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Esporte - Terapia de choques
JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA
O
ano de 2006 é ano de Copa
do Mundo. Basta, portanto, que a seleção brasileira
traga a taça pela sexta vez
que tudo estará resolvido, certo?
Errado, e bote errado nisso.
Porque, se estivesse certo, há muito tempo, desde 1958, os problemas
do futebol brasileiro estariam resolvidos. E não foram resolvidos então,
como também não foram em 1962,
1970, 1994 e 2002.
Preferível será perder, dirá o adepto do quanto pior melhor, outro
equívoco cometido por quem imagina que a derrota derrubaria o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o eterno Ricardo
Teixeira. Afinal, sob seu comando, a
seleção voltou humilhada em 1990 e
envolta em mistérios e escândalos
no fracasso de 1998. Nem por isso ele
caiu.
O que falta ao futebol -e ao esporte brasileiro em geral- são dois
choques.
Um de democracia, porque nossos
cartolas se eternizam em seus postos, mesmo quando se elegem em
nome do rodízio no poder.
A era do capital
O presidente do COB (Comitê
Olímpico Brasileiro), Carlos Nuzman, por exemplo, comete os mesmos pecados que o da CBF, embora
com mais competência e menor repercussão (não lida com o futebol, é
claro), apesar de lidar com dinheiro
público, algo que a CBF deixou de
fazer para ficar menos vulnerável.
O segundo choque necessário é o
do capitalismo.
O esporte brasileiro ainda vive no
modelo das capitanias hereditárias,
e nada indica que haja mudança pela
frente, ainda mais num ano de copa
e de eleições presidenciais.
Basta dizer que os dois últimos
presidentes da República, FHC e Lula, foram eleitos contra a vontade do
poder estabelecido no esporte.
FHC ainda deu um belo susto na
cartolagem em seu primeiro mandato, mas, depois, se acomodou, para
reagir apenas no oitavo ano de sua
gestão, quando engendrou o Estatuto do Torcedor e a Lei da Moralização do Esporte.
Leis que, justiça seja feita, foram as
primeiras assinadas por Lula, muito
mais interessado em esporte que seu
antecessor, torcedor de arquibancada no futebol.
Mas Lula e seu medíocre ministro
do Esporte não demoraram a botar
os pés pelas mãos, no deslumbramento geral que tomou conta do governo federal.
Nada indica que ele reagirá em seu
último ano.
E as soluções são simples e há muito diagnosticadas: profissionalização dos dirigentes, clube-empresa,
dinheiro público para incluir os brasileiros nas práticas esportivas, dinheiro privado para os esportes de
competição, autonomia das arbitragens e dos tribunais de Justiça desportiva, medidas rigorosas para coibir a violência dos torcedores.
O ano de 2006 está aí, e podemos
olhar para o novo ano com otimismo quando pensamos em Ronaldinho Gaúcho, nos homens e mulheres do vôlei, da ginástica (quem diria?!) e até, quem sabe, no Guga, que
promete voltar a dar alegrias.
Mas nada autoriza supor que serão
tomadas as medidas óbvias para civilizar o nosso esporte. Sim, óbvias,
porque nem sequer é preciso ser
criativo para dar jeito na superestrutura esportiva nacional, talvez a última que mude no Brasil, tão conservadora, tão reacionária, tão corrupta
e corruptora que é.
Felizmente, no futebol, teremos
novo Campeonato Brasileiro em sistema de pontos corridos e com apenas 20 clubes.
Deverá ser o melhor da história, se
não aparecer um novo Edilson [Pereira de Carvalho]...
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