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O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro começa a tornar público, na internet, seu trabalho de consolidação do perspectivismo ameríndio, que subverte e questiona a filosofia ocidental
O espelho do ocidente
RAFAEL CARIELLO
EDITOR INTERINO DO MAIS!
Foi o antropólogo Claude Lévi-Strauss, é claro, quem melhor
deu conta da revolução que
vem ocorrendo no terreno do
pensamento que ele ajudou a demarcar: "Quer nos regozijemos,
quer nos inquietemos, a filosofia está novamente no centro do palco antropológico. Não mais a nossa filosofia, aquela de que minha geração
queria se livrar com a ajuda dos povos exóticos; mas, em uma notável
reviravolta, a deles".
O principal responsável pela façanha que Lévi-Strauss descreve,
Eduardo Viveiros de Castro, professor do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, há
pelo menos três anos prometia um
texto -em forma de livro- que sistematizasse e desenvolvesse as idéias
que ele vem apresentando em artigos desde meados da década de 90.
Mudou de idéia. Após escrever
mais de 600 páginas, decidiu que a
melhor maneira de dar continuidade ao seu pensamento seria colocá-lo à disposição de outras contribuições, que modificassem seu texto e
construíssem uma obra coletiva,
usando uma página na internet que
permite o acesso e a intervenção de
quem quiser nos trechos que ele leva
à rede, no site do "Projeto AmaZone".
No que já se pode ler no endereço
virtual -em funcionamento há cerca de três meses-, o antropólogo
busca "fundamentar melhor" sua tese. "Você sempre começa a pensar
de maneira um pouco brutal", diz.
Na entrevista que concedeu à Folha em sua casa, no Rio, Viveiros de
Castro explica os avanços e a "embocadura" filosófica que sua teoria, o
perspectivismo ameríndio, ganha
com a nova obra virtual. Questiona
as distinções entre mito e filosofia e
apresenta uma compreensão da realidade por parte dos índios radicalmente diferente daquela dos herdeiros da tradição ocidental -que termina por subverter os fundamentos
do pensamento filosófico, como os
conceitos de sujeito e objeto, Deus,
cultura e natureza.
Daí que um dos colaboradores do
AmaZone, Oscar Calavia, professor
da Universidade Federal de Santa
Catarina, chegue a defender que a modernidade ocidental
possa ser pensada como o resultado
de controles e restrições a uma visão
de mundo perspectivista, próxima à
dos índios, que também já teve seu
espaço entre os europeus.
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