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A investigação em suspenso
da Reportagem Local
Entre os mistérios que ainda envolvem o Riocentro, é presumível
que a bomba tenha sido entregue
já no local a Rosário e a Wilson.
Este sempre reiterou que dera ao
sargento carona num posto de gasolina da estrada que liga Grajaú a
Jacarepaguá. É pouco provável
que tenham transportado os explosivos num automóvel pequeno e vulnerável aos solavancos de
um caminho esburacado.
O mistério é ainda maior quanto se trata da carta-bomba da
OAB. Sete semanas depois do
atentado foi preso Ronald James
Watters, então com 51 anos. Civil,
ex-agente de informações da Marinha, tornou-se o principal suspeito em inquérito que passou aos
poucos das mãos da Polícia Federal para as do SNI. Ele foi julgado e
absolvido, por falta de provas, em
fevereiro de 1982.
Seu principal álibi: sua aparência física não coincide com aquela
que a faxineira Dilza Fulgêncio
Pereira forneceu do entregador
da carta-bomba. Seria a de um
homem de 25 anos, cabelos compridos e barba rala, com os olhos
ligeiramente puxados. Quando
presidente nacional da OAB, em
1981, o sucessor de Seabra Fagundes (a quem o explosivo estava
teoricamente endereçado) e hoje
senador Bernardo Cabral (PFL-AM) considerou que Watters não
passava de "bode expiatório".
Uma das pistas contra ele estava
na máquina de escrever com uma
falha de impressão no lado esquerdo da letra "v", utilizada para
redigir comunicado sobre o atentado remetido ao "Jornal do Brasil". Watters foi "reconhecido"
como proprietário da máquina
pelo dono de uma oficina de reparos do bairro de Botafogo. Mas
um agente da DPF com quem a
Folha conversou há dias insinuou
ter havido prova forjada. A máquina identificada pela perícia
não era a Remington que Watters
supostamente mandou consertar.
Além do mais, semanas depois a
verdadeira máquina com o defeito no "v" foi localizada num ferro-velho carioca, detalhe considerado depois irrelevante.
No processo em que foi absolvido, Watters teve um advogado de
defesa de Porto Alegre custeado
pelo então deputado Magalhães
Pinto (PDS-MG), já morto, ex-governador de Minas e ex-ministro
das Relações Exteriores durante o
regime militar. Não se sabe se por
conta de Watters, ou se a prisão
dele já fazia parte do jogo, mas os
responsáveis pela investigação
tentaram envolver Magalhães.
Banqueiro, ele acreditava ser uma
opção, liberal e civil, para a sucessão de Figueiredo. Watters diz tê-lo conhecido em 1962. O telefone
do deputado foi encontrado em
sua agenda quando ele foi preso e
mantido incomunicável.
Uma escrivã da Polícia Federal,
fazendo-se passar por mulher de
Watters, telefonou ao gabinete de
Magalhães e pediu dinheiro para
que "o marido", em dificuldades,
"pudesse deixar o país". A entrega
de dinheiro chegou a ocorrer
-diante da agência do Banco Nacional da avenida Rio Branco, no
Rio. Mas era uma quantia insuficiente para que, numa operação
de fuga, Watters tomasse um ônibus até a fronteira do Paraguai.
Outro detalhe curioso está no
explosivo utilizado para a carta-bomba, a nitropenta, mesma matéria-prima usada em outra bomba colocada no Rio naquele mesmo 27 de agosto. Foi na Câmara
Municipal e sobre a qual o general
Waldyr Muniz, conforme entrevista recente à Folha de um outro
oficial de informações, o coronel
José Ribamar Zamith, teria tido
prévio conhecimento. Houve ainda a bomba na sede da Sunab, que
não chegou a explodir.
A Polícia Federal não investigou
os outros explosivos. É possível
que no percurso encontrasse mais
uma vez o marceneiro Hilário
Corrales, que confessou a seu irmão ter sido um dos dos envolvidos na carta-bomba da OAB.
(JBN)
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