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O Apagão da era Tucana
APRESENTAÇÃ0
Fernando de Barros e Silva
Editor de Brasil
O ensaio do filósofo Paulo Arantes
que o Mais! publica pode
ser lido como um epílogo. Seu assunto: a relação entre a autodestruição de uma tradição intelectual progressista que se consolidou na USP dos anos 60
em torno da figura central do sociólogo Fernando Henrique Cardoso e o colapso do
projeto de modernização conservadora do
país articulado a partir de 94 sob a batuta do
mesmo FHC.
Que se trata de um capítulo terminal (da
inteligência crítica paulista e de sua experiência no poder) fica sugerido desde o título -"Extinção"-, de resto uma alusão ao
último romance do austríaco Thomas Bernhard (1931-1989), publicado em 1986, cujo
subtítulo é "Uma Derrocada". Bernhard
mobilizou boa parte de sua energia e talento
contra a estupidez da sociedade vienense
pós-nazista. A estupidez de certa elite intelectual paulista também é o tema de Arantes, mas as semelhanças terminam por aí.
O filósofo vai buscar o mote da argumentação de sua extinção à brasileira em outro
clássico maldito da língua alemã, a "Dialética do Esclarecimento" (1947), de Adorno e
Horkheimer, dupla central da Escola de
Frankfurt.
A simples comparação da barbárie nazista com o apagão à brasileira tem algo de escandaloso. O autor sabe disso e, mais de
uma vez, faz as devidas ressalvas entre um
caso e outro, o que não o impede de perguntar, parafraseando a abertura da "Dialética": "Como pode o Brasil totalmente esclarecido pelos "intelligenti" de nossa Escola
ousar resplandecer sob o signo de uma calamidade triunfal?". O texto trata de mostrar
como a "superioridade bem-informada" do
tucanato se converteu na forma superior da
estupidez nacional.
Diagnóstico de um país literalmente sem
luzes (do qual não escapam a esquerda e o
PT), o texto, concluído entre os dias 5 e 13 de
maio, é um epílogo também na obra recente
do autor.
Os capítulos que o antecedem estão reunidos em "O Fio da Meada" (Paz e Terra,
1996) e no "Diccionario de Bolso do Almanaque Philosophico Zero à Esquerda" (Vozes, 1997), livros em que Arantes já procurava medir e tirar as consequências da conversão do tucanato e do país à Restauração
neoliberal.
O tom, no entanto, agora é outro. O humor e a sátira das obras anteriores cederam
lugar à raiva de quem perdeu definitivamente a paciência.
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