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"Faremos contato"
Astrônoma que inspirou personagem de Jodie Foster
em filme diz que amostra de sinais ainda é pequena
DA REPORTAGEM LOCAL
Trabalhando no projeto Seti desde 1978, a
astrônoma Jill Tarter,
66, é hoje a cientista
mais influente na
área. Foi a única a conduzir um
projeto da Nasa, em 1992 e
1993, para busca de sinais extraterrestres.
A fama, porém, só chegou em
1997, quando o romance "Contato", de Carl Sagan, virou filme -a protagonista da história, Eleanor Arroway, interpretada por Jodie Foster, era inspirada na americana. Na obra,
a cientista faz uma viagem
mais rápida que a luz, conversa
com um ET -mas fica sem dados concretos da jornada.
Em entrevista à Folha, Tarter (hoje diretora do Centro de
Pesquisas Seti, na Califórnia)
explica por que considera a
busca de extraterrestres uma
jornada que mal começou.
(RG)
FOLHA - O programa Seti completa
50 anos agora sem ter conseguido
detectar nenhum sinal de rádio ou
luz enviado por extraterrestres. Vocês estão hoje mais otimistas ou
mais pessimistas do que estavam na
época das primeiras buscas?
JILL TARTER - Todo o trabalho inteligente feito pelo Seti buscando sinais ópticos ou de rádio é
como se fosse examinar um copo de água tirada do mar para
saber se os oceanos da Terra
têm peixes. Se você não encontrar nenhum, provavelmente
chegará à conclusão de que sua
amostragem é muito pequena
em vez de concluir que não há
peixes nos oceanos.
FOLHA - Qual é a chance de sucesso? Frank Drake criou uma equação
para estimar quantos planetas com
vida inteligente existem na galáxia,
mas ninguém soube solucioná-la.
TARTER - A equação de Drake
não é uma "equação" no sentido formal. Não dá para calcular
nada com ela, pois os termos ao
lado direito do sinal são desconhecidos -e provavelmente
continuarão assim até que tenhamos sucesso. O termo mais
aberto é a longevidade de uma
civilização com tecnologia de
transmissão. Nós podemos estabelecer um limite mínimo
usando nosso próprio exemplo
-fazemos isso há uns cem
anos-, mas não temos como
saber qual o máximo que uma
sociedade assim sobrevive.
Algumas pessoas tentaram
usar argumentos estatísticos,
mas, na verdade, não os adotei.
Elas estão assumindo que uma
civilização tecnológica é algo
pequeno em comparação com
as muitas tecnologias em evolução que a englobam. Algumas
dessas tecnologias poderiam
até viver mais do que as civilizações que as inventaram.
FOLHA - Com a digitalização de rádio e TV, os sinais de transmissão
não precisam mais ser tão potentes,
e a Terra está ficando silenciosa.
Drake diz que, por causa disso, está
ficando mais difícil para um ET nos
encontrar. Que tipo de sinal vocês
estão procurando vindo de ETs?
TARTER - Fizemos vários
workshops no fim do século 20
questionando o que o Seti deveria fazer durante as duas próximas décadas. Publicamos isso
no volume "Seti 2020". Destacamos a oportunidade de fazer
buscas no espectro óptico, porque a tecnologia necessária para contar fótons em uma cadência de nanossegundos [bilionésimos de segundos] estava
se barateando, e concluímos
que os sinais mais propensos a
serem detectados seriam as
transmissões intencionais.
A maioria de nós não dá muita bola para a ideia do "vazamento" de radiação, sinais projetados que não teriam mais
potência do que aquela requerida para sua finalidade. Nossas
transmissões de TV e rádio só
têm potência para alcançar a cidade ao lado, e os satélites só
transmitem para regiões que ficam logo abaixo deles. Se você
quer que seus sinais sejam detectáveis por tecnologias jovens emergentes -nós-, deve
construir transmissores poderosos com essa finalidade específica e mantê-los em operação.
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