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+Cinema
Rainha Catherine
EM ENTREVISTA HISTÓRICA AO DIRETOR ARNAUD DESPLECHIN, A ATRIZ CATHERINE DENEUVE FALA
DE "UM CONTO DE NATAL", QUE ESTRÉIA NO BRASIL NA QUINTA, RELEMBRA O INÍCIO DA CARREIRA E A RELAÇÃO COM BUÑUEL, TRUFFAUT, POLANSKI E VON TRIER
"A Bela da Tarde"
ficou maior
com o tempo,
e a personagem virou um
símbolo,
uma heroína estranha
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ARNAUD DESPLECHIN
É claro que há sua beleza chocante, direta.
Catherine Deneuve é
bela de uma maneira
direta. E porque ela
carrega essa beleza deslumbrante com grande serenidade.
E há sua audácia -Catherine
é audaciosa!
Sua velocidade -é a atriz
mais veloz do mundo (ela rejeita a ênfase; a estupidez a entedia). Sua rebelião: nunca jogar
os jogos dos adultos!
Ela certa vez descreveu Marcello Mastroianni [com quem
teve uma filha] como "um garoto", porque ele nunca se esqueceu da criança que tinha sido. Devido a sua rebelião, Catherine é a atriz favorita de todas as crianças francesas. Porque é uma menina.
Um de seus segredos: nunca
se queixar, nunca explicar
-uma rainha!
CATHERINE DENEUVE - Isto vai ser
sério?
PERGUNTA - É para a "Film Comment". É um pouco como uma "Cahiers du Cinéma" dos EUA.
DENEUVE - Eu não leio a "Cahiers"; compro, mas não leio.
Essas revistas são na realidade para pessoas que refletem
sobre o cinema, que pensam o
cinema. Não são feitas para
pessoas como eu. Na verdade,
não leio muito sobre filmes.
PERGUNTA - Leio os "Cahiers" desde os 16 anos.
DENEUVE - Para mim há duas
coisas: ação e reflexão. E constato que sou mais uma pessoa
de ação. Sou uma leitora lenta,
então prefiro passar esse tempo assistindo a um filme.
PERGUNTA - A sra. nunca foi à Cinémathèque?
DENEUVE - Às vezes. Esperei ter
um namorado cinéfilo para começar a ir ao cinema. Eu não ia
por conta própria.
PERGUNTA - Então a sra. não era cinéfila na época em que fez seus primeiros filmes?
DENEUVE - Sim, era, já tinha assistido a muitos filmes. Era
muito jovem quando tive um
namorado, comecei a ver filmes interessantes aos 15 anos,
mais ou menos na época em
que fiz "Les Portes Claquent"
[As Portas Batem, 1960, de Michel Fermaud e Jacques Poitrenaud]. Ver "Ivã, o Terrível"
[de Eisenstein] exerceu um
efeito tremendo sobre mim.
PERGUNTA - Quem a sra. curtia
mais: atores ou diretores?
DENEUVE - É estranho, mas os
atores nunca me fascinaram
muito, com exceção de Marilyn
Monroe. Para mim, sempre foi
o filme em primeiro lugar.
Sempre me senti um pouco à
margem, até conhecer Jacques
Demy. Foi então que me dei
conta de que o cinema poderia
ser outra coisa, quando comecei a ter um relacionamento
(profissional) com alguém que
realmente me queria, para esse
filme em particular.
PERGUNTA - Foi apenas após fazer
"Os Guarda-Chuvas do Amor"
[1964, de Jacques Demy] que o cinema virou sua paixão?
DENEUVE - Sim. O fato de o filme ser musical contou muito.
Fizemos com muito poucos recursos, acho que isso o beneficiou, pois tínhamos que ser
muito criativos. Estava presente em todas as gravações.
PERGUNTA - Além do trabalho de
atriz, a sra. estava muito presente
durante o trabalho de direção.
DENEUVE - Com certeza, porque
a preparação realmente era
responsável por metade do filme. Jacques era muito exigente, mas também muito tímido,
e gostava de rir. Eu me reconheci completamente em sua
maneira de trabalhar.
Para mim, alguma coisa mudou definitivamente quando
trabalhei com ele. Alguma coisa
profunda aconteceu em torno
do relacionamento que podemos ter com um filme.
PERGUNTA - Quando considero todos os seus filmes, vejo uma qualidade singular que não enxergo em
outros atores. O que vejo é a marca
de uma autora. Além da excelência
de sua atuação, o que seus filmes
parecem compartilhar é seu olhar.
DENEUVE - Sim, você tem razão,
é isso o que é: um olhar. Acho
que sempre tendi a isso. Talvez
por nunca ter feito escola de
atuação e nunca ter trabalhado
com atores. Só os encontrava
nos sets de filmagem -nunca
tive realmente amigos atores,
com a exceção de minha irmã.
PERGUNTA - A sra. falou antes de
sua paixão por Marilyn. Mais tarde,
a sra. tingiu seu cabelo de loiro, e esse gesto me fascinou.
DENEUVE- Foi um gesto de
amor.
PERGUNTA - Existe uma ambigüidade nele. Foi uma rebelião ao estilo
de Monroe, um sonho ao estilo de
Demy ou classicismo hitchcockiano?
É como a pergunta que um jovem cineasta se poderia fazer: para que
serve o cinema?
DENEUVE - O cinema me ajudou
a amadurecer, isso é certo. Eu
realmente era ignorante em
muitas coisas. É difícil imaginar como o fato de fazer parte
de uma família grande muda
seu relacionamento com o
mundo de fora.
Pois uma família grande é ao
mesmo tempo muito protetora
e muito fechada. Foi quando
me dei conta de que eu tinha o
anseio de partir. Achei isso um
pouco preocupante, então saí
de casa ainda bastante jovem.
PERGUNTA - A experiência de fazer
"Repulsa ao Sexo" [1965] em Londres com Roman Polanski durante a
revolução pop exerceu um efeito
mais forte sobre a sra. que a guerra
dos modernos, na França?
DENEUVE - É engraçado, porque
nós três éramos franceses: Roman, que, apesar de ser polonês, falava francês o tempo todo, Gérard Brach e eu. Éramos
realmente os três mosqueteiros. Todas as outras pessoas no
set eram britânicas.
Roman sabia exatamente como fazer para ser respeitado
pela equipe; não era de se deixar dominar.
Mas, pelo fato de falarmos
francês, vivemos a experiência
de fazer aquele filme um pouco
pelo lado de fora, num ambiente singular. Éramos um núcleo
no interior da equipe.
PERGUNTA - Como o filme que a
sra. fez com Demy, "Repulsa ao Sexo" exige uma proximidade entre o
diretor e a atriz.
DENEUVE - Sim, eu me sentia
muito próxima de Roman.
Aquele é o filme que sinto que
ajudei a fazer, pois os produtores estavam acostumados a
produzir pornôs. Era um filme
de orçamento baixo e, para
eles, sem grande importância...
PERGUNTA - Outra atriz teria aceito
os papéis por serem escandalosos...
DENEUVE - Não, não. Para mim,
de jeito nenhum.
PERGUNTA - Mas o que me chama a
atenção em sua performance é que
a sra. aceita o papel porque acha
que talvez não seja tão escandaloso
assim, afinal. Ou que o escândalo é
inerente à vida.
DENEUVE - Sim, isso é absolutamente verdade. Pareceu interessante e normal. Recordo-me
de ter encontrado um jornalista em Los Angeles quando saiu
"Os Ladrões" [1996], de André
Téchiné, que me disse: "Você
não sabe como vocês têm sorte,
vocês atrizes da Europa".
"Uma atriz americana jamais
aceitaria representar uma lésbica num filme, após uma certa
idade e em determinado ponto
de sua vida ou carreira. É arriscado demais." Admito que sempre ziguezagueei. Você sabe,
realmente depende de que filmes lhe são oferecidos.
Talvez as pessoas aceitem
mais minhas escolhas, enquanto, no caso de outra pessoa, diriam: "Que estranho ela ter feito aquilo". A porta que se abriu
para mim após "A Bela da Tarde" [1967] foi tão grande que
muitas coisas puderam passar
por ela. É um filme que ficou
maior com o tempo. Saiu-se
bem quando foi lançado, mas
apenas mais tarde se tornou
mítico, quase um filme cult. E
aquela personagem virou, até
certo ponto um símbolo, uma
heroína estranha. E, porque eu
a representei, as pessoas supunham coisas a meu respeito.
PERGUNTA - Confesso que prefiro
"Tristana" [1970].
DENEUVE- Eu definitivamente
prefiro "Tristana" a "A Bela da
Tarde"!
PERGUNTA - Sua performance como Tristana é estupenda. Os saltos
que a personagem faz, da dor à inocência, da alegria ao desespero. E,
então, a amargura...
DENEUVE - Sim, a experiência
de fazer aquele filme foi única.
E é raro representar um personagem que passa por tantos estados emocionais.
PERGUNTA - No diário que escreveu
no set de "Tristana", a sra. registrou
que as primeiras cenas que rodou
foram as cenas de sua amargura,
ambientadas no hall. A sra. escolheu
seu próprio figurino e fez sua própria maquiagem. Enquanto Buñuel
está em outro lugar, rodando outra
cena, a sra. se confere um rosto fantasmagórico...
DENEUVE - Eu tinha mencionado a Buñuel a rainha malévola
de "Branca de Neve". Com Buñuel, a experiência foi única,
porque ele era muito modesto
e gostava de fazer piadas sobre
as coisas. Truffaut era igual.
Quando filmávamos, nunca falava comigo de modo direto.
PERGUNTA - A sra. menciona que
durante a filmagem da cena da sacada, Buñuel disse: "Nada de psicologia". Essa cena fez história! Por
causa dela, Hitchcock escreveu uma
carta a Buñuel lhe falando de sua
admiração e dizendo que tinha inveja dessa tomada. Uma cena tão escabrosa, tão chocante não pode ser
explicada com a psicologia.
DENEUVE - Às vezes você tem
que aceitar que a imagem é
mais poderosa que você, que as
intenções do diretor são mais
fortes que você. Por isso a performance exigia ser extremamente permeável, aberta, sem
nenhum pensamento por trás.
Quando me disse: "Você sorri", a idéia era ficar tão impávida quanto possível enquanto
sorria e me abster de colocar
uma intenção atrás do sorriso.
Já havia intenção suficiente ali,
para começar!
Ao mesmo tempo, Buñuel
era extremamente modesto.
Mesmo com os atores, parecia... Era evidente que aquela
não era sua etapa favorita do
processo de criação cinematográfica. Era algo pelo qual ele
era obrigado a passar: para que
o filme exista, é preciso que os
atores representem papéis.
Mas o que dizia era mínimo.
Era mais o que dizia fora do filme ou o que estava escrito. Mas
era realmente preciso tentar
imaginar ou adivinhar o que ele
teria a dizer. Era muito grosseiro em sua maneira de falar. Na
verdade, isso me fazia rir.
PERGUNTA - A sra. já trabalhou com
vários diretores muito mais velhos:
Buñuel, Melville, Manoel de Oliveira. Mas, olhando sua carreira, nunca
tive a impressão de que fossem relacionamentos filiais, e sim que poderiam ser mais bem caracterizados
como fraternos.
DENEUVE - Acho que isso se deve a meu lado masculino.
PERGUNTA - Também estou pensando em "Dançando no Escuro"
[2000, de Lars von Trier]. Sua personagem está num canto do teatro, de
mau humor, e a sra. diz "não quero
fazer papel de cachorro". Mas começa a latir, mesmo assim. A sra. está
de mau humor, mas faz assim mesmo. Não se trata de submissão, mas
de diálogo.
DENEUVE - Seria difícil explicar
exatamente o que aconteceu
naquele momento. Porque, na
realidade, eu não deveria latir.
É verdade que eu lembrei
que tinha feito a mesma coisa
em "Liza". Sou eu quem late
quando gravamos o som. Fiz o
papel de cachorro. Eu tinha dito ao [diretor, Marco] Ferreri:
"Como estou representando a
cadela, também farei o cão!" E
assim eu tinha gravado o cachorro latindo, também.
Por sinal, eu estava grávida
de Chiara quando fiz esse filme.
Não sei o que aconteceu com
Von Trier. Alguma coisa, um
pouco de desfaçatez... E não
sou muito descarada. Acho que
é preciso ter muita confiança
para ser capaz de fazer isso. Você precisa ser capaz de pensar:
"Sei subconscientemente que,
se não funcionar, ele não vai incluir no filme".
O que me assusta mais quando estou com um diretor e a
sensação não é boa é quando
penso: "Ele não tem ponto de
vista, não sabe exatamente o
que está fazendo, não será capaz de julgar".
Quando é assim, não posso
me dar por inteiro, porque não
haverá ninguém para me segurar. Para mim, isso é o pior: não
confiar, sentir desconfiança.
Eu me contenho, quando, na
realidade, quero me entregar
quando estou filmando. Mas é
verdade que, para me entregar,
preciso sentir muita confiança.
E isso não tem nada a ver com
idade ou experiência. Tem a ver
com intuição.
PERGUNTA - Emmanuelle Devos
me disse certa vez que as pessoas
freqüentemente perguntam: como
a sra. inventa um personagem?
Quando, é claro, há toda uma preparação prévia.
DENEUVE - Não para mim.
PERGUNTA - Mas no final, o que fica, o que o público vai ver, são os 5%
que restam. Esses 5% são o que
acontece durante a tomada. E o
tempo de uma tomada é absoluto.
DENEUVE - Não há dúvida de
que algumas coisas começam a
acontecer antes: algumas são
subconscientes, outras são
conscientes. Em meu caso,
acontece em relâmpagos. Sou
incapaz de trabalhar sozinha,
sem um diretor, sem alguém
para me conduzir.
Mas isso não condiz em nada
com minha idéia daquilo que
deve ser um personagem de filme. Preciso absorver o que vai
acontecer no set naquele dia, a
locação, a luz... Preciso saber o
que acontece antes na história.
Para mim, isso é o mais importante: me relacionar com o
personagem, em relação a onde
estamos no filme.
Talvez isso tenha a ver com o
fato de que nunca fiz papéis de
personagens típicos. Mesmo
com "Tristana", que exigia um
pouco de trabalho desse tipo.
Mas Buñuel e eu conversávamos fora do set, jantávamos
juntos. O mesmo acontecia
com Téchiné. A gente se encontra, mas sempre termina falando de outra coisa. E, mesmo
que tenhamos acabado falando
de outro assunto, algo de útil
terá resultado disso.
As questões estão muito presentes em nossas cabeças. Mas
nunca é simples e direto.
PERGUNTA - Quando vejo a sra.
atuar, sinto que nos está contando
alguma coisa. E essa alguma coisa
me comove. Em seus diários dos filmes, uma vez, quando se irritou ao
trabalhar com Stuart Rosenberg
["Um Dia em Duas Vidas", 1969], a
sra. escreveu: "Sua câmera sugestiva me aborrece".
DENEUVE - Stuart era adorável,
mas era muito passivo. Não era
nem sequer devagar. Eu gostava dele. Mas a passividade cria
um ambiente pesado. Eu estava
sofrendo um pouco.
Ao mesmo tempo, eu adorava Jack Lemmon, que era um
ator leve, maravilhoso. Mas estava passando por um momento difícil em sua vida...
PERGUNTA - A continuidade me assusta. Adoro os cortes abruptos do
cinema mudo.
DENEUVE - O cinema mudo é
uma outra coisa. É engraçado
porque dei uma entrevista, não
faz muito tempo, em que disse
que adoraria fazer um filme
mudo. Mas teria que ser moderno. Um filme curto, moderno, mudo. Acho que eu realmente gostaria desse exercício.
PERGUNTA - A sra. mencionou antes o sonambulismo. Encontrei uma
frase que Truffaut disse a seu respeito: "Catherine é uma "atriz desacelerada", é um pouco lenta".
DENEUVE - Verdade?
PERGUNTA - "As atrizes que atingem um status mítico são um pouco
mais lentas que as outras." Isso me
lembrou as palavras que a sra. empregou: transe e sonambulismo.
DENEUVE - Sim, talvez. É verdade. Mas é espantoso, mesmo
assim. O que é irritante é quando você tem que representar algo anódino.
Às vezes assisto a filmes de
ação e penso: "Meu Deus, eles
devem ter se entediado tanto!
Quantas vezes tiveram que repetir aquilo?".
Acho terrível. Você tem que
fazer isso, ver aquilo, então tem
que entrar num carro...
PERGUNTA - Sim, mas o carro, os
olhares, o tédio... Isso é exatamente
James Stewart em "Um Corpo que
Cai"! A sra. conheceu Hitchcock, tinha um projeto com ele...
DENEUVE - Sim, eu deveria fazer
um filme com Hitchcock. Era
ambientado no norte também,
como "Cortina Rasgada". Seria
uma história de espionagem.
Na época, ainda não passava
de uma sinopse. Almocei com
ele em Paris, e ele morreria alguns meses mais tarde. Teria
adorado trabalhar com ele.
PERGUNTA - Ele filma aquelas coisas mundanas, mas mesmo assim
se sente a tensão. Com ele, o ator
tem plena consciência de que está
sendo filmado, como num filme de
Manoel de Oliveira!
DENEUVE - Sim, mas nesses filmes é muito engraçado. Truffaut também tinha isso, de
tempos em tempos. Aquele jeito inteligente e astuto de saber
que certas coisas precisam ser
filmadas de certa maneira.
Aprendera isso com Hitchcock, observando-o e fazendo
aquele livro ["Hitchcock/ Truffaut", Cia. das Letras]. Um modo inimitável de filmar.
François falava livremente
sobre o que fazia e como filmava as coisas. Cara a cara: tinha
que ser uma conversa reservada, nunca um debate público.
PERGUNTA - Qual é seu filme favorito de Godard, entre os recentes?
DENEUVE - Não, não entre os recentes. Quando ouço as palavras de seus filmes recentes,
acho que são absolutamente
maravilhosas, fico incrivelmente comovida.
Mas, quando assisto aos filmes, não consigo me identificar
realmente com eles. De seus filmes, diria provavelmente "O
Demônio das Onze Horas".
Mas não conheço suficientemente seus filmes.
PERGUNTA - Um filme favorito de
Scorsese?
DENEUVE - Ahnn... Não, não "A
Época da Inocência". "Cassino"
é realmente brilhante. Ah, sim,
já sei: "Touro Indomável".
PERGUNTA - Obviamente, porque a
sra. é mulher e adora identificar-se
com Jake LaMotta.
DENEUVE - É sobretudo por causa de Robert de Niro. Assistir a
um ator tornar-se aquilo para
um filme, vê-lo conseguir ser
filmado desse jeito por seu diretor... A única coisa que me irrita um pouco nos filmes de
Scorsese são as mulheres. Acho
que são um pouco pisoteadas.
PERGUNTA - Que atores americanos mais a fascinaram?
DENEUVE - Sempre os achei
muito assexuados. Muito sexy e
muito assexuados. James
Dean, sim, eu o achava muito
comovente, diferente, surpreendente. Eles vieram mais
tarde para mim: Al Pacino, De
Niro. Esses dois em especial.
Mas há muitos outros atores
americanos que amo.
Francamente, acho muito
mais fácil pensar nos nomes
dos atores americanos que nos
dos europeus. Com a exceção
dos britânicos -adoro os atores britânicos.
PERGUNTA - É mesmo? Quem?
DENEUVE - Estão todos mortos:
Lawrence Harvey, Tom Courtenay, Peter Finch... e Albert
Finney, que hoje me lembra
tanto o pai de Chiara, fisicamente. É fantástico o quanto
me lembra Mastroianni.
PERGUNTA - A sra. disse algo sobre
Mastroianni, certa vez, que adoro.
Disse que no cinema, diferentemente do teatro, não há homens e mulheres, apenas meninos e meninas.
DENEUVE - Bem, é verdade!
PERGUNTA - Concluo com Truffaut:
"Se a humanidade se divide entre
exibicionistas e voyeurs, Catherine é
voyeur, logo está mais próxima da
vida." Acho isso perfeito.
ARNAUD DESPLECHIN é cineasta francês, diretor de "A Amada" (2007) e "Reis e Rainha"
(2004), entre outros filmes. A íntegra deste texto foi publicada na "Film Comment".
Tradução de Clara Allain.
NA INTERNET - Leia a íntegra desta
entrevista em www.folha.com.br/083521
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