São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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De Al Jonson a Bob Dylan

Quase 40 anos atrás levei para casa, no Bronx, meu primeiro disco de Bob Dylan. Nosso único toca-discos ficava no quarto de minha mãe, e eu não podia ouvi-lo sem que ela escutasse. Ela gostava, mais do que eu pensei que gostaria -talvez percebesse "o grito em sua voz"-, mas disse que tinha um problema com o nome dele. "Hmm... Bob Dylan. Me pergunto como seria antes." Como era antes? Nomes de batismo, adotivos e modificados eram uma questão crucial para a geração de meus pais: isso era central para sua maneira de avaliar a autenticidade. Eu ficava louco! Mas é claro que ela tinha razão. Se olharmos para trás de uma longa perspectiva, o nome "Bob Dylan" soa quase tão real ou exatamente quanto "Jack Robin". Não estou dizendo que qualquer dos nomes de Dylan seja irreal. Estou apenas dizendo que toda a questão da autenticidade é muito mais escorregadia do que qualquer um de nós imaginava quando éramos jovens. Talvez algum dia um estudante em algum lugar explore o tema através das obras de Dylan ao longo de 40 anos (talvez isso possa justificar a existência dos estudos culturais). Eu cito isso agora apenas porque o título de seu último álbum, "Love and Theft", e o refrão da melhor canção -"Eu só fiz uma coisa errada/ Fiquei em Mississippi um dia a mais"- sugere que isso está na mente dele. Não que eu jamais tentasse disputar ou perseguir ou rastrear ou traçar a mente de Bob Dylan. Mas a órbita em que ela está girando hoje parece muito a que Al Jolson definiu, mais de 70 anos atrás, quando nos convidou para seu camarim para vê-lo se pintar de preto. (MARSHALL BERMAN)


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