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6 questões sobre a atual crise no Oriente Médio
KEN SILVERSTEIN
Augustus Richard
Norton é professor
de antropologia e
de relações internacionais na Universidade de Boston. Antes de entrar para o corpo docente da
universidade, Norton foi oficial
de carreira do Exército, na infantaria: seu serviço incluiu
dez anos como professor na
academia de West Point.
Antes disso, dois anos de
combate no Vietnã (1968-71), a
maior parte deles em unidades
aerotransportadas, e 14 meses
como observador militar no sul
do Líbano (1980-81).
Aposentou-se em 1993 como
coronel e professor de ciência
política na Academia Militar
dos EUA. Escreveu sobre o Líbano por 25 anos, e grande parte de sua obra se concentra nos
movimentos políticos xiitas,
incluindo o Hizbollah.
PERGUNTA - Por que o Hizbollah
capturou os soldados israelenses?
AUGUSTUS RICHARD NORTON - Foi
uma operação bem planejada,
que exigiu meses de preparativos. Uma operação semelhante
fracassou no início deste ano.
O Hizbollah foi taticamente
muito inteligente, mas estrategicamente foi um verdadeiro
jogo de azar. O objetivo era obter a libertação de [três] prisioneiros libaneses e, provavelmente, reforçar a imagem do
Hizbollah e aproveitar a preocupação de Israel com Gaza.
Acredito que o Hizbollah tenha agido de maneira autônoma. Não foi uma decisão do Irã,
para desviar a atenção de seu
programa nuclear. O Irã e o
Hizbollah são organicamente
ligados e compartilham a mesma visão de mundo, mas o secretário-geral do Hizbollah,
Hassan Nasrallah, se convenceu de que tinha uma estrutura
dissuasiva que evitaria uma tal
reação israelense.
Foi um erro monumental.
PERGUNTA - Por que Israel reagiu
ao incidente dessa forma?
NORTON - Não acredito na idéia
de que o primeiro-ministro
Ehud Olmert esteja tentando
melhorar seu currículo, de que
ele se sentiria inseguro à sombra de Ariel Sharon. Isso faz
parte de uma profunda estratégia da defesa israelense para
atingir indiretamente o Irã e facilitar um ataque de Israel ao
programa nuclear do país mais
tarde, caso o decida. O Hizbollah e seu arsenal de foguetes
eram um obstáculo para isso.
PERGUNTA - A reação de Israel foi
excessiva?
NORTON - Parece-me que Israel
poderia ter adotado uma postura mais elevada, trabalhando
por meio da ONU e empreendendo uma ação militar limitada. O que está acontecendo
agora é absurdamente excessivo. Começou há pouco e o número de mortos no Líbano já
ultrapassa as três centenas [até
quinta passada], na maioria civis, e o governo libanês estima
em pelo menos US$ 2 bilhões
[R$ 4,4 bilhões] os danos à infra-estrutura. Estão atacando o
que é necessário para o dia-a-dia no Líbano.
Tenho conversado com pessoas que moram no Líbano, e
parece que Israel estabeleceu
uma "caixa de morte" no sul do
país, o que os EUA chamavam
de "zona de tiro livre" no Vietnã. Você define uma zona, que é
dominada pelo ar, e obriga os
civis a saírem -já há centenas
de milhares de libaneses deslocados. Então supõe-se que
qualquer coisa que ainda se
mova ali seja inimiga.
É uma receita para a morte
de muitos civis desafortunados,
como aconteceu dias atrás,
quando 16 moradores de aldeias no sul do Líbano foram
mortos em automóveis, enquanto cumpriam a ordem de
Israel para que abandonassem
suas casas.
PERGUNTA - Qual é o provável resultado disso tudo?
NORTON - A questão principal é
o tempo. Israel indicou que
quer uma semana, ou talvez
duas, para operar. Os EUA e a
comunidade internacional lhes
darão o tempo desejado? Nesse
caso, o Hizbollah sairá significativamente prejudicado, mas
não desaparecerá. Desarmar
totalmente o Hizbollah é uma
tarefa de tolos. É fácil demais
esconder armas, e há incentivos demais para mantê-las.
O Hizbollah está enfrentando um dilema interessante.
Quanto mais usar os foguetes,
mais razões dará para que o período de tempo continue aberto. No Líbano haverá um rearranjo político. O Hizbollah vai
perder estatura, não conseguirá manter sua posição privilegiada depois do que aconteceu.
PERGUNTA - Qual é a provável conseqüência para Israel?
NORTON - Israel cometeu um
grande erro. Pode ter comprado tempo em termos da ameaça
à sua fronteira norte, mas a história mostrou que suas tentativas arrogantes de consolidar a
hegemonia sobre seus vizinhos
geralmente provocam o surgimento de adversários ainda
mais ferozes. No Oriente Médio, enfrentará ódio e rejeição
ainda maiores do que já sofre.
PERGUNTA - O que explica a passividade do governo Bush em relação
aos atos de Israel?
NORTON - Estudo a política externa americana para o Oriente
Médio há 34 anos e não consigo
me lembrar de um presidente
que subordinasse tanto os interesses americanos aos interesses israelenses quanto esse. O
governo está sendo ingênuo sobre como isso vai repercutir em
outros lugares, como o Iraque.
Israel está basicamente visando os muçulmanos xiitas, e
isso vai intensificar o sectarismo que alimenta a guerra civil
no Iraque. Há outras coisas
com que deveríamos nos preocupar -mas George W. Bush
aparentemente acha que os interesses americanos e os interesses israelenses coincidem.
É por isso que os EUA têm
uma política externa omissa.
Esta entrevista foi publicada na "Harper's".
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.
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