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DIÁLOGOS IMPERTINENTES
Visões da Justiça
MARIO SERGIO CORTELLA
especial para a Folha
Nestes dias turbulentos, nos
quais o Judiciário brasileiro também vem sendo colocado no "banco dos réus" e, ao mesmo tempo, é
apontado como garantia de estabilidade democrática e instrumento
de equidade, inúmeras questões
despontam. Em torno de muitas
delas participamos, na noite de 25
de maio, durante duas horas, de
uma conversa sobre "A Justiça",
tendo como debatedores os juristas Hélio Bicudo, membro da Comissão Interamericana de Direitos
Humanos da OEA, e Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, presidente
da Associação dos Magistrados
Brasileiros. Quarto programa da
série/99 dos "Diálogos Impertinentes", "A Justiça" teve, ainda, a
mediação de Nelson Ascher, articulista da Folha.
No diálogo, falamos do aparelho
judiciário como servo do poder e
como abrigo dos inocentes, como
proteção da dignidade e como subserviente. Suspeitamos, por exemplo, de um axioma clássico: a Justiça é cega? Hélio Bicudo afirmou
que isso "é apenas um símbolo, ou
seja, ela desconhece o que são as
partes, o que me parece um pouco
desarrazoado, porque, para que se
efetive, deve ter os olhos bem abertos; a neutralidade representa
muito mais um aspecto negativo
na atuação das pessoas do que a tomada de partido em relação a
idéias, pessoas ou até a ideologias".
Luiz Fernando Carvalho, concordando, adendou que "isso está
ligado realmente a uma mitologia;
aquela venda nos olhos da Justiça
não deve expressar uma neutralidade que seria inatingível; o que,
de fato, um juiz deve procurar é a
isenção possível, na qual se busque, entre outras coisas, o distanciamento das paixões partidárias.
Carvalho lembrou que "a cidadania só pode se exercer na plenitude
com uma Justiça forte e independente, e ela assim o será se houver
uma cidadania nas mesmas condições; porém, não se deve olhar o
Judiciário com messianismo, pois
as pessoas devem ter uma noção de
como essa atividade funciona".
Bicudo acrescentou que "no modo como a Justiça brasileira está
organizada, o povo fica muito distante do juiz. Então, é preciso que
façamos essa aproximação do povo com a Justiça, colocando-a lá
onde está o povo, e não apenas sazonalmente".
O diálogo foi na justa medida...
Mario Sergio Cortella é professor da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo e autor de "A
Escola e o Conhecimento" (Inst. Paulo Freire/
Cortez). É apresentador e mediador dos "Diálogos Impertinentes" desde 1995.
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