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A favorita de Toulouse-Lautrec
Betty Milan
especial para a Folha
N
ascida em Buenos Aires e radicada
em Paris, Alicia Dujovne Ortiz é
uma das figuras modernas mais interessantes da cena cultural francesa. Na Argentina, foi jornalista e escreveu três livros de poesia. Em 1978, estabeleceu-se
na França e aí publicou vários romances.
Com a biografia de Eva Perón, lançada
em 1995, teve grande sucesso. Depois,
publicou "Mulher Cor de Tango", que
está sendo lançado agora no Brasil.
Como chegou à personagem do livro?
Em 1994 eu estava em Albi, no sudoeste da França, escrevendo a biografia de Eva Peron e visitei o museu
Toulouse-Lautrec, onde há um quadro, "No Salão da Rua dos Moinhos",
de que eu gosto muito. É uma cena de
bordel. No primeiro plano, estendida
num divã de veludo carmesim, uma
ruiva de camisola transparente e
meias verdes. Depois, um dia, um
amigo me trouxe um texto de Cortázar, "Um Tango para Lautrec". Fiquei
sabendo que a minha ruiva das meias
verdes se chamava Mireille, que tinha sido
uma das favoritas de
Toulouse-Lautrec e tinha decidido seguir o
caminho de Buenos
Aires, o da prostituição
francesa na Argentina
no começo do século
20. Achei extraordinário a moça que
tanto me atraía ter acabado a vida
num bordel da minha cidade.
O texto de Cortázar foi um achado?
Retomei o texto dele e disse a mim
mesma que Mireille talvez tivesse se
tornado Mireya num bordel de francesas, o Regine, que ficava em Buenos
Aires, que talvez tivesse descoberto o
tango e dançado como ninguém e que
reencontrara uma tintureira de Toulouse,
uma sua compatriota,
que teve uma criança
que um dia seria Carlos Gardel, de quem ela
foi a primeira amante.
No seu romance o tango é
quase uma personagem...
Sim, na medida em que se trata de um
romance de imigração. Para Mireya a
dança oblíqua do tango tem a inclinação da ponte do navio de imigrantes,
que os argentinos guardaram para
sempre no fundo da sua memória. É
por isso que o tango não se dança em
linha reta, e sim de viés, e os pés não
batem na terra, acariciam-na apenas,
como se a terra se movesse. Trata-se
ainda e sempre de uma dança que
ocorre numa terra estrangeira.
O que produz atualmente?
Escrevo sobre Dora Maar, a amante
de Picasso. Nunca consegui me interessar por personagens que imaginam ter uma identidade única e viver
num país que acreditam ser o deles.
A Mulher da Cor do Tango
256 págs., R$ 27,00
de Alicia Dujovne Ortiz. Tradução de Enrique Boero Baby. Ed.
Record (r. Argentina, 171, CEP
20921-380, RJ, tel. 0/xx/ 21/
585-2047).
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