São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

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"Faremos contato"

Astrônoma que inspirou personagem de Jodie Foster em filme diz que amostra de sinais ainda é pequena

DA REPORTAGEM LOCAL

Trabalhando no projeto Seti desde 1978, a astrônoma Jill Tarter, 66, é hoje a cientista mais influente na área. Foi a única a conduzir um projeto da Nasa, em 1992 e 1993, para busca de sinais extraterrestres.
A fama, porém, só chegou em 1997, quando o romance "Contato", de Carl Sagan, virou filme -a protagonista da história, Eleanor Arroway, interpretada por Jodie Foster, era inspirada na americana. Na obra, a cientista faz uma viagem mais rápida que a luz, conversa com um ET -mas fica sem dados concretos da jornada.
Em entrevista à Folha, Tarter (hoje diretora do Centro de Pesquisas Seti, na Califórnia) explica por que considera a busca de extraterrestres uma jornada que mal começou. (RG)

 

FOLHA - O programa Seti completa 50 anos agora sem ter conseguido detectar nenhum sinal de rádio ou luz enviado por extraterrestres. Vocês estão hoje mais otimistas ou mais pessimistas do que estavam na época das primeiras buscas?
JILL TARTER -
Todo o trabalho inteligente feito pelo Seti buscando sinais ópticos ou de rádio é como se fosse examinar um copo de água tirada do mar para saber se os oceanos da Terra têm peixes. Se você não encontrar nenhum, provavelmente chegará à conclusão de que sua amostragem é muito pequena em vez de concluir que não há peixes nos oceanos.

FOLHA - Qual é a chance de sucesso? Frank Drake criou uma equação para estimar quantos planetas com vida inteligente existem na galáxia, mas ninguém soube solucioná-la.
TARTER -
A equação de Drake não é uma "equação" no sentido formal. Não dá para calcular nada com ela, pois os termos ao lado direito do sinal são desconhecidos -e provavelmente continuarão assim até que tenhamos sucesso. O termo mais aberto é a longevidade de uma civilização com tecnologia de transmissão. Nós podemos estabelecer um limite mínimo usando nosso próprio exemplo -fazemos isso há uns cem anos-, mas não temos como saber qual o máximo que uma sociedade assim sobrevive.
Algumas pessoas tentaram usar argumentos estatísticos, mas, na verdade, não os adotei.
Elas estão assumindo que uma civilização tecnológica é algo pequeno em comparação com as muitas tecnologias em evolução que a englobam. Algumas dessas tecnologias poderiam até viver mais do que as civilizações que as inventaram.

FOLHA - Com a digitalização de rádio e TV, os sinais de transmissão não precisam mais ser tão potentes, e a Terra está ficando silenciosa. Drake diz que, por causa disso, está ficando mais difícil para um ET nos encontrar. Que tipo de sinal vocês estão procurando vindo de ETs?
TARTER -
Fizemos vários workshops no fim do século 20 questionando o que o Seti deveria fazer durante as duas próximas décadas. Publicamos isso no volume "Seti 2020". Destacamos a oportunidade de fazer buscas no espectro óptico, porque a tecnologia necessária para contar fótons em uma cadência de nanossegundos [bilionésimos de segundos] estava se barateando, e concluímos que os sinais mais propensos a serem detectados seriam as transmissões intencionais.
A maioria de nós não dá muita bola para a ideia do "vazamento" de radiação, sinais projetados que não teriam mais potência do que aquela requerida para sua finalidade. Nossas transmissões de TV e rádio só têm potência para alcançar a cidade ao lado, e os satélites só transmitem para regiões que ficam logo abaixo deles. Se você quer que seus sinais sejam detectáveis por tecnologias jovens emergentes -nós-, deve construir transmissores poderosos com essa finalidade específica e mantê-los em operação.

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