São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA

O autor
Igualmente Machado e Guimarães Rosa, como Oswald Andrade, Clarice Lispector e Euclydes da Cunha. Sou pela orgia, e nessa orgia eles estão juntos.
Desses artistas não podemos dizer que são melhores ou piores: eles têm a percepção do invisível -que o rebanho precisa classificar. Todos eles é preciso ler em voz alta -Guimarães Rosa, nem se fale. É uma língua falada e viva, transparente ao invisível.

A obra
Minha obra predileta de Machado é [a crônica, incluída em "Páginas Recolhidas"] "Canção de Piratas", sobre as primeiras notícias de Canudos: "O Conselheiro. Não lhe ponhas nome algum, que é sair da poesia e do mistério". "Tudo pirata. O romantismo é a pirataria, é o banditismo, é a aventura do salteador que estripa um homem e morre por uma dama." Vou fazer uma música sobre isso -tudo pirataria!.
Ele diz: "Ó vertigem das vertigens!". Isso influenciou Euclydes, que escreveu a partir da vertigem.
E tira o peso da interpretação marxista de Roberto Schwarz, que reduz o texto. Realista, romântico -a classificação prejudica Machado. Machado de Assis, negro, epilético, escreve com sobriedade, mas tem um vulcão dentro de si -é a vertigem que interessa.
Vejo uma coisa louca nesse texto: Machado se coloca como artista, como o cara que tem concepção da vida, mais que uma consciência. O artista está plugado na vida, a mesma vida de que Guimarães Rosa fala com sua linguagem. Em "Canção de Piratas", você sente vontade de cantar -é um transe.


JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA é diretor teatral, em cartaz com "Taniko - O Rito do Mar", em São Paulo.


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