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Para ler Platão no original
Sai no Brasil 1º dicionário de grego clássico-português, coordenado por pesquisadoras da Unesp
ERNANE GUIMARÃES NETO
DA REDAÇÃO
Com o lançamento do
"Dicionário Grego-Português", uma demanda trivial do estudante brasileiro
está sendo suprida -mas em
partes. Planejada em cinco fascículos a serem lançados semestralmente, a obra (Ateliê
Editorial, 264 págs., R$ 70 o
primeiro fascículo) só deve estar totalmente disponível no
segundo semestre de 2008.
O dicionário foi organizado
por Maria Celeste Dezotti, Maria Helena Neves e Daisi Malhadas, professoras da Universidade Estadual Paulista, em
Araraquara (SP), com a contribuição de pesquisadores de outras instituições, como a USP e
a Universidade Federal do Rio
de Janeiro.
Com preocupações didáticas,
este volume (com as letras de
alfa a delta) organiza em tabelas as possibilidades de uso dos
principais verbetes.
Malhadas, professora aposentada da Unesp e ex-presidente da Sociedade Brasileira
de Estudos Clássicos, falou à
Folha sobre a empreitada.
FOLHA - Por que lançar um dicionário de grego?
DAISI MALHADAS - Há muito tempo há demanda por um dicionário, mas não tínhamos condições. Tivemos de estudar tudo de latim e grego em dicionários e gramáticas franceses.
Esse projeto é antigo, mas a
equipe começou mesmo a trabalhar em 1989, e devagar, na
medida do possível.
FOLHA - O que esse trabalho tem
de inédito no Brasil?
MALHADAS - Tudo. Não tínhamos dicionário. Há o "Isidro"
["Dicionário Grego-Português", org. Isidro Pereira, ed.
Apostolado da Imprensa, Portugal], mas não é tão completo.
FOLHA - E por que em fascículos?
MALHADAS - Tivemos como modelo para os fascículos o dicionário feito na Espanha por
Francisco Adrados. É claro que
ele tinha uma equipe muito
maior. Publicar em fascículos
de certa maneira ajudou os pesquisadores, porque o dicionário pode entrar no cômputo das
pesquisas. É um comprovante
de produção.
FOLHA - Foi difícil convencer a
equipe a fazer essa apresentação
mais didática?
MALHADAS - Desde o início houve o consenso em fazer um dicionário para o pesquisador,
sim, mas apresentado da maneira mais clara possível. Tivemos a preocupação de distinguir as informações, dar um visual mais legível.
Também há preocupação
com o conteúdo didático -pergunto muitas vezes ao redator
que apresenta o texto: "Isso está claro para um aluno?".
FOLHA - Qual foi a influência de dicionários canônicos, como o francês
"Bailly" e o inglês "Liddell and
Scott"?
MALHADAS - As versões reduzidas foram base de consulta para chegarmos aos autores -depois fomos à fonte dos textos
[originais do grego clássico e do
Novo Testamento]. A partir dos
exemplos de texto, aumentamos o número de verbetes em
relação às versões abreviadas.
FOLHA - O "Dicionário" irá ajudar a
popularizar o estudo do grego ou se
trata de um nicho estável?
MALHADAS - Desde que comecei
a estudar grego ouço falar da
morte do grego. Nas universidades, é como o teatro -está
sempre morrendo. Sempre haverá quem tenha vontade de estudar uma língua como o grego
e sua literatura mais a fundo.
FOLHA - O conhecimento do grego
é imprescindível para estudar filosofia ou literatura?
MALHADAS - Perguntam-me para que estudar o grego desde
que comecei a estudá-lo. Eu
procurava justificativas -como
ser uma das origens da língua
portuguesa, da filosofia, uma literatura da qual se originam gêneros atuais...
Atualmente digo que o grego
não é produto de supermercado. Não vou procurar uma fórmula, para que serve. O grego
tem a beleza da arte, é importante em si.
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