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Virtualização total ainda demora
da Reportagem Local
As vendas de livros usados e raros pela Internet devem crescer,
mas não o suficiente para acabar
com a existência física dos sebos
-pelo menos no curto prazo. É o
que afirmam livreiros e compradores.
Há dois motivos principais. No
caso brasileiro, a maioria dos
acervos dos sebos não está organizada nem catalogada, o que impede sua transferência para a rede
mundial de computadores e a
busca de títulos específicos.
Em tese, essa dificuldade poderia ser superada com o tempo,
mas, por ora, poucos livreiros se
mostram preocupados em fazer
isso. Ao contrário, ainda é comum entrar em um sebo em São
Paulo e encontrar o acervo disperso pelas prateleiras, sem nenhum tipo de organização.
Apenas as livrarias organizadas
tendem a seguir o caminho da
venda exclusiva pela rede.
"Pretendo trabalhar só com a
Internet", afirma Maristela Calil,
da Calil Livraria Antiquária. "A
minha tendência, infelizmente, é
fazer um sebo apenas virtual em
dois ou três anos no máximo",
diz. Ela só abriria as portas do
acervo para clientes especiais.
Esse é outro obstáculo para a
completa virtualização dos sebos:
o apego do colecionador ao objeto chamado livro. Por mais completa que seja a descrição veiculada na Internet sobre o estado do
livro, muitos compradores não se
contentam com ela e querem vê-lo pessoalmente.
"Não acredito, pelo menos por
uns bons anos, que tudo isto vá se
transformar em realidade virtual", afirma Antonieta Bezerra,
da Taberna Libraria. "Mesmo
sendo virtual o mercado, penso
que os "viciados" jamais abrirão
mão de um sebo bem sortido."
Comprador de livros desde os
14 anos, Delfim Netto, 71, se enquadra nessa definição. "A compra pela Internet acaba com aquele prazer quase sensual de ir ao sebo." Apesar de usuário frequente
dos sebos virtuais, como o Bibliofind, e de comprar muitos livros
por meio de catálogos impressos,
Delfim continua frequentando as
livrarias: "Quando estou em São
Paulo é muito raro não ir a um sebo. E, quando viajo ao exterior,
também."
É por causa de clientes como ele
que o mercado de livros usados e
raros não deve virar apenas uma
realidade virtual.
Além disso, ao menos por enquanto a Internet parece não estar
agregando novos consumidores a
esse mercado. Tanto na opinião
de Calil quanto na de Bezerra, os
compradores que usam a Internet
são os mesmos que já frequentavam os sebos pessoalmente. Só
que agora eles têm a vantagem de
poder vasculhar prateleiras virtuais mundo afora.
(JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO)
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