São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

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Sonho, infância e libido opuseram Jung e Freud

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A ruptura de Jung com Freud, entre 1912 e 1913, se dá quando o primeiro propõe uma ampliação do conceito de libido: Jung combate a existência de uma energia sexual específica, chamada por Freud de libido; e redefine este último termo como "energia psíquica", em geral o conjunto dos "diversos impulsos e forças psíquicas", dos quais a sexualidade é uma das expressões mais importantes -mas não anterior, por exemplo, à fome.
Jung se afasta de Freud também ao falar em um inconsciente coletivo, o substrato comum à psique da humanidade.
Isso implica mudanças na estratégia terapêutica, já que, para Jung, o desejo sexual será apenas uma entre outras chaves possíveis de interpretação dos sonhos e fantasias.
O sonho é "aquilo que é", ao invés de disfarce de alguma outra coisa qualquer.
Jung assim recusa a fórmula freudiana de que o sonho é a realização (disfarçada) de um desejo reprimido. "Os sonhos podem ser feitos de verdades inelutáveis, de sentenças filosóficas, de ilusões, de fantasias desordenadas, de recordações, projetos, antecipações, seja mesmo de visões telepáticas, de experiências íntimas irracionais, e de não sei mais o que ainda", disse Jung.
A própria sexualidade pode fornecer recursos para a "simbolização" de impulsos mais amplos. Em "Símbolos da Transformação" -livro que marca a ruptura com Freud-, Jung fala nos desejos incestuosos não como mera regressão edipiana a ser levada ao pé da letra, mas como um movimento de introversão da energia vital rumo ao ventre materno arquetípico, em busca de um "renascimento" da personalidade.
A psicologia de Jung costuma ser diferenciada da de Freud pela ênfase relativamente maior que é concedida à vida adulta e ao desenvolvimento futuro do paciente, em detrimento das reminiscências infantis. Enquanto Freud considera a religião uma ilusão opressiva e escapista, a ser ultrapassada pela racionalidade científica ("nosso deus Logos"), Jung tem uma visão bem mais positiva desse fenômeno.
Ele vê no ser humano uma "função religiosa" espontânea, indestrutível e potencialmente saudável, já que aloja a possibilidade de uma experiência do mito, ou seja, dos símbolos do inconsciente coletivo, algo valioso para o bem-estar, criatividade e humanização mais ampla do indivíduo. (CL)


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