São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

+cultura

Arte subterrânea

Exposição reúne os pôsteres encomendados pelo metrô de Londres em seus mais de cem anos de existência

ROB SHARP
Há dois remos de madeira, adornados por rostos sorridentes e portando bonés pontudos, com um jeitão universitário, gritando por meio de megafones -um anúncio da regata de remo no rio Tâmisa disputada entre as universidades de Cambridge e Oxford. A imagem em questão é apenas um dos milhares de pôsteres que decoraram o metrô desde que ele começou a circular em seus precários trilhos no final do século 19.
Produzido pelo lendário ilustrador Tom Eckersley, ele marca uma longa tradição de trabalho vanguardista exemplar para importantes artistas de criação, em uma seqüência ininterrupta há mais de cem anos. Agora, o Museu do Transporte de Londres, em Covent Garden, está celebrando o centenário desses cartazes com uma exposição dos trabalhos de arte que enfeitaram as plataformas do metrô da capital britânica.
"A chave para a exposição é o acesso ao processo oculto por trás daquilo que torna esses pôsteres tão maravilhosos", diz Claire Dobbin, co-curadora da exposição.
Uma das seções da exposição gira em torno do processo pelo qual os cartazes eram encomendados, como e por que eram selecionados. Destaca uma série de artistas cujas carreiras receberam seu ímpeto inicial dos trabalhos realizados para o metrô.
O mais famoso deles é justamente Tom Eckersley, que foi convidado a desenhar seu primeiro pôster mal tinha saído da faculdade, e manteve um relacionamento profissional com o metrô de Londres por mais de 60 anos.
A mostra também observa os trabalhos do ponto de vista cronológico, associando seu conteúdo a escolas como o modernismo, o art déco ou a fine art, por artistas como Eric Ravilious e Paul Nash. Não seria possível realizar uma exposição sobre os pôsteres do metrô sem mencionar Frank Pick, o homem encarregado de encomendá-los entre 1908 e 1940, responsável por atrair para o programa alguns dos principais nomes das artes visuais. As técnicas dele são assunto de comentários discretos do mundo da arte desde então.
A exposição lhe presta a homenagem merecida. "A visão dele, quanto à arte, era a de que, embora estivesse sempre à procura dos melhores artistas gráficos, procurava equilibrar as coisas, dando uma chance a talentos ascendentes", diz Dobbin.
"E o tipo de arte que Pick encomendava era sempre determinado pelo propósito da peça, e não apenas por seu gosto pessoal. Essa tradição foi mantida até hoje", conclui.

A íntegra deste texto saiu no "Independent".
Tradução de Paulo Migliacci .



Texto Anterior: +Autores: Círculo virtuoso
Próximo Texto: +Livros: Fuentes, o memorioso
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.