São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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CRISTOVÃO TEZZA

O autor
Chega a ser uma crueldade escolher entre Machado de Assis e Guimarães Rosa, duas referências absolutas da linguagem e da literatura brasileiras.
Mas são também dois projetos ficcionais distintos, duas visões de mundo marcantemente diferentes. E é com base nelas que faço minha escolha pessoal -se fosse o caso limite, digamos, de levar apenas a obra de um deles para uma ilha deserta.
Prefiro Machado de Assis, porque sinto nele um Brasil, ou um mundo novo, que se abre inteiro; a obra de Machado antecipa um país mental que nem sequer existia e que continua se fazendo aqui e agora.
Enquanto Guimarães Rosa nos fala de um universo que se fecha, um Brasil que se encerra, um fim de caminho que encontrou nele o seu poeta maior.
Não por acaso, Machado continua alimentando os escritores; seu mundo literário não se circunscreve a um tema ou a uma linguagem; há uma transparência no seu olhar que nos dá passagem. Já a força temática e lingüística de Guimarães é tamanha que pobre daquele que, entrando no seu mundo, tente lhe seguir os passos. Machado é um mapa; Guimarães, um oráculo.

A obra
Na duríssima escolha entre "Dom Casmurro" e "Memórias Póstumas de Brás Cubas" -que para mim concentra o melhor Machado de Assis-, fico com o primeiro, por essa combinação perfeita entre o narrador não confiável, o mundo se constituindo de impressões num quebra-cabeças que depende apenas da solidão do nosso olhar e, de certa forma, a fundação brasileira do "cidadão moderno", sem tábua a se agarrar.
Mas reconheço que "Brás Cubas" tem certamente uma maior importância histórica, pelo impacto de sua originalidade e pela antecipação praticamente completa de tudo o que Machado faria depois. Além disso, há um alcance social nas "Memórias Póstumas" que continua batendo no Brasil.


CRISTOVÃO TEZZA é escritor, autor do romance "O Filho Eterno" (Record).


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