São Paulo, Domingo, 26 de Setembro de 1999
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Virtualização total ainda demora

da Reportagem Local

As vendas de livros usados e raros pela Internet devem crescer, mas não o suficiente para acabar com a existência física dos sebos -pelo menos no curto prazo. É o que afirmam livreiros e compradores.
Há dois motivos principais. No caso brasileiro, a maioria dos acervos dos sebos não está organizada nem catalogada, o que impede sua transferência para a rede mundial de computadores e a busca de títulos específicos.
Em tese, essa dificuldade poderia ser superada com o tempo, mas, por ora, poucos livreiros se mostram preocupados em fazer isso. Ao contrário, ainda é comum entrar em um sebo em São Paulo e encontrar o acervo disperso pelas prateleiras, sem nenhum tipo de organização.
Apenas as livrarias organizadas tendem a seguir o caminho da venda exclusiva pela rede.
"Pretendo trabalhar só com a Internet", afirma Maristela Calil, da Calil Livraria Antiquária. "A minha tendência, infelizmente, é fazer um sebo apenas virtual em dois ou três anos no máximo", diz. Ela só abriria as portas do acervo para clientes especiais.
Esse é outro obstáculo para a completa virtualização dos sebos: o apego do colecionador ao objeto chamado livro. Por mais completa que seja a descrição veiculada na Internet sobre o estado do livro, muitos compradores não se contentam com ela e querem vê-lo pessoalmente.
"Não acredito, pelo menos por uns bons anos, que tudo isto vá se transformar em realidade virtual", afirma Antonieta Bezerra, da Taberna Libraria. "Mesmo sendo virtual o mercado, penso que os "viciados" jamais abrirão mão de um sebo bem sortido."
Comprador de livros desde os 14 anos, Delfim Netto, 71, se enquadra nessa definição. "A compra pela Internet acaba com aquele prazer quase sensual de ir ao sebo." Apesar de usuário frequente dos sebos virtuais, como o Bibliofind, e de comprar muitos livros por meio de catálogos impressos, Delfim continua frequentando as livrarias: "Quando estou em São Paulo é muito raro não ir a um sebo. E, quando viajo ao exterior, também."
É por causa de clientes como ele que o mercado de livros usados e raros não deve virar apenas uma realidade virtual.
Além disso, ao menos por enquanto a Internet parece não estar agregando novos consumidores a esse mercado. Tanto na opinião de Calil quanto na de Bezerra, os compradores que usam a Internet são os mesmos que já frequentavam os sebos pessoalmente. Só que agora eles têm a vantagem de poder vasculhar prateleiras virtuais mundo afora.

(JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO)


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