São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2005

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O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro começa a tornar público, na internet, seu trabalho de consolidação do perspectivismo ameríndio, que subverte e questiona a filosofia ocidental

O espelho do ocidente

RAFAEL CARIELLO
EDITOR INTERINO DO MAIS!

Foi o antropólogo Claude Lévi-Strauss, é claro, quem melhor deu conta da revolução que vem ocorrendo no terreno do pensamento que ele ajudou a demarcar: "Quer nos regozijemos, quer nos inquietemos, a filosofia está novamente no centro do palco antropológico. Não mais a nossa filosofia, aquela de que minha geração queria se livrar com a ajuda dos povos exóticos; mas, em uma notável reviravolta, a deles".
O principal responsável pela façanha que Lévi-Strauss descreve, Eduardo Viveiros de Castro, professor do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, há pelo menos três anos prometia um texto -em forma de livro- que sistematizasse e desenvolvesse as idéias que ele vem apresentando em artigos desde meados da década de 90.
Mudou de idéia. Após escrever mais de 600 páginas, decidiu que a melhor maneira de dar continuidade ao seu pensamento seria colocá-lo à disposição de outras contribuições, que modificassem seu texto e construíssem uma obra coletiva, usando uma página na internet que permite o acesso e a intervenção de quem quiser nos trechos que ele leva à rede, no site do "Projeto AmaZone".
No que já se pode ler no endereço virtual -em funcionamento há cerca de três meses-, o antropólogo busca "fundamentar melhor" sua tese. "Você sempre começa a pensar de maneira um pouco brutal", diz.
Na entrevista que concedeu à Folha em sua casa, no Rio, Viveiros de Castro explica os avanços e a "embocadura" filosófica que sua teoria, o perspectivismo ameríndio, ganha com a nova obra virtual. Questiona as distinções entre mito e filosofia e apresenta uma compreensão da realidade por parte dos índios radicalmente diferente daquela dos herdeiros da tradição ocidental -que termina por subverter os fundamentos do pensamento filosófico, como os conceitos de sujeito e objeto, Deus, cultura e natureza.
Daí que um dos colaboradores do AmaZone, Oscar Calavia, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, chegue a defender que a modernidade ocidental possa ser pensada como o resultado de controles e restrições a uma visão de mundo perspectivista, próxima à dos índios, que também já teve seu espaço entre os europeus.


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