São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para o perspectivismo, "bicho é gente"

DA REDAÇÃO

"Bicho é gente." Essa é a frase síntese, dita pelos índios e ouvida pelos antropólogos, do perspectivismo ameríndio -que expressa uma idéia presente, de uma forma ou de outra, em quase todos os povos indígenas da América.
Ao traduzir essa informação em termos antropológicos, a teoria desenvolvida por Eduardo Viveiros de Castro e seus colegas defende que tudo se dá como se os índios pensassem o mundo de forma inversa à nossa, se consideradas as concepções de "natureza" e "cultura".
Enquanto o pensamento ocidental teria como chão a idéia de que a natureza é universal e as culturas são particulares (há um só mundo e muitas formas de vivê-lo), para vários povos do continente americano haveria apenas uma cultura, ou uma "relação" primordial, e naturezas particulares dependendo do ponto de vista do observador.
Homens e animais seriam sempre gente, sujeitos dessa cultura/relação geral. Ou seja, todos os animais, para os índios, experimentam (ou experimentaram) os mesmos hábitos: seu alimento -os vermes da carne podre para os urubus, o sangue para os jaguares- é sempre peixe ou cauim, por exemplo; suas relações de grupo são sempre sociais, com ritos, chefes e regras de casamento.
Não é que verme é "como se fosse" peixe para o urubu; ele deve ser visto de fato como tal.
Uma só maneira de ser sujeito -em suas relações com predadores e presas, em suas relações sociais com seus semelhantes-, e portanto seres que mudam de natureza dependendo da relação em que estão inseridos. Animais predadores e espíritos, por exemplo, vêem os humanos como "animais-presas", enquanto a caça vê os humanos como animais predadores ou espíritos. Ao nos verem como não-humanos, os animais vêem a si mesmos como humanos.


Texto Anterior: O espelho do ocidente
Próximo Texto: Um texto sem fim
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.