. Com a Biblioteca Nacional e outras, Paris oferece lugares privilegiados para a pesquisa. Mas eu também gostava de trabalhar nas bibliotecas da Unicamp, que têm bastante livros e boas revistas científicas. Aqui, conseguir créditos de pesquisa para a área de história do Brasil é dureza, porque há muita concorrência. Nesse plano, graças à generosidade da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e ao prestígio da Unicamp e do Cebrap, as coisas eram mais fáceis em São Paulo.

6. Em nenhum momento. Vim porque fui convidado. Prestei concurso diante de bancas de catedráticos que não me conheciam e me beneficio da simpatia dos colegas.

7. Bom, como diria o outro, lugar de historiador brasileiro é no Brasil. A história do Brasil e as coisas com que eu trabalho são recebidas pelos estudantes e meus colegas daqui apenas como uma prova suplementar da diversidade do mundo. Enquanto no Brasil elas são vistas como a essência das pessoas, como parte integrante do passado e do futuro do país.


O Brasil é visto como um país democrático e inovador em uma região atravessada por conflitos


Historiador, 57
Universidade de Paris 4
Deixou o Brasil em: 1999
Principais obras: "O Trato dos Viventes"; co-autor de "Rio de Janeiro - Cidade Mestiça" (ambos pela Companhia das Letras)



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