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Sonho, infância e libido opuseram Jung e Freud
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A
ruptura de Jung com
Freud, entre 1912 e
1913, se dá quando o primeiro propõe uma ampliação
do conceito de libido: Jung
combate a existência de uma
energia sexual específica, chamada por Freud de libido; e redefine este último termo como
"energia psíquica", em geral o
conjunto dos "diversos impulsos e forças psíquicas", dos
quais a sexualidade é uma das
expressões mais importantes
-mas não anterior, por exemplo, à fome.
Jung se afasta de Freud também ao falar em um inconsciente coletivo, o substrato comum à psique da humanidade.
Isso implica mudanças na estratégia terapêutica, já que, para Jung, o desejo sexual será
apenas uma entre outras chaves possíveis de interpretação
dos sonhos e fantasias.
O sonho é "aquilo que é", ao
invés de disfarce de alguma outra coisa qualquer.
Jung assim recusa a fórmula
freudiana de que o sonho é a
realização (disfarçada) de um
desejo reprimido. "Os sonhos
podem ser feitos de verdades
inelutáveis, de sentenças filosóficas, de ilusões, de fantasias
desordenadas, de recordações,
projetos, antecipações, seja
mesmo de visões telepáticas,
de experiências íntimas irracionais, e de não sei mais o que
ainda", disse Jung.
A própria sexualidade pode
fornecer recursos para a "simbolização" de impulsos mais
amplos. Em "Símbolos da
Transformação" -livro que
marca a ruptura com Freud-,
Jung fala nos desejos incestuosos não como mera regressão
edipiana a ser levada ao pé da
letra, mas como um movimento de introversão da energia vital rumo ao ventre materno arquetípico, em busca de um "renascimento" da personalidade.
A psicologia de Jung costuma ser diferenciada da de
Freud pela ênfase relativamente maior que é concedida à vida
adulta e ao desenvolvimento
futuro do paciente, em detrimento das reminiscências infantis. Enquanto Freud considera a religião uma ilusão
opressiva e escapista, a ser ultrapassada pela racionalidade
científica ("nosso deus Logos"), Jung tem uma visão bem
mais positiva desse fenômeno.
Ele vê no ser humano uma
"função religiosa" espontânea,
indestrutível e potencialmente
saudável, já que aloja a possibilidade de uma experiência do
mito, ou seja, dos símbolos do
inconsciente coletivo, algo valioso para o bem-estar, criatividade e humanização mais ampla do indivíduo.
(CL)
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