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Desafio secular
Para o teólogo inglês John Milbank, islamismo olha a modernidade "com horror"
LUIZ FELIPE PONDÉ
ESPECIAL PARA A FOLHA
John Milbank é um dos
teólogos mais importantes da atualidade. De difícil enquadramento político, seu grupo de elite,
"Radical Orthodoxy" [Ortodoxia Radical], reuniu-se em Granada, na Espanha, entre 15 e 18
deste mês, discutindo pós-modernidade e teologia.
Anglo-católico, Milbank tem
criticado duramente a submissão da teologia às ciências sociais. Para ele, a sociologia permanece uma "religião civil", na
medida em que acredita na sociedade como organismo de
sentido e no Estado moderno
como instância reguladora.
Não avançamos muito de
Comte a Durkheim, só fingimos que não adoramos mais o
"social em si". Afirmar que o
"social" seja um dado é puro a
priori ideológico.
FOLHA - O que o senhor pensa do
fundamentalismo islâmico?
JOHN MILBANK - Os EUA são um
problema tão grande quanto o
fundamentalismo islâmico. O
islamismo tem uma tendência
a interpretações literais dos
textos sagrados. Eles têm sérias
dificuldades com leituras alegóricas e críticas com relação
"à" palavra de Deus do Alcorão.
Olham a modernidade com
horror. Suspeitam da política
secular. São críticos duros do
secularismo. Está aí um desafio
para a teologia da libertação.
FOLHA - Mas o secularismo é um
problema?
MILBANK - Sim. Nele só sobra o
"poder", o utilitarismo.
O modo de se relacionar com
o tempo é mediado pelo "ganhar dinheiro" e pelo consumo
frenético. A vida se torna banal
e desesperada.
FOLHA - Qual é o papel da teologia
além da luta social ou da auto-ajuda? E o do papa?
MILBANK - Restabelecer uma
eclesiologia séria. A igreja é o
único espaço de redenção social possível. O marxismo não
soube o que fazer com a igualdade que buscou. É necessário
definir o conteúdo da igualdade
em jogo. Igualdade de escolhas
não basta. Quanto ao papa, ele
tem a "mão dura", mas é muito
melhor teólogo do que todos os
seus críticos. A encíclica "Deus
É Amor" discute problemas
além dos limites comuns.
Por exemplo, toca a dimensão teológica do sexo. Bento 16
percebe muito bem que não há
essa fronteira evidente entre
razão e revelação.
FOLHA - E quanto ao amor entre
homossexuais e o papel da mulher
na Igreja?
MILBANK - Acho que a Igreja
Católica erra negando o sacerdócio às mulheres. A mulher
tem uma vocação profunda para a disciplina teológica. Quanto ao homossexualismo, a questão é infinitamente mais complicada. Não acho que se deva
abrir mão da heterossexualidade como norma, pois o homossexualismo é essencialmente
narcisista, e isso é um problema. Um "mundo homossexual"
aumentaria a rivalidade entre
homens e mulheres. Seria catastrófico. Acho necessário criticarmos as obviedades liberais
em sexualidade. Sou contra o
casamento entre homossexuais e a adoção de crianças.
Provavelmente teriam problemas psicológicos graves. A
heterossexualidade como normatividade da vida guarda muito mais o valor da diferença.
Amar quem você não entende é
uma experiência muito maior.
Mas isso não me impede de
pensar que, teologicamente, há
que se encontrar um lugar para
o homossexualismo que não seja identificado com o mal puro
e simples.
LUIZ FELIPE PONDÉ é professor no programa de
pós-graduação em ciências da religião e do departamento de teologia da Pontifícia Universidade Católica-SP e da Faculdade de Comunicação da Fundação Armando Álvares Penteado. A
íntegra desta entrevista será publicada no nš 4
(ainda inédito) da revista "Agnes", do Núcleo de
Estudos em Mística e Santidade da PUC-SP.
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