|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Conta que não fecha
Equação para calcular chance de existir vida inteligente continua sem solução, dentro ou "fora" do Universo
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1961, o astrônomo
Frank Drake elaborou
uma equação com o
intuito de calcular a
probabilidade de existir alguma outra civilização
avançada no Universo. Enquanto vários astrônomos comemoram a longevidade dessa
empreitada, um estudo que
atualiza a equação de Drake
com dados científicos mais novos mostra que a vida inteligente deve ser muito, muito
mais rara do que se pensava.
O trabalho, que promete receber vaias de alguns fãs da série "Jornada nas Estrelas", ironicamente, vem de um físico
teórico extremamente popular
como autor de livros para o público leigo: o brasileiro Marcelo
Gleiser, do Dartmouth College
(EUA). No novo estudo, disponível no site arxiv.org, ele incorpora à equação de Drake
discussões sobre a possibilidade de existir um "multiverso"
-uma realidade com múltiplos
universos- e dados mais recentes sobre a evolução da vida.
O resultado vai contra soluções como a que o próprio Drake encontrou para a equação.
Ele acreditava que, por uma
questão de probabilidade, a Via
Láctea, nossa galáxia, teria pelo
menos dez outros planetas
abrigando civilizações avançadas. Na estimativa do astrônomo Carl Sagan, elas seriam
mais de 1 milhão. Nenhum dos
dados, porém, tem confiabilidade, afirma Gleiser.
"Há vários fatores na equação que a gente não tem a menor ideia de como estimar",
diz. Segundo o físico, o efeito
de acrescentar dados de ciência
mais recente na equação de
Drake, curiosamente, é criar
mais incerteza sobre o quão
útil ela é capaz de ser.
Se alguém considera a possibilidade de existirem múltiplos
universos, o natural seria imaginar que a vida ganharia mais
chances para brotar, já que a
realidade não estaria restrita
apenas ao nosso Cosmo. Mas,
para criar átomos, estrelas, planetas e vida, um outro universo
precisaria gerar partículas elementares similares às do nosso, e ter suas leis da física parecidas com as do nosso Cosmo.
Porém, continua Gleiser, "se
você tenta fazer uma medida
de probabilidade para saber
quantos desses outros universos teriam elétrons com carga
igual à do nosso, mesmo com
precisão de 10%, não consegue".
O estudo não é o primeiro a
incorporar a ideia de multiversos nas contas sobre a probabilidade do aparecimento de vida. Em 1995, o físico Alexander
Vilenkin, da Universidade
Tufts, já tinha proposto a ideia
de que o surgimento de civilizações inteligentes seria até algo "medíocre" dentro de um
panorama de muitos universos.
Ordem na casa
"Um pouco depois de publicar o estudo, recebi uma mensagem do Vilenkin, e ele disse:
"Finalmente você entrou para o
nosso time, o time do multiverso'", conta Gleiser. "Mas, não,
eu não entrei. O que estou tentando é justamente botar um
pouco de ordem na casa."
Sua critica, basicamente, é
contra o chamado princípio antrópico, uma ideia lançada por
outros físicos. Grosso modo, é
uma teoria propondo que qualquer análise feita com base na
observação do Universo precisa levar em consideração que o
"observador" foi produzido por
este mesmo Universo. Críticos
mais duros dizem que o princípio antrópico não passa de uma
tautologia criada a serviço de
uma agenda teológica, segundo
a qual Deus produziu o homem.
Segundo Gleiser, é prematuro discutir a vida inteligente fora deste Universo enquanto a
equação de Drake não pode incluir em seus termos nem mesmo a probabilidade de um micróbio evoluir para um ser humano na Terra. "Estão usando
o princípio antrópico como ferramenta científica, mas ela é
um argumento filosófico", diz.
Para o físico, como só faz sentido discutir o princípio antrópico em um panorama de multiversos, ela é uma hipótese que
jamais poderá ser testada e validada: por definição, nós humanos só temos acesso à realidade do nosso Universo.
Um dos pioneiros a lidar com
a ideia de multiverso, porém,
disse não estar se sentindo
"atacado" por Gleiser. Li o estudo e gostei", disse à Folha Leonard Susskind, da Universidade Stanford. "É mais um ensaio
do que um estudo técnico.
Acho que é um bom lembrete
de quão pouco nós entendemos sobre a origem e a evolução da vida, especialmente a vida inteligente."
(RG)
Texto Anterior: Ora, direis, ouvir ETs! Próximo Texto: "Faremos contato" Índice
|