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O alquimista dos palcos
Diretor do Projeto Strindberg fala sobre a busca mística do pioneiro do teatro moderno na Suécia, que se reconverteu ao cristianismo
CAIO LIUDVIK
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
August Strindberg
(1849-1912) foi um
artista em múltiplas áreas. Reconhecido como pioneiro do teatro moderno na
Suécia, trabalhou também com
contos e poesia, artes plásticas
e até mesmo alquimia.
Em seu país natal, o Projeto
Strindberg, mantido pela Universidade de Estocolmo, publica a obra completa do autor em
72 volumes.
O Conselho Nacional de Cultura da Suécia tem auxiliado
projetos fora do país, como a
edição de "Senhorita Júlia e
Outras Peças" e do romance
"Gente de Hemsö", recém-lançados pela editora Hedra.
Per Stam, professor da Universidade de Estocolmo e diretor do projeto, falou à Folha
por e-mail sobre a importância
das obras de Strindberg, como
a peça "Rumo a Damasco".
FOLHA - Gostaria que o sr. falasse
sobre o interesse de Strindberg por
aspectos como a religião e o ocultismo. Ele praticava a alquimia? Identificava-se de alguma maneira com a
conversão de são Paulo, como sugere "Rumo a Damasco"?
PER STAM - Editei algumas das
obras de Strindberg sobre alquimia. Na década de 1890, ele
dedicou alguns anos a desenvolver suas ideias sobre ciência
natural. Começou como ateu,
mas, ao contrário do que almejava, se tornou cristão durante
o processo.
O monismo de Ernst Häckel
[1834-1919] o inspirava, e
Strindberg acreditava que de
alguma forma fosse possível
que tudo se tornasse tudo o
mais: "Tudo está em tudo".
Assim, produzir ouro deveria
ser possível. Ele tentou fazer
ouro, mas encontrou dificuldades para conseguir que o "ouro"
produzido continuasse "ouro".
Seus esforços denodados para compreender a natureza o
conduziram ao cristianismo
(outra vez, porque ele havia sido cristão quando jovem).
Em sua estada em Paris de
1895 a 1897, fez amizade com
alguns dos ocultistas franceses,
que publicaram alguns dos ensaios dele em suas revistas.
Strindberg se aproximou do
catolicismo, mas nunca se converteu. Sua história é semelhante à de Paulo.
O romance "Inferno" foi escrito após ele ter deixado Paris
e, de certa forma, é um relato
sobre aqueles anos difíceis e o
que via como sua luta entre, de
um lado, a magia e as ciências
naturais e, do outro, Deus.
FOLHA - É correto afirmar que o romance "Inferno" é a obra fundamental na transição entre naturalismo e expressionismo empreendida
por Strindberg? Ou representa mais
provavelmente um documento para investigação psiquiátrica, como o
filósofo Karl Jaspers (1883-1969)
pretendia fazer?
STAM - Não creio que seja correto usar esse romance como
fonte para investigação psiquiátrica.
FOLHA - Strindberg se correspondeu com Nietzsche?
STAM - Sim, correspondeu-se
com Nietzsche por curto período, em 1888 e 1889. A correspondência se encerrou quando
Nietzsche passou a sofrer de
uma enfermidade mental.
FOLHA - O que é o Projeto Strindberg? Quais são seus objetivos?
STAM - A edição nacional [sueca] das "Obras Completas" de
August Strindberg recolherá e
publicará todos os trabalhos
dele -dramaturgia, romances,
contos, jornalismo, ensaios e
obras científicas (história natural, linguística etc.)- em uma
edição acadêmica anotada com
72 volumes. Sua correspondência já foi publicada em 22 volumes. Cada volume das "Obras
Completas" consistirá do texto
manuscrito por Strindberg, um
relato histórico sobre a obra em
questão e explicações sobre palavras difíceis etc.
O trabalho sobre essa coleção
começou quase 30 anos atrás; o
primeiro volume foi lançado
em 1981. Até o momento, 65 volumes já foram lançados.
Os textos finais devem sair
em 2012.
Durante esses 30 anos, um
grande grupo de editores trabalhou nos volumes individuais
ou em diversos deles. Quase 50
acadêmicos, de todo o mundo,
participaram do trabalho editorial. A equipe da Universidade de Estocolmo conta agora
com três editores trabalhando
em tempo integral.
Tradução de Paulo Migliacci.
GENTE DE HEMSÖ
Autor: August Strindberg
Tradução: Carlos Rabelo e Leon Rabelo
Editora: Hedra (tel. 0/xx/11/ 3097-8304)
Quanto: R$ 21 (204 págs.)
SENHORITA JÚLIA E OUTRAS PEÇAS
Autor: August Strindberg
Tradução: Guilherme da Silva Braga
Editora: Hedra
Quanto: R$ 21 (212 págs.)
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