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Um viajante incansável
Já consagrado como autor de "Os Indiferentes" e "O Conformista", escritor chega ao Brasil enviado
pelo "Corriere della Sera"
ADRIANA MARCOLINI
ESPECIAL PARA A FOLHA
A visita de Alberto
Moravia ao Brasil,
em 1960, faz parte
de uma longa série
de viagens do autor
como enviado especial da imprensa italiana.
Em agosto de 1930, um convite para trabalhar no jornal
"La Stampa", na época sob a direção do escritor Curzio Malaparte, introduz o jovem escritor no mundo do jornalismo.
Para driblar o regime fascista,
que o perseguia, Alberto Pincherle, que tinha então apenas
23 anos, resolveu adotar o
pseudônimo com o qual ficou
mundialmente conhecido.
Com uma nova identidade e
cansado de respirar a atmosfera pesada do fascismo, Moravia
foi enviado naquele mesmo
ano para a Inglaterra, de onde
escreveu seus primeiros relatos de viagem, publicados entre
1930 e 1932.
Tem início, assim, uma larga
trajetória que o leva a visitar
países geograficamente próximos à Itália, como a Grécia e a
antiga Tchecoslováquia, ou
com alguma afinidade cultural
como a Espanha e a França,
mas também distantes como os
Estados Unidos e a China.
Ele percorre exaustivamente
o Oriente Médio, a Ásia, a África e a América Latina. Moravia
dizia-se fascinado pelo Terceiro Mundo e nutria uma particular atração pela África, continente por ele definido como "a
coisa mais bela que existe no
mundo".
Durante nada menos que 60
anos dedicou-se à literatura de
viagem. Seus últimos textos
são sobre a Irlanda, onde esteve em julho e agosto de 1990,
pouco antes de morrer, em setembro daquele ano.
Os artigos que o Mais! publica nesta edição são excertos
dos relatos sobre o Brasil reunidos no livro "Opere - Viaggi,
Articoli, 1930-1990" [Obras
-Viagens, Artigos, ed. Bompiani, 33,57, R$ 101].
Foram publicados no jornal
"Corriere della Sera", de Milão,
com o qual o escritor estabeleceu uma profícua colaboração,
que se prolongou por 42 anos.
Provavelmente, o principal
motivo que trouxe o autor ao
Brasil tenha sido a inauguração
de Brasília, em abril de 1960.
Passados somente 15 anos do
fim da Segunda Guerra, a nova
capital carregava um forte simbolismo, com sua aura de modernidade e futuro, atraindo a
atenção dos europeus sedentos
de esperança.
A leitura dos artigos revela
um sentido arguto de observação e o predomínio de textos
límpidos e diretos -que era,
aliás, o estilo de Moravia.
O autor conheceu o sucesso
em 1929, quando conquistou a
crítica e os leitores com o romance "Os Indiferentes", cuja
publicação foi custeada pelo
próprio autor, graças a um empréstimo de seu pai.
O mais pessimista e amargo
de seus romances mostra a dissolução moral, a frieza e a indiferença no seio de uma família
da burguesia italiana durante
os primeiros anos do fascismo,
apontando para o cinismo como a única regra no interior da
sociedade.
Foram cinco edições em poucos meses, um êxito comercial
para a época. A obra é um marco na literatura do "novecento", ampliando os horizontes
da narrativa italiana.
O escritor aprofunda sua linguagem e estilo neste livro, utilizando uma construção sintática objetiva e um vocabulário
seco e sem rodeios, que seriam
a tônica de sua obra.
Moravia também publicou
muitos romances, como "A Desobediência", "A Romana", "O
Conformista" e "1934", entre
outros. Escreveu ainda livros
de contos, ensaios e peças teatrais. Várias de suas obras foram adaptadas para o cinema.
Era admirador do estilo teatral de Dostoiévski, de quem foi
leitor assíduo na adolescência,
e dizia que seu ideal literário
era fundir a técnica teatral com
a da narrativa.
Foi agraciado em 1952 com o
prêmio literário Strega, um dos
mais prestigiosos da Itália.
ADRIANA MARCOLINI é autora da dissertação
de mestrado em literatura italiana na USP
"O Brasil nos Relatos de Jornalistas Italianos".
ONDE ENCOMENDAR - Livros em
italiano podem ser encomendados
na Livraria Italiana (tel. 0/xx/11/
3259-8915).
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