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Para o perspectivismo, "bicho é gente"
DA REDAÇÃO
"Bicho é gente." Essa é a frase síntese,
dita pelos índios e ouvida pelos antropólogos, do perspectivismo
ameríndio -que expressa uma
idéia presente, de uma forma ou de outra, em
quase todos os povos indígenas da América.
Ao traduzir essa informação em termos antropológicos, a teoria desenvolvida por Eduardo Viveiros de Castro e seus colegas defende que tudo
se dá como se os índios pensassem o mundo de
forma inversa à nossa, se consideradas as concepções de "natureza" e "cultura".
Enquanto o pensamento ocidental teria como
chão a idéia de que a natureza é universal e as
culturas são particulares (há um só mundo e
muitas formas de vivê-lo), para vários povos do
continente americano haveria apenas uma cultura, ou uma "relação" primordial, e naturezas
particulares dependendo do ponto de vista do
observador.
Homens e animais seriam sempre gente, sujeitos dessa cultura/relação geral. Ou seja, todos os
animais, para os índios, experimentam (ou experimentaram) os mesmos hábitos: seu alimento
-os vermes da carne podre para os urubus, o
sangue para os jaguares- é sempre peixe ou
cauim, por exemplo; suas relações de grupo são
sempre sociais, com ritos, chefes e regras de casamento.
Não é que verme é "como se fosse" peixe para o
urubu; ele deve ser visto de fato como tal.
Uma só maneira de ser sujeito -em suas relações com predadores e presas, em suas relações
sociais com seus semelhantes-, e portanto seres
que mudam de natureza dependendo da relação
em que estão inseridos. Animais predadores e
espíritos, por exemplo, vêem os humanos como
"animais-presas", enquanto a caça vê os humanos como animais predadores ou espíritos. Ao
nos verem como não-humanos, os animais
vêem a si mesmos como humanos.
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