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Nova história
PESQUISADORES DA USP, UNICAMP E FAPESP REVISAM PASSADO E TIRAM "RACISMO AMARELO" DO LIMBO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Embora eu enalteça
as realizações da comunidade nikkei,
que se desenvolveu
e se faz respeitar no
Brasil, concentrei os meus estudos no lado B da imigração", diz Marcia Yumi Takeuchi, pesquisadora e coordenadora do módulo Japoneses
do Proin -uma parceria entre o Arquivo do Estado de
São Paulo e o departamento
de história da USP, apoiado
pela Fapesp.
Ela faz parte de uma nova
geração de historiadores que
passou a tratar mais abertamente a questão do racismo e
da intolerância contra os japoneses na história brasileira
(a maior parte das informações contidas na reportagem
acima foram obtidas nas obras que serão citadas a seguir). Um núcleo importante
desses estudos está ligado à
professora Maria Luiza Tucci
Carneiro, da USP, que coordena o Proin e o Leer/USP
-Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e
Discriminação.
Takeuchi acaba de lançar,
dentro da coleção "Imigrantes no Brasil", da editora Lazuli, o volume "Japoneses - A
Saga do Sol Nascente", um relato conciso e esclarecedor
dos principais momentos vividos pela colonização centenária. Em maio, ela lança pela
editora Humanitas a sua dissertação de mestrado "O Perigo Amarelo - Imagens do
Mito, Realidade do Preconceito (1920-1945)", um dos
principais estudos sobre a
questão do racismo contra os
japoneses no Brasil.
Rogério Dezem, do Proin, é
autor de "Matizes do "Amarelo'" (Humanitas, 2005), que,
além dos japoneses, analisa o
preconceito contra a pequena imigração chinesa no século 19 -os primeiros chineses vieram por solicitação da
corte de d. João 6º para iniciar o cultivo de chá no Brasil.
Dezem e Takeuchi haviam
pesquisado os prontuários da
repressão aos japoneses no
Dops e publicaram "Shindô-Renmei - Terrorismo e Repressão" (de Dezem, em
2000) e "O Perigo Amarelo
em Tempos de Guerra" (de
Takeuchi, em 2002), ambos
pelo Arquivo do Estado/Imprensa Oficial do Estado.
Constituinte
Roney Cytrynowicz, também da área de história social
da USP, em seu livro "Guerra
sem Guerra" (Geração Editorial/Edusp, 2000), mostra
que, durante a Segunda Guerra, o racismo em São Paulo foi
mais forte contra os japoneses do que contra alemães e
italianos.
Ele faz um breve, mas oportuno, relato sobre o pintor,
memorialista e imigrante Tomoo Handa e o grupo Seibi.
A dissertação de mestrado
em história na USP de Flávio
Venâncio Luizetto, defendida
em 1975, "Os Constituintes
em Face da Imigração", chamou a atenção para o conteúdo racista de grande parte dos
debates e dos projetos da
Constituinte de 1934.
O trabalho do brasilianista
Jeffrey Lesser ("A Negociação da Identidade Nacional",
ed. Unesp, 2001), centrado
nos imigrantes não-europeus, foi outro dos iniciadores do processo de revisão
histórica da questão do racismo no Brasil.
Um dos estudos pioneiros
em abordar a questão do racismo contra japoneses na
era Vargas é "Sacralização da
Política" (Papirus, 1986), de
Alcir Lanharo. Para o autor, o
racismo à brasileira é "pragmático, cínico e hipócrita".
Campos de concentração
Em 2000, no departamento de história da Unicamp,
Priscila Nucci, pesquisadora
do Centro de Estudos Brasileiros daquela universidade,
defendeu a dissertação de
mestrado "Os Intelectuais
diante do Racismo Antinipônico no Brasil - Textos e Silêncios". Trata-se de uma original e corajosa leitura dos estudos antropológicos e sociológicos sobre a imigração japonesa feitos nas décadas anteriores, que, em nome de
uma suposta nova cientificidade, evitaram a questão do
racismo.
O complexo tema do tratamento de internos civis no
Brasil como prisioneiros de
guerra é discutido na tese de
doutoramento em história
social de Priscila Ferreira Perazzo, "Prisioneiros de Guerra - Os Cidadãos do Eixo nos
Campos de Concentração
Brasileiros" (USP, 2002).
Ela também estuda como
funcionou o campo de concentração da colônia japonesa de Tomé-Açu, no Pará.
Os trabalhos sobre a Shindô-Renmei acabaram contribuindo para que ficasse mais
clara a discriminação que
ocorreu em relação aos japoneses. O livro "Corações Sujos" (Cia. das Letras, 2ª edição
de 2007), de Fernando Morais, é uma instrutiva e cativante leitura sobre um dos
episódios mais marcantes da
história das colonizações japonesas em todos os países.
O relato detalhado sobre a
violência e a humilhação que
foram os primeiros anos de
vida no Brasil e sobre como
um imigrante passou a ser zona de influência da Shindô-Renmei se encontra em "O
Súdito" (ed. Terceiro Nome),
do jornalista Jorge J. Okaburo, que escreve sobre sua própria família.
Uma clara visão da história
e de tópicos da vida do Japão
atual pode ser encontrada em
"Os Japoneses" (Contexto,
2007), de Célia Sakurai, da
Unicamp e do Museu Histórico da Imigração Japonesa.
Ela é autora da tese ("Imigração Tutelada - Japoneses
no Brasil", Unicamp, 2000)
de que a imigração japonesa
recebia coordenação do Estado japonês e estava dando resultados bastante promissores quando a Segunda Guerra
rompeu as relações diplomáticas entre os dois países.
(MATINAS SUZUKI JR.)
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