São Paulo, Domingo, 26 de Setembro de 1999
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LIVROS
Sites de busca agrupam acervos de centenas de antiquários do mundo e ajudam a encontrar livros raros e esgotados
A revolução dos sebos virtuais

Juca Varella/Folha Imagem
Maristela Montesanti Atallah, que dirige a Cali Antiquária, em São Paulo, e passou a vender obras raras pela Internet


JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

A informática está revolucionando a vida de bibliófilos, alfarrabistas, colecionadores de livros ou simples pesquisadores. Depois do sucesso das livrarias on-line, que trabalham com publicações ainda presentes nos catálogos das editoras, chegou a vez dos sebos virtuais.
Aos ácaros que costumam emprestar o "cheiro de livro antigo" aos sebos misturam-se agora bites e bytes, a matéria-prima da informação eletrônica que circula pela Internet, a rede mundial de computadores.
As principais alavancas dessa transformação são dois sites norte-americanos, Bibliofind e Advanced Book Exchange, também chamado de Abebooks.
Esses instrumentos de busca agrupam os acervos de centenas de sebos canadenses, australianos, norte-americanos, holandeses, ingleses, sul-africanos e até brasileiros, entre outros países. Ambos os sites afirmam vasculhar estantes virtuais com mais de 10 milhões de livros.
A pesquisa pode ser feita por autor, título, palavra-chave, preço, só primeiras edições, só livros autografados etc. Além disso, é possível simular o ato de examinar prateleiras lendo os catálogos organizados por assunto.
Qualquer que seja o meio escolhido, o resultado é muitas vezes satisfatório. Mesmo para autores que não sejam de língua inglesa. Procurando-se por livros de Fernando Pessoa, por exemplo, o Abebooks retornou 34 respostas, e o Bibliofind, 42.
A pesquisa por autores contemporâneos que foram mais traduzidos para o inglês costuma dar resultados ainda mais volumosos. No caso de Jorge Amado, as ofertas chegam perto de uma centena em ambos os sites.
Mas esse talvez não seja o melhor uso para esses sites de busca de livros usados. "Eles são importantes para se conseguir coisas que, antes, pareciam impossíveis, porque chega muito pouca coisa ao Brasil", avalia o deputado Delfim Netto (PPB-SP), dono de uma biblioteca de 80 mil volumes.
O ex-czar da economia brasileira conta que costuma usar o Bibliofind para procurar livros que foram publicados há dez anos ou mais e estão esgotados nas livrarias. "A chance de achar é de 50%", diz.
Uma vez encontrada a obra, o Bibliofind ou o Abebooks envia os pedidos para as livrarias, que, a partir daí, tratam do negócio diretamente com o cliente, ficando responsáveis pela cobrança e pelo envio do livro.
O método de pagamento varia de sebo para sebo, mas a maioria aceita cartão de crédito. A remessa é feita pelo correio e o seu custo depende do meio escolhido: por via aérea ou por navio. O tempo de entrega é inversamente proporcional ao preço.
Dependendo da pressa do cliente e do volume do pedido, compensa escolher o "airmail". O custo de transporte dos EUA para o Brasil, por exemplo, fica entre US$ 4 e US$ 20 para o primeiro livro (cai muito a partir do segundo exemplar). Demora cerca de uma semana para chegar.
Para o simples colecionador ou pesquisador, que não está preocupado com edições raras, a Internet está criando um mercado que não existia antes, ressalta Delfim: "Tem uma competição que antes não havia".
Isso porque o cliente pode até procurar pessoalmente um livro em vários sebos de uma mesma cidade para comprar naquele que oferece o melhor preço. Mas seria impossível fazer o mesmo em vários sebos de vários países. É o que a Internet permite. Delfim conta que uma de suas últimas aquisições foi um lançamento de 1978 chamado "Regional Economics". Fez a pesquisa no Bibliofind e obteve seis ofertas, de sebos diferentes. Os preços variavam até 100%, de US$ 12 a US$ 25.
Para o bibliófilo ou para o colecionador, a Internet oferece possibilidades que não têm nada a ver com o melhor preço: é a chance de encontrar obras raras em vários cantos do mundo.
Com a ajuda do Bibliofind e do Abebooks é possível comprar, por exemplo, 1 dos 100 únicos exemplares da primeira edição inglesa de "Ulysses", impressa em papel especial e assinada pelo próprio James Joyce. Por US$ 16,5 mil, na Lame Duck Books. Ainda mais cara é a coleção de partituras originais autografadas com as principais canções de George Gershwin: US$ 40 mil, na James Pepper Rare Books. Mais "em conta" é a primeira edição (1843) de "A Christmas Carol" ("Um Conto de Natal", de Charles Dickens), vendida por cerca de US$ 12 mil, na Bromlea & Jonkers Rare Books.
Mas para a maioria dos consumidores de livros usados brasileiros as melhores alternativas continuam sendo os sebos nacionais que, aos poucos, vão colocando os pés na Internet.
Duas das melhores livrarias especializadas em obras antigas do país, a Calil Antiquária e o Brandão Livraria Sebo, inauguraram sites próprios. Mas são ainda incipientes: não permitem consulta aos seus acervos de mais de 200 mil títulos cada um.
O Brandão Sebo (com lojas em São Paulo, Salvador e Recife) usa a Internet para receber consultas e encomendas por e-mail. As respostas costumam ser rápidas e eficientes, mas ele não faz vendas por cartão de crédito.
O site da Calil, lançado há cerca de oito meses, oferece uma pequena amostra com 150 obras de seu acervo, especializado em história e assuntos brasileiros. Mas recebe consultas e pedidos por e-mail. Mesmo com essas limitações, Maristela Montesanti Calil Atallah, que sucedeu ao pai à frente da Calil Antiquária em São Paulo, diz que 20% a 25% das suas vendas já são feitas pela Internet. Nem ela nem Brandão estão vinculados ao Bibliofind nem ao Abebooks.
Não é o caso da Taberna Libraria, de Fortaleza. Inaugurada em março de 1998, filiou-se ao Bibliofind em julho passado. Segundo a sua proprietária, a bibliotecária aposentada Antonieta Bezerra, os poucos dados disponíveis indicam que cerca de 20% das vendas são pela Internet.
Poucas livrarias brasileiras têm sites que permitem a consulta ao seu catálogo completo de obras usadas. São os casos, por exemplo, da Kosmos (Rio de Janeiro), Calabrez (São Paulo), Papirus e Osorio (ambas de Curitiba).
As duas primeiras oferecem sistemas de busca no próprio site. As duas últimas só permitem a consulta direta ao catálogo (dividido por temas), mas têm grande variedade e preços muito atraentes.


Colaborou Ricardo Bonalume Neto.


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