São Paulo, domingo, 20 de abril de 2008

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Nova história

PESQUISADORES DA USP, UNICAMP E FAPESP REVISAM PASSADO E TIRAM "RACISMO AMARELO" DO LIMBO ESPECIAL PARA A FOLHA

Embora eu enalteça as realizações da comunidade nikkei, que se desenvolveu e se faz respeitar no Brasil, concentrei os meus estudos no lado B da imigração", diz Marcia Yumi Takeuchi, pesquisadora e coordenadora do módulo Japoneses do Proin -uma parceria entre o Arquivo do Estado de São Paulo e o departamento de história da USP, apoiado pela Fapesp.
Ela faz parte de uma nova geração de historiadores que passou a tratar mais abertamente a questão do racismo e da intolerância contra os japoneses na história brasileira (a maior parte das informações contidas na reportagem acima foram obtidas nas obras que serão citadas a seguir). Um núcleo importante desses estudos está ligado à professora Maria Luiza Tucci Carneiro, da USP, que coordena o Proin e o Leer/USP -Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação.
Takeuchi acaba de lançar, dentro da coleção "Imigrantes no Brasil", da editora Lazuli, o volume "Japoneses - A Saga do Sol Nascente", um relato conciso e esclarecedor dos principais momentos vividos pela colonização centenária. Em maio, ela lança pela editora Humanitas a sua dissertação de mestrado "O Perigo Amarelo - Imagens do Mito, Realidade do Preconceito (1920-1945)", um dos principais estudos sobre a questão do racismo contra os japoneses no Brasil.
Rogério Dezem, do Proin, é autor de "Matizes do "Amarelo'" (Humanitas, 2005), que, além dos japoneses, analisa o preconceito contra a pequena imigração chinesa no século 19 -os primeiros chineses vieram por solicitação da corte de d. João 6º para iniciar o cultivo de chá no Brasil.
Dezem e Takeuchi haviam pesquisado os prontuários da repressão aos japoneses no Dops e publicaram "Shindô-Renmei - Terrorismo e Repressão" (de Dezem, em 2000) e "O Perigo Amarelo em Tempos de Guerra" (de Takeuchi, em 2002), ambos pelo Arquivo do Estado/Imprensa Oficial do Estado.

Constituinte
Roney Cytrynowicz, também da área de história social da USP, em seu livro "Guerra sem Guerra" (Geração Editorial/Edusp, 2000), mostra que, durante a Segunda Guerra, o racismo em São Paulo foi mais forte contra os japoneses do que contra alemães e italianos.
Ele faz um breve, mas oportuno, relato sobre o pintor, memorialista e imigrante Tomoo Handa e o grupo Seibi.
A dissertação de mestrado em história na USP de Flávio Venâncio Luizetto, defendida em 1975, "Os Constituintes em Face da Imigração", chamou a atenção para o conteúdo racista de grande parte dos debates e dos projetos da Constituinte de 1934.
O trabalho do brasilianista Jeffrey Lesser ("A Negociação da Identidade Nacional", ed. Unesp, 2001), centrado nos imigrantes não-europeus, foi outro dos iniciadores do processo de revisão histórica da questão do racismo no Brasil.
Um dos estudos pioneiros em abordar a questão do racismo contra japoneses na era Vargas é "Sacralização da Política" (Papirus, 1986), de Alcir Lanharo. Para o autor, o racismo à brasileira é "pragmático, cínico e hipócrita".

Campos de concentração
Em 2000, no departamento de história da Unicamp, Priscila Nucci, pesquisadora do Centro de Estudos Brasileiros daquela universidade, defendeu a dissertação de mestrado "Os Intelectuais diante do Racismo Antinipônico no Brasil - Textos e Silêncios". Trata-se de uma original e corajosa leitura dos estudos antropológicos e sociológicos sobre a imigração japonesa feitos nas décadas anteriores, que, em nome de uma suposta nova cientificidade, evitaram a questão do racismo.
O complexo tema do tratamento de internos civis no Brasil como prisioneiros de guerra é discutido na tese de doutoramento em história social de Priscila Ferreira Perazzo, "Prisioneiros de Guerra - Os Cidadãos do Eixo nos Campos de Concentração Brasileiros" (USP, 2002).
Ela também estuda como funcionou o campo de concentração da colônia japonesa de Tomé-Açu, no Pará.
Os trabalhos sobre a Shindô-Renmei acabaram contribuindo para que ficasse mais clara a discriminação que ocorreu em relação aos japoneses. O livro "Corações Sujos" (Cia. das Letras, 2ª edição de 2007), de Fernando Morais, é uma instrutiva e cativante leitura sobre um dos episódios mais marcantes da história das colonizações japonesas em todos os países.
O relato detalhado sobre a violência e a humilhação que foram os primeiros anos de vida no Brasil e sobre como um imigrante passou a ser zona de influência da Shindô-Renmei se encontra em "O Súdito" (ed. Terceiro Nome), do jornalista Jorge J. Okaburo, que escreve sobre sua própria família.
Uma clara visão da história e de tópicos da vida do Japão atual pode ser encontrada em "Os Japoneses" (Contexto, 2007), de Célia Sakurai, da Unicamp e do Museu Histórico da Imigração Japonesa.
Ela é autora da tese ("Imigração Tutelada - Japoneses no Brasil", Unicamp, 2000) de que a imigração japonesa recebia coordenação do Estado japonês e estava dando resultados bastante promissores quando a Segunda Guerra rompeu as relações diplomáticas entre os dois países.
(MATINAS SUZUKI JR.)


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