São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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DUELO DE CORPOS

Divulgação
"Sem Título" (2001), de Eduardo Fraipont


PUBLICADOS NOS EUA, "UMA MENTE PRÓPRIA", SOBRE O GRADUAL DESPRESTÍGIO SOCIAL DO PÊNIS, E "A HISTÓRIA DE V", QUE GLORIFICA A VAGINA, SE PROPÕEM A RECRIAR O IMAGINÁRIO DESSES ÓRGÃOS AO LONGO DA HISTÓRIA, MAS DERRAPAM EM INTERPRETAÇÕES ENGAJADAS

por Thomas Laqueur

Esses dois livros são de certa maneira imagens espelhadas um do outro. "A Mind of Its Own - A Cultural History of the Penis" [Uma Mente Própria -Uma História Cultural do Pênis, 368 págs., US$ 15, ed. Penguin], de David M. Friedman, é uma história cultural do pênis, desde o patriarca Abraão até a última cura para a disfunção erétil, com muitas histórias evolucionárias especulativas no caminho. "The Story of V - A Natural History of Female Sexuality" [A História de V - Uma História Natural da Sexualidade Feminina, 322 págs., US$ 24,95, Rutgers University Press], de Catherine Blackledge, tende mais para o natural do que para a história humana, e é sobre "visões da vagina" desde a Idade da Pedra até o orgasmo "campeão". Os dois livros pairam em torno de um conjunto de questões sérias: como o corpo constitui a cultura e é constituído por ela; como seus prazeres, desejos e diferenças sexuais definem as mais profundas relações entre nós e entre nosso mundo e o mundo dos deuses; como a natureza define ou não as interações entre homens e mulheres; como reagimos a esse caos de interpretação. Mas aqui terminam as semelhanças. As histórias que eles contam são opostas entre si. Uma é a história da abjeção: a história do preocupado, incompreendido, atacado e muito castigado pênis, cujos bons momentos ocasionais rapidamente azedam. A outra canta a vagina triunfante, que pode ter seus detratores no Ocidente, mas em outros lugares -e na natureza- é heróica, honrada e reverenciada. "O relacionamento do homem com seu órgão definidor" pode, como Friedman sugere, ter "todos os elementos de um filme épico de Hollywood", e certamente há grandes momentos nos primeiros tempos dessa história: o pênis triunfando sobre a morte nos relatos egípcios do além-túmulo; o pênis como símbolo da inteligência divina na antiga Suméria; o pênis circuncidado como sinal da afinidade que os sacerdotes faraônicos e todos os israelitas, depois de seu oitavo dia, tinham com Deus. Mas, na maior parte, o pênis mostrou-se o mais frágil dos heróis, pateticamente efêmero, assediado, reprimido e desprezado. Já na página 25, com o advento do "pênis cristão", seus dias áureos estão contados; na página 30, com santo Agostinho, que "transformou o pênis mais do que qualquer homem até hoje", eles terminam para sempre. Nos primeiros séculos cristãos, "o cetro sagrado tornou-se a vara do demônio". As penitências medievais são obcecadas por ereções, sêmen e a natureza humana corrupta; Abelardo foi castrado como punição por seu caso com Heloísa; são Tomás de Aquino perpetua a demonização do pênis, que, como Friedman sugere de modo um tanto implausível, culminou em "um dos períodos mais terríveis da história": as perseguições às bruxas no século 16.

"Vara do demônio"
Somente o pênis de Cristo reteve em parte a antiga sacralidade -e não por muito tempo. Em 1559, quando um padre quebrou um pequeno pedaço do santo prepúcio que ele havia retirado sem autorização de um relicário, o trovão e o relâmpago sacudiram a terra. Mais ou menos nessa época, e não muito distantes, as ilusões desse padre infeliz estavam prestes a ser varridas pelo Renascimento. Leonardo da Vinci e outros homens de ciência haviam começado a investigação secular do pênis. "A vara do demônio" estava destinada a se tornar "a alavanca da engrenagem" -a medida do homem-máquina. No século 19, porém, ela também desandou. O pênis "natural" tornou-se tão ameaçador, causa de ansiedade e abjeto, quanto o teológico. Sim, ele produzia sêmen, que era cheio de animálculos que pareciam aumentar a glória do órgão. Mas ele vazava; falhava; levava, por meio da masturbação, à perda de precioso fluido corpóreo, à loucura e até à morte. Pior, tornou-se politicamente perigoso. A "alavanca" deu lugar à "vara de medição". O pênis do súdito colonial e do escravo negro, medido, dissecado, temido, tornou-se uma perigosa assombração para o órgão branco civilizado. O grande órgão genital do homem africano, agora objeto de uma nova antropometria especializada, passou a representar seu primitivismo. Traduzido para um contexto americano, o suposto grande pênis preto do escravo liberto produziu o medo e a hostilidade que levaram às mutilações que muitas vezes acompanharam os linchamentos. Como passamos da "vara de medição" racista para o "charuto" universalista não está claro, exceto como questão biográfica. Um famoso fumante de Viena decidiu que havia uma "ligação entre a idéia do pênis e a etiologia de certas doenças" e que isso era verdade não apenas para os negros e judeus mas para todos. Assim, após ser racionalizado, "o pênis foi psicanalizado": "do concreto ao inconsciente, do espécime de laboratório para o divã". Desde Agostinho ninguém havia feito a ligação do homem com seu pênis "tão autoconsciente quanto inconsciente", tão central para a psique e de fato para toda a história humana. Se para Agostinho o preço do pecado original eram as ereções que os homens não podiam controlar, para Freud o assassinato primal do pai, transmitido como o complexo de Édipo, deixou para os homens "uma civilização que controla nossas ereções". Nosso herói épico é agora uma confusão trêmula: temeroso de usar seu pênis, igualmente temeroso de perdê-lo e totalmente inconsciente de seu impacto político no mundo. Então chegaram as feministas.

Ferramenta de opressão
Agora o pênis não fazia nada certo. O que os homens chamavam brincando de sua "ferramenta" se tornou nos textos feministas uma ferramenta de opressão; a heterossexualidade não era natural, mas uma maneira de definir o erotismo feminino em termos masculinos; todo coito era estupro e, mesmo que não fosse, não era muito divertido para as mulheres. E parecia haver pouco que os homens pudessem fazer.
Infelizmente, diz, somos descendentes de "inúmeras gerações de (criaturas) bem-dotadas e de rápida ejaculação"; nossos ancestrais, que demoravam mais, não deixaram descendência. Melhoramos muito em termos percentuais sobre nossos ancestrais primatas, mas claramente ainda temos um longo caminho a percorrer. Os machos humanos levam em média quatro minutos para ejacular; os gorilas levam um minuto; um chimpanzé foi cronometrado em sete segundos. Não admira que milhares de mulheres tenham se queixado à pesquisadora sexual Shere Hite de que a relação sexual era insatisfatória; não admira que os homens desenvolvam disfunções eréteis e depois atribuam "seus fracassos às mulheres famintas por sexo".
A era do Viagra começa em Las Vegas, e Friedman conta bem a história. Foi em 1983. Enquanto Sammy Davis Jr. cantava "I Gotta Be Me", um excêntrico médico britânico chamado Giles Brindley demonstrava aos delegados da Associação Americana de Urologia que tinha uma droga capaz de produzir ereções quando se desejasse. Quando seus gráficos e tabelas se mostraram inconvincentes, ele enfrentou o desafio pedindo licença, indo até o banheiro e injetando-se alguma coisa, e, ao retornar, baixou as calças para mostrar a evidência aos cultos cavalheiros reunidos. Os que pensavam que tivesse colocado uma prótese, disse ele, poderiam verificar pessoalmente. A fenoxibenzamina de Brindley logo deu lugar a outras drogas, supostamente mais seguras. Sua história é bem conhecida, mas vale a pena ser lembrada: pesquisadores da Pfizer na década de 1980 tentavam encontrar uma aplicação comercial para a descoberta, ganhadora do Prêmio Nobel, de que o óxido nítrico exerce um papel na descontração dos músculos; eles ficaram decepcionados porque sua nova droga nada fez pela "angina pectoris"; mas tiraram a vitória das garras da derrota quando perceberam que ela produziu nos homens em que foi testada "um efeito colateral nada indesejável": ereções prolongadas. Havia começado uma revolução que reergueu o pênis não apenas da história, mas da cultura: "Não é mais parte do diálogo humano. É uma coisa". Impermeável agora a todos os seus antigos adversários -religião, idéias freudianas, críticas feministas-, o pênis está finalmente livre: "A fantasia masculina definitiva se realizou (...): um pênis que enrijece à vontade".

Politização
Um grande volume de pesquisas entrou neste livro. Os dois últimos capítulos, sobre as críticas feministas da masculinidade e sobre o pênis solipsista, desmistificado, cuja ascensão e queda estão finalmente controladas, valem o preço da compra. É bom lembrar que, embora nossas interpretações de Freud tenham se tornado mais lingüísticas e culturais em geral, ele se interessou extraordinariamente pela coisa em si. Dito isso, "Uma Mente Própria" é uma história, no máximo, parcial e, no mínimo, seriamente enganosa.
Friedman entende muitas coisas pela metade. Por exemplo, não há nada novo sobre a ligação entre pessoas consideradas primitivas e órgãos genitais grandes que supostamente teria definido a era da "vara de medição". Isso remonta aos gregos. A peculiar obsessão pelo pênis negro no sul-americano é menos provavelmente um caso de ansiedade deslocada da masculinidade sobre seu próprio órgão do que uma projeção do regime sexual desavergonhadamente coercitivo da escravidão e da era de apartheid que a sucedeu. É uma idéia bizarra a de que Freud nunca "politizou o pênis"; como o próprio Friedman sugere, a civilização depende da sublimação.
Mas nem nesse ponto nem em qualquer outro ele coloca muita ênfase em suas opiniões. Friedman tem razão em que o pênis, juntamente com o resto do corpo, tornou-se objeto de crescente estudo científico na era do pênis como alavanca. Mas está errado ao dizer que ele passou a ser conceituado diferentemente do que fora na Antigüidade.
Isso sugere o problema conceitual mais básico do livro de Friedman, que ele compartilha com o de Catherine Blackledge. Os órgãos reprodutivos masculinos e femininos assombram um ao outro; a carne é compartilhada. Se alguém quer escrever uma história do pênis ou da vagina, tem de ser a relação mútua; uma carnalidade comum se distingue segundo as opiniões sobre a sexualidade masculina e feminina. Isso é verdade em situações históricas particulares. E isso também é verdade na escala maior da evolução. Os órgãos reprodutivos evoluem em relação recíproca; não existe um "desenho vaginal" ao qual o pênis deve se adaptar nem vice-versa.
"A História de V" não quer saber nada disso. Ele tem um ponto de vista, e apenas um. Suas origens são pessoais.
A cultura ocidental passou a Catherine Blackledge "mensagens confusas" sobre sua vagina; ela não estava feliz "com o que tinha entre as pernas", confessa. Sim, aquilo tinha o poder único de procriar, mas o preço era alto. Ela teria de trabalhar a vida inteira ganhando menos por causa de seus órgãos genitais. "Eu era depreciada", ela lamenta, "por causa de minha vagina". Apesar do "prazer que fornecia", ela não podia "sentir-se bem ou orgulhosa de possuir genitália feminina". Então escreveu um livro. Blackledge nos conta que atirou sua rede amplamente, em "busca de visões alternativas da vagina"; queria encontrar "uma visão mais satisfatória". Ela "ilustraria o valor da vagina e da fêmea da espécie" reunindo "perspectivas vaginais de uma ampla gama de fontes". Essa promessa Blackledge cumpre. Seu livro parece um "Miscellany" de Schott [uma espécie de "Guia dos Curiosos" dos EUA] especializado, sem a cuidadosa citação de fontes do original: um catálogo de fatos e pseudofatos que supostamente provocam o orgulho pelo órgão, apagam as diferenças salariais e elevam o Ocidente obscuro aos níveis das civilizações orientais e de culturas tribais no respeito à vagina, e portanto, supostamente, às mulheres que as possuem. Ela começa pela cultura. "Infelizmente, para muitos, a idéia de uma mulher mostrar sua vagina é considerada ofensiva", porque mulheres de todo o mundo vêm "levantando suas saias há séculos". As mulheres expuseram suas vaginas a plantações, inimigos, porcos e adoradores no mundo inteiro. A vagina foi considerada em muitas religiões primitivas, e é ainda hoje na Índia, a origem do mundo. "Surpreendentemente", existe até um lugar para a adoração da vagina no islamismo. "Incrivelmente", a Europa medieval é uma rica fonte de exibição da genitália feminina. Tudo isso parece ser pelo bem das mulheres, porque os mitos genitais do passado e do presente contêm uma advertência: "Vilipendiar (...) a vagina ou as mulheres é voltar-se contra a própria vida".

Um órgão de que se orgulhar
O Ocidente entendeu tudo errado. Mas, mesmo em nossa civilização obscura, as glórias da vagina estão logo abaixo da superfície para serem recuperadas. Os corações na forma como os desenhamos e como aparecem nos cardápios junto dos itens de baixo teor de colesterol podem na verdade ser "uma relíquia de nossa antiga adoração da vagina"; a conhecida representação do Dia dos Namorados, afinal, parece uma vagina. A natureza, ainda mais do que a cultura, oferece um tesouro de fatos para reabilitar a vagina. Longe de ser um órgão passivo, a ciência mostra que ele "consagra uma das mais importantes funções da vida (...): a sobrevivência de uma espécie". É um órgão de que se orgulhar. Blackledge procura o que chama de "racionalidade do desenho" da vagina, que "permite que as mulheres exerçam uma enorme influência" sobre qual esperma realmente chega ao óvulo. A vagina é quem manda. Pelo menos para a autora, este livro é um sucesso. "Antes de eu começar a pesquisar e escrever, também tinha (...) um ponto de vista um tanto limitado" da vagina, ela nos conta na primeira página. Blackledge sabia que tinha uma entre as pernas; sabia que tinha a ver com sexo, prazer, sangramento e dor. E sabia que precisava obter uma "perspectiva mais equilibrada". "Poderia eu modificar meus sentimentos sobre a genitália feminina?", ela pergunta. Sim, é a resposta. "Diferentemente de santa Teresa no século 16", as mulheres modernas podem "desfrutar seus órgãos genitais e o prazer que eles trazem". Um relato do orgasmo no século 20 termina o livro: uma "sensação de êxtase por fazer parte de algo muito maior que eu mesma e, finalmente, uma recompensa de verdadeira satisfação e paz". "Orgulho, prazer e o milagre da criação -essa visão da vagina é a verdadeira história de "V"."" É um livro produzido com requinte por uma grande editora e pretende ser levado a sério. Seu tema figura de maneira central na natureza e na cultura: ele foi claramente objeto de misoginia e perseguição; ideologias de gênero claramente influenciaram o modo como ele foi estudado; e claramente um número considerável de pessoas, provavelmente na maioria mulheres, quer falar mais sobre isso em público. Blackledge também está certa ao dizer que precisamos estudar como a ideologia afeta a ciência, embora de modo algum seja tão simples quanto ela sugere.

Ereções nasais
Blackledge acha interessante a idéia de ereções nasais, porque ela "experimentou pessoalmente uma extrema excitação nasal depois do orgasmo". "Eu sinto" -é a base para a alegação duvidosa- que "cuneus", a marca de uma cunha, é "a verdadeira origem da palavra "cunt" [boceta, em inglês]". Disso se deduz muita coisa. O caractere cuneiforme babilônico para "mulher" é uma cunha cortada por uma linha -isto é, uma vulva fendida-, e, por meio dessa mágica etimológica, podemos explicar por que ""cunt" passou a ser uma palavra tão feia". Na verdade, não podemos, porque, como Blackledge demonstra, ela não foi tão feia em inglês entre a época babilônica e o Renascimento. Até ruas recebiam esse nome. A evidência sobre a perda do sentido do olfato ter um efeito negativo sobre a sexualidade vem de um pequeno estudo de 1960 -antigo demais para ter sido citado em alguma publicação menor- sobre sexualidade nas pessoas com um raro distúrbio genético, a síndrome de Kallman, em que a anosmia [perda do olfato] é apenas uma dentre uma multidão de anomalias sexuais e outras. Existe um capítulo inteiro sobre a vagina como jardim perfumado, em que uma pequena evidência de afinidade naso-genital é uma anedota de 1884 -de um cavalheiro vitoriano que espirrava toda vez que acariciava sua mulher- e um estudo que supostamente mostra que o abuso sexual é um "fator de estresse em casos de espirros paroxísmicos". Blackledge cita um pequeno banco de dados pouco representativo do período 1978-97 como evidência de que a atração do pênis explica a negligência da vagina e do clitóris na biologia moderna: "Os pênis são indexados, as vaginas quase nunca (...) -539 artigos tratam do pênis, enquanto apenas sete discutem o clitóris". Na verdade, no banco de dados Biosis, padrão para ciências da vida, há 9.568 citações de vagina e apenas 7.591 de pênis. Mais perturbadoras, porém, são as inferências que ela tira de seus supostos fatos. Em alguns casos o problema é simplesmente uma dedução maluca: as contrações internas da vagina do besouro e da abelha são fortes o suficiente para obrigar o macho a sair; a mosca tsé-tsé também tem essa habilidade. Isso "também pode acontecer nos seres humanos". Mesmo? Com base no que as moscas e as abelhas podem fazer? Mas, de modo mais geral, Blackledge declara a natureza como autoridade, quando na verdade ela pouco pode nos dizer sobre o que pensar de algo tão humano quanto nossa sexualidade. Ou, colocado de outro modo, ela nos diz o que queremos ouvir.

Era pré-darwiniana
O livro de Blackledge é fundamentalmente uma obra de religião que mistura fatos aleatórios do mito, da ciência e da história com depoimentos pessoais, para fazer um relato da passagem da autora da ignorância para a iluminação. Ela vive naquele feliz mundo pré-darwiniano em que tudo tem um objetivo e onde a maravilha dos menores detalhes de cada criatura de Deus fala da glória de seu criador. O bispo Paley e a turma da teologia natural do século 18 se sentiriam em casa.
A parte mais deprimente desse livro é o retorno à forma mais crua de essencialismo como base de pensamento político. Talvez Catherine Blackledge esteja sendo ingênua. Talvez ela realmente acredite que a vagina explica as diferenças salariais e que, se a vagina pudesse "tornar-se e permanecer valorizada e conhecida", tudo iria bem. Talvez ela tenha de alguma forma se convencido de que nas culturas em que a vagina figura com destaque na religião dominante -como a yoni no hinduísmo- ou onde existem muitas palavras bonitas para ela na poesia da corte, como na China, as mulheres são de certa forma elevadas ou reverenciadas. Talvez ela pense que em tempos antigos, com suas deusas da fertilidade, ou nas culturas tribais em que as mulheres tentaram fazer os grãos crescerem mais expondo suas vaginas aos campos, em vez de, como hoje, usar fertilizantes ou rotação de culturas, as coisas fossem melhores para as mulheres.
É claro que é importante por todo tipo de motivos, públicos e privados, que os órgãos sexuais não sejam embaraçosos ou impronunciáveis. Compartilhar um certo tipo de corpo, ter uma vagina ou um pênis, também pode criar uma experiência comum para mulheres e para homens. Esse é um tema muito maior. Mas, se esses dois livros mostram alguma coisa, é que a abjeção ao órgão e o orgulho do órgão são dois lados da mesma moeda tola, e que a natureza, complexa como é, fornece justificativa para nada e para tudo.

Onde encomendar
Livros em inglês podem ser encomendados, em SP, na livraria Cultura (tel. 0/xx/ 11/3170-4033).


Thomas Laqueur (1945) é historiador da Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA), e especialista em história social e da medicina. É autor de "Inventando o Sexo - Corpo e Gênero dos Gregos a Freud" (ed. Relume-Dumará) e "Solitary Sex - A Cultural History of Masturbation" (Sexo Solitário - Uma História Sexual da Masturbação, ed. Zone Books). A íntegra deste texto foi publicada no "Times Literary Supplement".
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves.


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