São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 2005

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Esporte - Terapia de choques

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

O ano de 2006 é ano de Copa do Mundo. Basta, portanto, que a seleção brasileira traga a taça pela sexta vez que tudo estará resolvido, certo?
Errado, e bote errado nisso.
Porque, se estivesse certo, há muito tempo, desde 1958, os problemas do futebol brasileiro estariam resolvidos. E não foram resolvidos então, como também não foram em 1962, 1970, 1994 e 2002.
Preferível será perder, dirá o adepto do quanto pior melhor, outro equívoco cometido por quem imagina que a derrota derrubaria o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o eterno Ricardo Teixeira. Afinal, sob seu comando, a seleção voltou humilhada em 1990 e envolta em mistérios e escândalos no fracasso de 1998. Nem por isso ele caiu.
O que falta ao futebol -e ao esporte brasileiro em geral- são dois choques.
Um de democracia, porque nossos cartolas se eternizam em seus postos, mesmo quando se elegem em nome do rodízio no poder.

A era do capital
O presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), Carlos Nuzman, por exemplo, comete os mesmos pecados que o da CBF, embora com mais competência e menor repercussão (não lida com o futebol, é claro), apesar de lidar com dinheiro público, algo que a CBF deixou de fazer para ficar menos vulnerável.
O segundo choque necessário é o do capitalismo.
O esporte brasileiro ainda vive no modelo das capitanias hereditárias, e nada indica que haja mudança pela frente, ainda mais num ano de copa e de eleições presidenciais.
Basta dizer que os dois últimos presidentes da República, FHC e Lula, foram eleitos contra a vontade do poder estabelecido no esporte.
FHC ainda deu um belo susto na cartolagem em seu primeiro mandato, mas, depois, se acomodou, para reagir apenas no oitavo ano de sua gestão, quando engendrou o Estatuto do Torcedor e a Lei da Moralização do Esporte.
Leis que, justiça seja feita, foram as primeiras assinadas por Lula, muito mais interessado em esporte que seu antecessor, torcedor de arquibancada no futebol.
Mas Lula e seu medíocre ministro do Esporte não demoraram a botar os pés pelas mãos, no deslumbramento geral que tomou conta do governo federal.
Nada indica que ele reagirá em seu último ano.
E as soluções são simples e há muito diagnosticadas: profissionalização dos dirigentes, clube-empresa, dinheiro público para incluir os brasileiros nas práticas esportivas, dinheiro privado para os esportes de competição, autonomia das arbitragens e dos tribunais de Justiça desportiva, medidas rigorosas para coibir a violência dos torcedores.
O ano de 2006 está aí, e podemos olhar para o novo ano com otimismo quando pensamos em Ronaldinho Gaúcho, nos homens e mulheres do vôlei, da ginástica (quem diria?!) e até, quem sabe, no Guga, que promete voltar a dar alegrias.
Mas nada autoriza supor que serão tomadas as medidas óbvias para civilizar o nosso esporte. Sim, óbvias, porque nem sequer é preciso ser criativo para dar jeito na superestrutura esportiva nacional, talvez a última que mude no Brasil, tão conservadora, tão reacionária, tão corrupta e corruptora que é.
Felizmente, no futebol, teremos novo Campeonato Brasileiro em sistema de pontos corridos e com apenas 20 clubes.
Deverá ser o melhor da história, se não aparecer um novo Edilson [Pereira de Carvalho]...


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