|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
+ Tréplica
Fé no poder dos conceitos
Com textos do colunista Jorge Coli e do libretista Gerson Valle, o Mais! encerra a polêmica
em torno da ópera "Olga", apresentada no Theatro Municipal de São Paulo em outubro
JORGE COLI
COLUNISTA DA FOLHA
Gerson Valle, diante da crítica à ópera "Olga" [apresentada em São
Paulo em outubro] na coluna "Ponto de Fuga" [de 29/ 10], recorre a uma
palavra alemã, difícil de escrever e mais ainda de pronunciar: "Gesamtkunstwerk" [em
sua réplica de 12/11]. Termos
assim obscuros e eruditos
sempre impressionam os
mais inocentes. O ponto é que
uma palavra, mesmo difícil e
misteriosa, não faz, por ela sozinha, que uma obra de arte
aconteça.
"Olga" é uma ópera convencional, não tem nada de pós-moderno, sua história é linear, sua música é bem composta, embora sem uma plena
intuição teatral. Recorre a citações e colagens, o que não é
novidade alguma há muito
tempo. O libreto é fraco na sua
escrita; seus versos, às vezes
concebidos com pés e rimas,
não conseguem resolver suas
próprias regras.
"Olga" pretende misturar
história coletiva e singular,
como fizeram tantas óperas
do passado, e como faz, ainda
hoje, um John Adams. Fica,
porém, na superfície dessa intenção. Pode ser que o público
tenha gostado do espetáculo,
como diz Valle.
As razões, nesses caso, são
várias e nem sempre as da
qualidade artística. O público
também gostou e chorou num
filme ao qual o autor faz alusão depreciativa; nem por isso
tal filme apresenta interesse
cinematográfico.
Enfim, a apreciação de uma
obra de arte não se faz por
conceitos, como quer Valle,
mas por reações infinitamente mais complexas. Valle demonstra ter fé na força e poderes dos conceitos. Isso não
é sempre positivo para os
criadores. Sobretudo quando
eles se convencem de que os
conceitos constituem o mais
essencial da obra.
JORGE COLI é historiador da arte.
Texto Anterior: + Livros: Concreto desarmado Próximo Texto: Integração de linguagens Índice
|