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Feminismo
em prosa
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
Esta coletânea de contos da norte-americana Alice Walker foi lançada em 1967 -a autora começava a adotar, em literatura, o que
chamaria mais tarde de "womanismo" ("mulherismo", ou ação
positiva, ou atitude politicamente
correta, ou lesbianismo "light",
digamos assim) em termos de militância feminista.
Alice Walker, 54, mais conhecida pelo romance "A Cor Púrpura", pelo qual ganhou o prêmio
Pulitzer, elegeu como tema central
de seus livros a vida da mulher negra no sul dos Estados Unidos, a
mais racista das regiões do país, e
onde a própria escritora nasceu
(na Geórgia).
Em "De Amor e Desespero",
Walker apresenta 13 histórias de
mulheres, 13 Celies, para mencionar a heroína sofredora e massacrada pela
maioria branca
(e masculina,
aos olhos de
seus narradores e personagens) de "A
Cor Púrpura".
Na primeira
história, "Roselily", uma
dona de casa,
mãe de quatro
filhos com diferentes homens, experimenta pela primeira vez uma
cerimônia de casamento -com
um novo homem que pode lhe trazer a dignidade que nunca teve.
A narrativa é construída a partir
de fragmentos do monólogo interior de Roselily, pequenos trechos
intitulados cada um a partir de um
pedaço do texto original da cerimônia. Como se, ao desmontar a
estrutura das frases que compõem
o texto tradicional ("Se alguém
aqui presente souber de um motivo pelo qual os dois não devam se
unir etc"), estivesse representado
o casamento partido, não-tradicional da protagonista.
No segundo conto, "E o Crime
Não Compensa Mesmo?", uma
escritora insatisfeita tanto com o
marido quanto com o amante, que
não a compreendem, prepara uma
vingança sangrenta contra seus
"opressores".
A partir de fragmentos desordenados do diário da escritora, desfia-se seu rosário de queixas contra os homens: "Ele se casou comigo porque, apesar de eu ter a
pele escura, ele acha que eu pareço
francesa". Ou: "Todas as vezes
que ele me diz como eu sou estranha por querer escrever histórias,
ele aborda o tema de ter filhos ou
de ir fazer compras, como se fosse
tudo a mesma coisa".
Outras histórias, como "O Diário de uma Freira Africana", parecem tese de antropologia étnica
e passam longe da ficção: uma freira negra de uma missão em Uganda tenta manter sua fé inabalada a
despeito da sedução e da tentação
do Ocidente e seus machos franceses, americanos, alemães, italianos.
O texto de
Alice Walker
está mais para
panfleto do
que para literatura, tem mais
de engajamento -contra o
racismo, em
prol do feminismo e da vingança feminina, contra a
"condição" da mulher negra-
do que de lirismo. É uma ficção
entediante, difícil de engolir, sem
qualquer fundamento mais profundo ou original que justifique
-em termos literários- suas teses anti-racistas e anti-homem.
Nos últimos tempos, Walker
tem se dedicado à militância feminista que defende o fim da mutilação genital em alguns países muçulmanos e em certas tribos africanas. Seu livro "Possessing the
Secret of Joy" (Possuir o Segredo
do Prazer) trata disso.
A OBRA
De Amor e Desespero - Alice Walker.Tradução de Waldéa
Barcellos. Ed. Rocco (r. Rodrigo
Silva, 26, 5º andar, CEP
20011-040, RJ, tel.
021/507-2000). 136 págs. R$
16,50.
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