São Paulo, domingo, 19 de junho de 2005

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Biblioteca básica

O Capital

RICARDO ANTUNES
ESPECIAL PARA A FOLHA

No início dos anos 70, ingressei na Fundação Getúlio Vargas-SP, na melhor escola de administração da América Latina. Lá esperava aprender a gerir o capital. Foi quando me deparei com uma outra obra, homônima, de efeito devastador.
Magistral, "O Capital" foi escrito em três volumes (coube a Engels completá-lo), tornando-se um marco no pensamento e análise crítica da economia política contemporânea. Aqui vale tão somente uma anotação seminal.
O empreendimento marxiano devassa a forma-mercadoria. Captou seus movimentos mais simples e mais complexos, apreendeu suas conexões mais íntimas, reconfigurando-as em uma rica e complexa totalidade. Tudo ao contrário do que seria uma construção a priori.
Sua análise do fetichismo é, ainda, de excepcional atualidade, nessa era que cultua o involucral, o fenomênico e o supérfluo. O caráter misterioso da forma-mercadoria, diz Marx, mascara uma relação social existente entre seres sociais, que acabam assumindo uma "forma fantasmagórica de uma relação entre coisas". Um mundo da "coisidade", como se as mercadorias tivessem vida própria e fossem os agentes reais.
Obra clássica, realiza uma desconstrução monumental do edifício teórico do mercado e do capital. E que, por isso, é freqüentemente enterrada.


Ricardo Antunes é professor de sociologia da Universidade Estadual de Campinas e autor de "Os Sentidos do Trabalho"(Boitempo).

A obra
"O Capital", de Karl Marx. Tradução de Reginaldo Sant'Anna. Vol.1, 574 págs., R$ 64,90. Vol. 2, 364 págs., R$ 53,90. Ed. Civilização Brasileira ( tel.0/xx/21/2585-2000).


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