São Paulo, domingo, 20 de abril de 2008

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De sign Int elig ente

O austríaco Stefan Sagmeister fala de suas criações pop e diz que sua função é tornar as pessoas mais felizes

MARCELO PLIGER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em 2001, quando lançou o primeiro livro com os trabalhos do seu estúdio até então, o designer Stefan Sagmeister tinha apenas 39 anos.
Já havia criado embalagens, livros e peças gráficas para Lou Reed, David Byrne e os Rolling Stones, entre outros, e receberia, no ano seguinte, um Grammy pela capa de uma coletânea da banda Talking Heads.
No auge da carreira (aparentemente), tomou o rumo mais inesperado: fechou o estúdio para clientes por um ano a fim de dedicar-se apenas a experimentações. Um dos projetos nascidos nesse período chega às livrarias americanas: "Things I Have Learned in My Life So Far" (Coisas que Aprendi na Minha Vida Até Agora, ed. Abrams, 248 págs., US$ 40, R$ 66).
O projeto teve início com uma série de frases retiradas de seu diário pessoal, como, por exemplo, "tentar parecer bem limita minha vida" ou "manter um diário apóia o desenvolvimento pessoal".
Sagmeister fez exercícios tipográficos reescrevendo cada frase de maneira inusitada. Há palavras escritas com pedaços de mobília quebrada, com a sombra da luz incidindo sobre pedaços de salsicha e até mesmo com espermatozóides manipulados em laboratório.
Em uma de suas peças mais conhecidas, um cartaz para palestra em que ele mesmo falaria, escreveu a chamada para o evento em seu próprio corpo, cortando levemente a pele com um estilete e fotografando o resultado. "Queria expressar a angústia e a dificuldade que enfrentamos para criar", explica. Stefan Sagmeister recebeu a Folha na cobertura em que trabalha e vive, em Manhattan, em Nova York.  

FOLHA - Como foi o processo de criação de seu novo livro? Como surgiram as idéias?
STEFAN SAGMEISTER
- A primeira, logo após o período sem clientes, foi uma revista que seria dividida em seis partes, por seis imagens para separar cada seção. Eles nos procuraram e disseram: faça o que quiser.
A primeira frase usada foi "Everything I do always comes back to me" (tudo o que eu faço sempre volta para mim). E tivemos retorno de várias pessoas manifestando-se sobre esse trabalho. Se eu simplesmente publicasse o meu diário, quem daria a mínima? Uma empresa descobriu quem fez isso e nos pediu um segundo trabalho.

FOLHA - Quais são as diferenças entre arte e design?
SAGMEISTER
- Minha explicação favorita é a de que o design deve surgir da arte. É algo mais agradável do que qualquer outra coisa, pois tem de trabalhar em muitos níveis. Tem que funcionar no nível dos clientes.
No caso do trabalho com os macacos, o governo da Escócia precisava de um visual simples para um festival de design. Eles queriam algo que criasse impacto, e foi feito. Havia uma função a ser cumprida.
Poderiam ser peças sem nenhuma função, que não precisassem tocar você, formas pretensiosamente puras. Penso que seria um trabalho muito mais fácil.

FOLHA - Mas então onde estão as fronteiras entre arte e design?
SAGMEISTER
- Isso eu não poderia dizer, mas definitivamente me considerei mais um designer que um artista. Cresci na Áustria e estudei design gráfico em um lugar onde há bons artistas. Eu nunca desconsiderei bons artistas, e eles nunca me desconsideraram. Foi uma disputa equilibrada.
Funciono muito melhor como um designer por muitas razões. Porque considero a reação do público, acho parte fundamental do trabalho de um designer.
Isso significa que, se projetei a capa de um dos discos dos Rolling Stones e gostei dela, foi na posição de fã dos Rolling Stones. Penso que é uma capa para os fãs dos Rolling Stones.

FOLHA - Mas, pensando no público, algumas peças, por terem um bom design, acabam tornando-se muito mais caras. O sr. acha que design interessa a quem não pode comprá-lo?
SAGMEISTER
- Todo design interessa para todo mundo, porque a vida de todos é tocada pelo design. Você pode ter um copo de plástico, que alguém criou, que torna mais fácil tomar água. Não creio que haja um único ser humano vivo neste planeta que não seja tocado pelo design. A vida é totalmente mediada pelo design.
Evidentemente, tenho a certeza de que, quando você fala em design, vêm à mente culturas mais ricas que são mais afetadas por ele, mas diria que, antes de suas necessidades básicas serem realizadas, você não se importará com o design.
Não é o que você vai pensar a princípio, mas, se olhar para as peças que fazemos, diria que elas estão envolvidas com todos esses níveis. Alguns dos nossos trabalhos têm seus efeitos focados para os mais pobres deste país [EUA]. Um dos nossos maiores clientes é uma campanha para que o orçamento militar americano seja gasto em educação.

FOLHA - O sr. defende que o design pode fazer as pessoas felizes. Ele também pode torná-las tristes?
SAGMEISTER
- Sim! Absolutamente! Existe uma grande quantidade de design que está por aí e que faz isso. Qualquer embalagem mal projetada faz isso. Outro dia, por exemplo.
No meio da noite, eu estava em um hotel, com fome e não consegui abrir uma embalagem de comida. Uma coisa minúscula e desnecessária estragou aquele momento.
Acho que é nossa responsabilidade eliminar essas muitas peças ruins da vida das pessoas e injetar pequenos pedaços de alegria.


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NA INTERNET - Leia a íntegra desta entrevista em www.folha.com.br/081074


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