São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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ABEL BARROS BAPTISTA

O autor
Machado de Assis é muitíssimo superior a Guimarães Rosa, e dou para isso razão fortérrima: o próprio Rosa o reconheceu.
Há uns anos, certa pessoa, que não ganhou reputação pela inteligência, olhou-me nos olhos e de dedo em riste falou isto: "Pois fique o senhor sabendo que eu considero Guimarães Rosa muitíssimo superior a Machado de Assis". Estremeci. E talvez vacilei. Mas por pouco tempo.
Era o caso de, na altura, eu ter relacionamento meio privilegiado com senhora brasileira dada ao espiritismo, não obstante estudos de pós-graduação na USP. Fácil, ela chamou o próprio Rosa e perguntou para ele: "Puxa! seu Rosa, o senhor se acha mesmo superior a Machado?".
E a resposta veio claríssima: "Deixa de besteira, moça! Foi bobagem assim o que lhe ensinaram na universidade? Tem nenhum quem superior a Machado, maior que ele só o um Shakespeare! Capaz também que Deus, mas duvidando e andando, viu? Duvidando e andando".

A obra
Ressalvo que não votei em nenhum autor; mas sempre reconheço que, se me recusassem comida antes que eu elegesse, decerto elegia "Memórias Póstumas de Brás Cubas", em parte por motivo que não divulgo, e no resto apenas oferecendo em fundamento este poema de Ricardo Reis: "Quero dos deuses só que me não lembrem./
Serei livre -sem dita nem desdita,/
Como o vento que é a vida/
Do ar que não é nada./
O ódio e o amor iguais nos buscam; ambos,/
Cada um com seu modo, nos oprimem./
A quem deuses concedem/
Nada, tem liberdade."


ABEL BARROS BAPTISTA é professor de literaura na Universidade Nova de Lisboa, em Portugal, e autor de "O Livro Agreste" e "Autobibliografias" (ambos pela ed. da Unicamp).


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