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Integração de linguagens
GERSON VALLE
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os espetáculos
idealizados por
Wagner, no intuito de uma "Gesamtkunstwerk"
[obra de arte total], acabaram
incorporados aos repertórios
operísticos tradicionais.
"Olga" retorna à intenção
da obra de arte total, enriquecida por linguagens modernas. A imagem no cinema e na
televisão abarca o banal e a
vanguarda, na necessidade da
convivência e da informação.
Seu compositor, Jorge Antunes, um renovador eletroacústico, de larga tradição no
atonalismo, retorna aí até a
música tonal ao mesmo tempo em que utiliza técnica de
escrita melódica numa nova
espécie de "sprechgesang"
[canto falado] melismático,
seguindo as inflexões da frase
falada.
Quando me chamou para
escrever o libreto, demorei a
aceitar, porque nunca fui comunista e achava que a história tinha um certo heroísmo
romântico que não correspondia aos experimentalismos de sua música. A questão
política foi resolvida por
ideais de justiça. Na década de
30, os comunistas encarnavam uma missão salvífica.
Cogitei um espetáculo com
a linguagem de um Glauber
Rocha de "Terra em Transe".
Desisti para não perder a
oportunidade de narrar uma
história tão fascinante, na linearidade que a evidencia.
Logo no segundo quadro,
marco também o despojamento nas redondilhas de três
cantadores nordestinos.
Mas se encontram numa
encruzilhada, diante do demônio, aludindo a "Grande
Sertão: Veredas" [de Guimarães Rosa], e se alternam versos menos óbvios. Somando
meu libreto, a música de Antunes e a direção de William
Pereira, creio termos alcançado a real "obra de arte total",
na acepção de uma integração
de linguagens.
GERSON VALLE é libretista da ópera "Olga".
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