São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 2009

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Os melhores de 2009

De Tom Wolfe a Dalton Trevisan, de Adorno e os gulags a Matisse e o Terror de 1789, cinco especialistas apontam os títulos incontornáveis do ano

LITERATURA

ALCIR PÉCORA
ESPECIAL PARA A FOLHA

>> Meu Amor
de Beatriz Bracher, ed. 34 (tel. 0/ xx/11/3816-6777).
O livro descobre e percorre destemidamente uma ponte de simpatia repugnante entre o afeto mais terno, até maternal, e a crueldade mais abjeta.

>> Violetas e Pavões
de Dalton Trevisan, ed. Record (tel. 0/xx/21/2585-2000).
São textos curtos, que simulam cartas obscenas de amor, depoimentos em interrogatórios policiais e casos urbanos escabrosos; unifica-os o estilo parnasiano irônico a criar flagrantes de ilícito penal e erótico.

>> Pornopopéia
de Reinaldo Moraes, ed. Objetiva (tel. 0/xx/21/2199-7824).
É tão descabeçado na reiteração do modelo junk/gonzo de vida levada ao extremo de sexo e drogas como cerebral no controle dos meios narrativos e dos seus efeitos cômicos. De longe, o livro mais engraçado do ano.

>> Cadernos de Infância
de Norah Lange, tradução de Joana Angélica d'Ávila Melo, ed. Record
Sobretudo, impressiona neste livro a articulação do andamento ligeiro de um mundo infantil de pequenas incidências, medos e manias com a marcação grave de uma sucessão de eventos fúnebres.

>> O Aventuroso Simplicissimus
Hans J.C. von Grimmelshausen, trad. Mario Luiz Frungillo, ed. Universidade Federal do Paraná (tel. 0/xx/41/ 3360-7489).
O grande evento cultural do ano editorial brasileiro passou despercebido: a tradução do mais importante romance picaresco alemão do século 17, cuja ação esmiúça o campo de butim, destruição e morte a que se reduz o território da Alemanha durante a Guerra dos 30 Anos [1618-48].


ALCIR PÉCORA é professor de teoria literária na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).


CIÊNCIAS SOCIAS

NEWTON BIGNOTTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

>> Gulag - Uma História dos Campos de Prisioneiros Soviéticos
de Anne Applebaum, trad. Mário Vilela e Ibraíma Tavares, ed. Sinergia (0/xx/21/3882-8388)
Usando fontes até então desconhecidas pelos pesquisadores, Applebaum traça um perfil equilibrado da tragédia de uma sociedade para a qual os campos de concentração se tornaram parte integrante da cena política.

>> Varennes - A Morte da Realeza
de Mona Ozouf, trad. Rosa Freire d'Aguiar, Companhia das Letras (tel. 0/xx/11/3707-3500)
Erudição e elegância marcam esse relato de como a Revolução Francesa [1789] foi levada a ver na República uma saída para os impasses gerados pela tentativa de fuga de Luís 16.

>> Maquiavel - Política e Retórica
de Helton Adverse, ed. Universidade Federal de Minas Gerais (te. 0/xx/31/3409-4650)
O livro realiza a difícil tarefa de escrever algo inovador sobre [o pensador italiano] Maquiavel, permanecendo atento às publicações mais importantes dos últimos anos sobre o tema.

>> O Tempo e o Cão
de Maria Rita Kehl, ed. Boitempo (tel. 0/xx/11/3875-7250)
O livro mostra com rara felicidade como a depressão é fruto da difícil relação que entretemos com a temporalidade acelerada de nossas sociedades.

>> Escritos
de Sônia Viegas, ed. Tessitura (tel. 0/xx/31/ 3262-0616)
Com a publicação das obras dessa pensadora, morta prematuramente há 20 anos, o público ganhou a oportunidade de conhecer a trajetória de uma escritora que soube unir em sua escrita rigor e beleza, como poucas vezes se vê na cena acadêmica.

NEWTON BIGNOTTO é professor de filosofia política na Universidade Federal de MG.


HISTÓRIA

MARCO ANTONIO VILLA
ESPECIAL PARA A FOLHA

>> Cada Um na Sua Lei - Tolerância Religiosa e Salvação no Mundo Atlântico Ibérico
de Stuart B. Schwartz, trad. Denise Bottmann, Edusc/Companhia das Letras
Trabalho inovador sobre o espírito de tolerância religiosa entranhado na cultura popular no período de atuação da Inquisição na Idade Moderna (séculos 16-18).

>> O Historiador e Suas Fontes
Carla Bassanezi Pinsky e Tania Regina de Luca (orgs.), ed. Contexto (tel. 0/xx/11/3832-5838)
Conjunto de ensaios sobre o que é mais específico ao ofício do historiador: o trabalho com a documentação histórica. Os textos avaliam a importância das particularidades das fontes históricas literárias, fotográficas, judiciárias, arquitetônicas etc.

>> Escravismo em São Paulo e Minas Gerais
de Francisco Vidal Luna, Iraci del Nero da Costa e Herbert S. Klein, Edusp/Imprensa Oficial (tel. 0/ xx/11/2799-9800).
Análise das relações sociais marcadas pela escravidão em Minas Gerais e São Paulo nos séculos 18 e 19. Estudo das profissões, atividades produtivas e posse de escravos nesses séculos, com base em ampla documentação.

>> Comércio e Canhoneiras - Brasil e Estados Unidos na Era dos Impérios (1889-97)
de Steven C. Topik, trad. Angela Pessoa, Companhia das Letras
Estuda as relações Brasil-Estados Unidos nos primeiros anos da República, especialmente durante a Revolta da Armada (1893-94).

>> Fronteira Amazônica
de John Hemming, trad. Antonio de Padua Danesi, Edusp (tel. 0/ xx/11/3091-4008)
Expõe os encontros dos cientistas europeus com as riquezas amazônicas e os indígenas da região, em especial durante o ciclo da borracha.


MARCO ANTONIO VILLA é professor de história na Universidade Federal de São Carlos (SP).


FILOSOFIA

VLADIMIR SAFATLE
ESPECIAL PARA A FOLHA

>> Dialética Negativa
de Theodor Adorno, trad. Marco Antonio Casanova, ed. Zahar (tel. 0/xx/21/2108-0808)
Um dos livros mais importantes da filosofia do século 20. Obra maior de Theodor Adorno, mobiliza suas leituras de Heidegger, Kant e Hegel a fim de apresentar um conceito renovado de razão com fortes consequências na dimensão prática.

>> São Paulo - A Fundação do Universalismo
de Alain Badiou, trad. Wanda Caldeira Brant, ed. Boitempo Um dos principais nomes da filosofia francesa atual, Badiou apresenta neste livro uma forte defesa do universalismo e de um conceito de acontecimento capaz de recuperar exigências de ruptura e renovação. Para tanto, ele faz apelo a uma leitura original da mensagem paulina e de uma certa tradição cristã.

>> A Lógica das Ciências Sociais
de Jürgen Habermas, trad. Marco Antonio Casanova, ed. Vozes (tel. 0/xx/24/2233-9000)
Livro que procura analisar o estatuto epistemológico das ciências humanas.

>> Sacher-Masoch - O Frio e o Cruel
de Gilles Deleuze, trad. Jorge Bastos, ed. Zahar
Embora pareça um livro de circunstância, trata-se de um importante estudo para a compreensão do conceito deleuziano de desejo e de crítica.

>> A Condição Humana - As Aventuras do Homem em Tempos de Mutações
Adauto Novaes (org.), Sesc SP/ Agir (tel. 0/xx/21/3882-8200)
Coletânea de textos sobre os desafios da pós-humanidade e do esgotamento da noção moderna de homem.


VLADIMIR SAFATLE é professor no departamento de filosofia da USP.


ARTE

TEIXEIRA COELHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

>> Matisse - Imaginação, Erotismo, Visão Decorativa
Sonia Salztein (org.), trad. Denise Bottmann, ed. Cosac Naify (tel. 0/xx/11/3218-1444)
Muita gente boa -Greenberg, Barr, T.J. Clark- escrevendo sobre um artista do luxo (como diz Aragon) ou da volúpia (mesmo se ordenada, para Paulo Pasta).

>> Primeira Individual - 25 Anos de Crítica de Arte
de Antonio Gonçalves Filho, Cosac Naify
O autor não enfeixa suas críticas reunidas sobre arte brasileira numa teoria a posteriori, especial para o livro (o que é bom). Cada peça é uma narrativa viva, livre do jargão da área.

>> Estética Relacional
de Nicolas Bourriaud, trad. Denise Bottmann, ed. Martins (tel. 0/xx/11/3116-0000)
Renomado crítico exorta a pensar as práticas da arte contemporânea, sem o que elas "permanecem ilegíveis". A ler com o livro seguinte.

>> A Palavra Pintada
de Tom Wolfe, tradução de Lia Wyler, ed. Rocco (tel. 0/ xx/21/ 3525-2000)
Em 1975, arrasava a arte contemporânea porque é "para ler". Artistas e críticos odiaram-no.
Tem uma visão cultural da arte.
Livro bom é o que faz pensar, não aquele com o qual se concorda.

>> Inteligência Brasileira - Uma Reflexão Cartesiana
de Max Bense, trad. Tercio Redondo, Cosac Naify
Um amigo da terra pensou, há 40 anos, sobre a nova arte e a cultura brasileiras da época, que via livres da "decadência metafísica e da barbárie". Era mesmo assim, poderia ter sido assim? A primeira parte, estimulante, traz ideias diferentes (nada pacíficas) sobre o que significou (ou teria significado) Brasília.

JOSÉ TEIXEIRA COELHO NETTO é professor titular aposentado da ECA-USP, crítico e curador do Masp (Museu de Arte de São Paulo).


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