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+ Cultura
De sign
Int elig ente
O austríaco Stefan Sagmeister
fala de suas criações pop
e diz que sua função é tornar as pessoas
mais felizes
MARCELO PLIGER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em 2001, quando lançou o primeiro livro
com os trabalhos do
seu estúdio até então,
o designer Stefan Sagmeister tinha apenas 39 anos.
Já havia criado embalagens, livros e peças gráficas para Lou
Reed, David Byrne e os Rolling
Stones, entre outros, e receberia, no ano seguinte, um
Grammy pela capa de uma coletânea da banda Talking
Heads.
No auge da carreira (aparentemente), tomou o rumo mais
inesperado: fechou o estúdio
para clientes por um ano a fim
de dedicar-se apenas a experimentações.
Um dos projetos nascidos
nesse período chega às livrarias
americanas: "Things I Have
Learned in My Life So Far"
(Coisas que Aprendi na Minha
Vida Até Agora, ed. Abrams,
248 págs., US$ 40, R$ 66).
O projeto teve início com
uma série de frases retiradas de
seu diário pessoal, como, por
exemplo, "tentar parecer bem
limita minha vida" ou "manter
um diário apóia o desenvolvimento pessoal".
Sagmeister fez exercícios tipográficos reescrevendo cada
frase de maneira inusitada. Há
palavras escritas com pedaços
de mobília quebrada, com a
sombra da luz incidindo sobre
pedaços de salsicha e até mesmo com espermatozóides manipulados em laboratório.
Em uma de suas peças mais
conhecidas, um cartaz para palestra em que ele mesmo falaria, escreveu a chamada para o
evento em seu próprio corpo,
cortando levemente a pele com
um estilete e fotografando o resultado. "Queria expressar a
angústia e a dificuldade que enfrentamos para criar", explica.
Stefan Sagmeister recebeu a
Folha na cobertura em que trabalha e vive, em Manhattan, em
Nova York.
FOLHA - Como foi o processo de
criação de seu novo livro? Como surgiram as idéias?
STEFAN SAGMEISTER - A primeira,
logo após o período sem clientes, foi uma revista que seria dividida em seis partes, por seis
imagens para separar cada seção. Eles nos procuraram e disseram: faça o que quiser.
A primeira frase usada foi
"Everything I do always comes
back to me" (tudo o que eu faço
sempre volta para mim). E tivemos retorno de várias pessoas
manifestando-se sobre esse
trabalho. Se eu simplesmente
publicasse o meu diário, quem
daria a mínima? Uma empresa
descobriu quem fez isso e nos
pediu um segundo trabalho.
FOLHA - Quais são as diferenças
entre arte e design?
SAGMEISTER - Minha explicação
favorita é a de que o design deve
surgir da arte. É algo mais agradável do que qualquer outra
coisa, pois tem de trabalhar em
muitos níveis. Tem que funcionar no nível dos clientes.
No caso do trabalho com os
macacos, o governo da Escócia
precisava de um visual simples
para um festival de design. Eles
queriam algo que criasse impacto, e foi feito. Havia uma
função a ser cumprida.
Poderiam ser peças sem nenhuma função, que não precisassem tocar você, formas pretensiosamente puras. Penso que seria um trabalho muito
mais fácil.
FOLHA - Mas então onde estão as
fronteiras entre arte e design?
SAGMEISTER - Isso eu não poderia dizer, mas definitivamente
me considerei mais um designer que um artista. Cresci na
Áustria e estudei design gráfico
em um lugar onde há bons artistas. Eu nunca desconsiderei
bons artistas, e eles nunca me
desconsideraram. Foi uma disputa equilibrada.
Funciono muito melhor como um designer por muitas razões. Porque considero a reação do público, acho parte fundamental do trabalho de um
designer.
Isso significa que, se projetei
a capa de um dos discos dos Rolling Stones e gostei dela, foi na
posição de fã dos Rolling Stones. Penso que é uma capa para
os fãs dos Rolling Stones.
FOLHA - Mas, pensando no público, algumas peças, por terem um
bom design, acabam tornando-se
muito mais caras. O sr. acha que design interessa a quem não pode
comprá-lo?
SAGMEISTER - Todo design interessa para todo mundo, porque
a vida de todos é tocada pelo design. Você pode ter um copo de
plástico, que alguém criou, que
torna mais fácil tomar água.
Não creio que haja um único
ser humano vivo neste planeta
que não seja tocado pelo design. A vida é totalmente mediada pelo design.
Evidentemente, tenho a certeza de que, quando você fala
em design, vêm à mente culturas mais ricas que são mais afetadas por ele, mas diria que, antes de suas necessidades básicas serem realizadas, você não
se importará com o design.
Não é o que você vai pensar a
princípio, mas, se olhar para as
peças que fazemos, diria que
elas estão envolvidas com todos esses níveis. Alguns dos
nossos trabalhos têm seus efeitos focados para os mais pobres
deste país [EUA].
Um dos nossos maiores
clientes é uma campanha para
que o orçamento militar americano seja gasto em educação.
FOLHA - O sr. defende que o design
pode fazer as pessoas felizes. Ele
também pode torná-las tristes?
SAGMEISTER - Sim! Absolutamente! Existe uma grande
quantidade de design que está
por aí e que faz isso. Qualquer
embalagem mal projetada faz
isso. Outro dia, por exemplo.
No meio da noite, eu estava em
um hotel, com fome e não consegui abrir uma embalagem de
comida. Uma coisa minúscula e
desnecessária estragou aquele
momento.
Acho que é nossa responsabilidade eliminar essas muitas
peças ruins da vida das pessoas
e injetar pequenos pedaços de
alegria.
ONDE ENCOMENDAR - Livros em
inglês podem ser encomendados em
www.amazon.com
NA INTERNET - Leia a íntegra desta entrevista em
www.folha.com.br/081074
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