São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Manual antiquado

Máquinas já colhem 50% da safra em SP; a cada 1% de área mecanizada, 2.700 pessoas perdem emprego

DOS ENVIADOS AO INTERIOR DE SP

Moradores de cidades litorâneas praguejam contra o estrago que a maresia faz nos eletrodomésticos. Mas não têm idéia do inferno que é, para a limpeza de casa, a sujeira nos municípios onde se cultiva cana.
Limpa-se de manhã, e, à noite, a fuligem das queimadas encobre tudo de novo. A imundície vai acabar, bem como o fogo e os cogumelos de fumaça que lançam gás carbônico e outros poluentes que conspiram para o aquecimento global.
Protocolo ambiental do governo do Estado com as usinas prevê para 2014 o fim das queimadas em áreas passíveis de colheita mecanizada de cana e, para 2017, nas não mecanizáveis (acima de 12 graus de declive). Conforme a Unica, estas representam em torno de 7%.
Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da entidade, afirma que o prazo será antecipado: "2014 será quase o fim". A produtividade dos cortadores é maior em lavouras submetidas antes à queima. O fogo preserva as varas, e o corte manual fica mais simples.
E menos perigoso -as queimadas eliminam animais peçonhentos. Na cana crua, a colheitadeira é ainda mais rentável que o homem.
A safra deste ano (denominada 2008/2009), de abril a novembro, é a primeira em que pelo menos metade da cana será colhida mecanicamente, anuncia a Unica. O custo da operação da colheita mecanizada é 20% menor.
As máquina substitui cerca de 80 homens. O conjunto de equipamentos que inclui a colheitadeira sai em média por R$ 1,2 milhão, calcula a Unica. Há 1.650 em ação em SP.
Em 2006, o Estado produziu 299 milhões de toneladas de cana e empregou 189,6 mil pessoas no corte manual. No total, contando a colheita mecânica e a indústria de etanol e açúcar, havia 260,4 mil empregados.
Em 2015, dizem os usineiros, será zero o emprego em colheita manual. Na cadeia produtiva, haverá 127,8 mil funcionários, mesmo colhendo 457 milhões de toneladas.
Os cortadores são 135 mil em São Paulo em 2008, estimam os empresários. No Brasil, ao todo seriam 335 mil. A Unica adota estatísticas de um estudo que, baseado no IBGE, quantificou em 566 mil os trabalhadores no cultivo da cana no país em 2006. No Nordeste, os cortadores serão mantidos por mais tempo que em SP.
No centro-sul, que concentra o setor sucroalcooleiro e inclui o Sudeste, a colheita na safra é 11,57% maior que em 2007 no mesmo período. A produção de açúcar caiu 2,51%, mas a de álcool se expandiu 15,61%.
Destina-se ao etanol 60% da cana. O Instituto de Economia Agrícola, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de SP, avalia que, a cada 1% de área mecanizada, desempregam-se 2.700 pessoas.


Texto Anterior: Lida subjetiva
Próximo Texto: Vestígios arcaicos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.