São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006 |
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+(c)ultura Masp nas trevas O francês Claude Mollard, fundador do Centro Cultural Georges Pompidou, diz que é uma "vergonha" a situação que vive o museu paulista
MARCOS STRECKER FOLHA - O sr. acompanhou o incidente envolvendo o Masp? Já viu um museu dessa importância ficar fechado por falta de pagamento da conta de luz? CLAUDE MOLLARD - É um absurdo. Nunca tinha ouvido falar de algo assim. Nem estou acreditando. Ou o museu está sem recursos porque o poder público não os está repassando ou cuidou mal do dinheiro. Ou a companhia de eletricidade é muito má. Dirijo um museu em Montparnasse. Certa vez, a prefeitura deixou de nos repassar dinheiro e a companhia telefônica cortou nossas linhas. Não éramos responsáveis, ligamos para a companhia e religaram no dia seguinte. É delicado, não vou abordar a questão política, dos responsáveis, mas observo o resultado. Não é normal. É um escândalo, uma vergonha. FOLHA - Como o sr. avalia a manutenção dos museus no Brasil? Como é essa percepção no exterior? MOLLARD - A impressão que temos é a de que o Brasil não se interessa muito pelos seus museus. Há alguns anos, fui ao Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio, e estava chovendo. Havia um problema no prédio e caía água sobre uma múmia egípcia. Também há o episódio do incêndio que ocorreu no Museu de Arte Moderna, no Rio [em julho de 1978, quando cerca de 90% do acervo foi destruído]. Se isso continuar, não haverá mais museus no Brasil. Há a tentativa aqui de criar um museu dedicado às obras do escultor Frans Krajcberg, mas não há dinheiro. Os museus são essenciais para a educação, para os estudantes, para a história etc. Isso não quer dizer que não haja várias iniciativas importantes aqui. [O problema no Masp] não é bom para a imagem do Brasil. Acho que está claro que não é feito o suficiente. Parece que aqui há mais interesse pela música e pela dança. A arte brasileira é uma prioridade, é uma pena que o Masp esteja sem luz. FOLHA - O que o sr. acha das formas de financiamento dos museus,
da relação entre financiamento público e privado? O que o sr. achou da
recente iniciativa de construir uma
unidade do Guggenheim no Rio?
MOLLARD - O problema do financiamento privado é que em
um dia funciona, no outro não.
Acho que seria bom se houvesse um novo museu de arte moderna no Rio. Mas sempre há o
problema de dinheiro. É uma
questão de prioridade. |
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