São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2007

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Sai no Brasil 1º dicionário de grego clássico-português, coordenado por pesquisadoras da Unesp

ERNANE GUIMARÃES NETO
DA REDAÇÃO

Com o lançamento do "Dicionário Grego-Português", uma demanda trivial do estudante brasileiro está sendo suprida -mas em partes. Planejada em cinco fascículos a serem lançados semestralmente, a obra (Ateliê Editorial, 264 págs., R$ 70 o primeiro fascículo) só deve estar totalmente disponível no segundo semestre de 2008.
O dicionário foi organizado por Maria Celeste Dezotti, Maria Helena Neves e Daisi Malhadas, professoras da Universidade Estadual Paulista, em Araraquara (SP), com a contribuição de pesquisadores de outras instituições, como a USP e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Com preocupações didáticas, este volume (com as letras de alfa a delta) organiza em tabelas as possibilidades de uso dos principais verbetes. Malhadas, professora aposentada da Unesp e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, falou à Folha sobre a empreitada.

 

FOLHA - Por que lançar um dicionário de grego?
DAISI MALHADAS
- Há muito tempo há demanda por um dicionário, mas não tínhamos condições. Tivemos de estudar tudo de latim e grego em dicionários e gramáticas franceses. Esse projeto é antigo, mas a equipe começou mesmo a trabalhar em 1989, e devagar, na medida do possível.

FOLHA - O que esse trabalho tem de inédito no Brasil?
MALHADAS
- Tudo. Não tínhamos dicionário. Há o "Isidro" ["Dicionário Grego-Português", org. Isidro Pereira, ed. Apostolado da Imprensa, Portugal], mas não é tão completo.

FOLHA - E por que em fascículos?
MALHADAS
- Tivemos como modelo para os fascículos o dicionário feito na Espanha por Francisco Adrados. É claro que ele tinha uma equipe muito maior. Publicar em fascículos de certa maneira ajudou os pesquisadores, porque o dicionário pode entrar no cômputo das pesquisas. É um comprovante de produção.

FOLHA - Foi difícil convencer a equipe a fazer essa apresentação mais didática?
MALHADAS
- Desde o início houve o consenso em fazer um dicionário para o pesquisador, sim, mas apresentado da maneira mais clara possível. Tivemos a preocupação de distinguir as informações, dar um visual mais legível. Também há preocupação com o conteúdo didático -pergunto muitas vezes ao redator que apresenta o texto: "Isso está claro para um aluno?".

FOLHA - Qual foi a influência de dicionários canônicos, como o francês "Bailly" e o inglês "Liddell and Scott"?
MALHADAS
- As versões reduzidas foram base de consulta para chegarmos aos autores -depois fomos à fonte dos textos [originais do grego clássico e do Novo Testamento]. A partir dos exemplos de texto, aumentamos o número de verbetes em relação às versões abreviadas.

FOLHA - O "Dicionário" irá ajudar a popularizar o estudo do grego ou se trata de um nicho estável?
MALHADAS
- Desde que comecei a estudar grego ouço falar da morte do grego. Nas universidades, é como o teatro -está sempre morrendo. Sempre haverá quem tenha vontade de estudar uma língua como o grego e sua literatura mais a fundo.

FOLHA - O conhecimento do grego é imprescindível para estudar filosofia ou literatura?
MALHADAS
- Perguntam-me para que estudar o grego desde que comecei a estudá-lo. Eu procurava justificativas -como ser uma das origens da língua portuguesa, da filosofia, uma literatura da qual se originam gêneros atuais...
Atualmente digo que o grego não é produto de supermercado. Não vou procurar uma fórmula, para que serve. O grego tem a beleza da arte, é importante em si.


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