São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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ANTONIO CANDIDO , crítico - "Eu comecei a frequentar a Biblioteca Municipal quando esta ainda se localizava na rua Sete de Abril, em 1938, ano em que vim de Minas para estudar em São Paulo, e me lembro da inauguração da nova sede, sob direção do Rubens Borba de Morais, que a planejou muito bem. Eu trabalhei intensamente na biblioteca durante algumas fases, como na elaboração de uma tese sobre literatura brasileira, em 1944, sobretudo na seção de obras raras. Quando estava escrevendo "Formação da Literatura Brasileira" [ed. Itatiaia", entre 1946 e 1956, novamente fiz muitas pesquisas na seção de obras raras. Mas a biblioteca, naquela época, era sobretudo um importante centro de atividades intelectuais; em 1945 nós fizemos ali as discussões de preparação para o 1º Congresso Brasileiro de Escritores. Quando Sérgio Milliet foi diretor, eu me lembro de ver muitos escritores irem procurá-lo, porque ele tinha grande autoridade intelectual em São Paulo, era uma referência para os jovens."

MARILENA CHAUI , filósofa - "A biblioteca foi decisiva para mim e toda a minha geração. Era o centro cultural de São Paulo e é um marco na vida da cidade, grande obra de Mário de Andrade e, posteriormente, de Rubens Borba. Sua revitalização é uma iniciativa louvável, que deve deixar todos nós de coração alegre, porque promete dar a ela o lugar que ela teve e merece continuar tendo."

ROBERTO SCHWARZ , crítico - "Além de ser um lugar de estudo, a biblioteca era um ponto de encontro, era a nossa base no centro. Eu fui um frequentador assíduo do fim do secundário até terminar a faculdade, portanto de meados dos anos 50 até a década de 60, e muitas das amizades que tenho até hoje nasceram lá. Nem preciso citar nomes, porque iam todos lá, a biblioteca era o local onde quem tivesse ambição intelectual se sentia em casa. E o centro da cidade era muito ameno naquele tempo. Além da biblioteca, eu ia muito à sala de revistas, que tinha vários títulos estrangeiros, o que possibilitava estar em dia com as coisas. Eu me lembro de encontrar muitas vezes o então diretor da biblioteca, Sérgio Milliet, que exercia uma espécie de orientação aos jovens frequentadores: os poetas levavam seus poemas para ele palpitar."

BENTO PRADO JR. , filósofo - "Quando era estudante secundário, tinha muito interesse por política, filosofia e literatura, e comecei a frequentar a biblioteca quase diariamente. Encontrei várias pessoas e fiz muitas amizades ali; havia a turma dos "adoradores da estátua", que ficavam no hall conversando. Naquela época, em 1953-54, constitui-se um grupo de pessoas com interesses comuns, desde a turma do teatro, como Manoel Carlos, Flávio Rangel, Antunes Filho, até o pessoal da política: Maurício Tragtenberg, Otaviano del Fiori e Leôncio Martins Rodrigues; muitos poetas a frequentavam. Nós estudávamos, batíamos papo no hall e, quando tínhamos dinheiro, continuávamos a conversa no "Pari Bar"." (JM)

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