São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Filhos da cesta básica

Estudos divergem quanto ao aumento do IDH em regiões canavieiras

DOS ENVIADOS AO INTERIOR DE SP

M aria Vanilda Sabino diz que a filha Vitória tem uma boneca. A menina de quatro anos, porém, não sabe onde ela está.
Maria mora com o marido nos fundos de uma casa. Cortador de cana, com carteira assinada por usina, Antônio é analfabeto como a mulher.
Com o casal dormem três filhas no quarto. Na cozinha, diante do fogão, dois filhos. Não há geladeira. O terceiro cômodo é um banheiro. Os três rebentos maiores estão no Nordeste -são oito no total.
A alagoana Maria chegou a Serrana no ano passado. O peso de duas meninas caiu para o nível de desnutrição. Engordaram graças a leite e cesta básica doados pela prefeitura. Em junho, como sempre, Maria recebeu R$ 112 do Bolsa Família.
Em mês recente, Antônio ganhou R$ 487 líquidos. Só de aluguel se foram R$ 140. Sua renda é a única do lar.
Artigo inédito dos economistas Francisco Alves (UFSCar) e Marcelo Paixão (UFRJ) analisou 71 municípios paulistas que tinham mais de 40% de superfície total ocupada com cana na década de 1990.
Concluiu que nessas cidades a renda é maior, porém apenas sete alcançavam em 2000 IDH (Índice de Desenvolvimento Humano, que contempla também saúde e educação) maior que a média do Estado. Só 13 superavam o IDH médio de suas microrregiões. E em 43 a desigualdade ultrapassava a das microrregiões.
Também com base em dados do IBGE de 2000, os professores da USP Alceu Salles Camargo Júnior e Rudinei Toneto Júnior chegaram a constatações opostas.
Pesquisa da dupla sustenta que os municípios com pelo menos 28,8% de cana-de-açúcar plantada, no conjunto da área da lavoura (não da superfície total), têm IDH maior que os sem esse perfil agrícola.
Em sentido contrário, estudo do presidente do Ipea, Marcio Pochmann, afirma que 81% das famílias dos trabalhadores do setor sucroalcooleiro de SP (agricultura e indústria) tiveram em 2005 rendimento de até dois mínimos.
"É o público do Bolsa Família, de renda equivalente", diz Pochmann.


Texto Anterior: A morte cansada
Próximo Texto: Operário-padrão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.