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+ saúde
Aumentando a dosagem
Livro traça a história da medicina oriental, sua fusão com a do Ocidente e as perspectivas futuras
JAMES WILSDON
Nas raras ocasiões
em que se cansa de
atacar a religião, o
biólogo Richard
Dawkins aproveita
para se divertir fazendo críticas
à medicina alternativa.
Em agosto, apresentou um
documentário na TV britânica
no qual criticava o "Serviço Irracional de Saúde" como "uma
indústria multibilionária que
empobrece nossa cultura e nos
força a aceitar gurus da nova
era que nos exortam a escapar
da realidade".
Dois meses antes, o farmacologista David Colquhoun apelara às universidades para que
deixassem de conceder diplomas em medicina alternativa,
afirmando que "baboseiras estão sendo ensinadas como se
fossem ciência em algumas
universidades britânicas".
O traço comum entre essas
críticas é a suposição de que o
iluminismo deu origem a uma
era dourada da medicina ortodoxa, baseada em pesquisa
científica rigorosa e objetiva
sobre o mundo, que estaria
agora sendo solapada pelo que
Dawkins define como "uma
epidemia de pensamento supersticioso".
Mas as fronteiras entre a medicina ortodoxa e a alternativa
jamais foram estáveis, como
nos lembra Roberta Bivins em
"Alternative Medicine? A History" [Medicina Alternativa?
Uma História, Oxford University Press, 238 págs., 14,99,
R$ 55], seu elegante e envolvente livro sobre o tema.
A medicina alternativa não é
novidade, e o modo como as
tradições da China, Índia e de
outros lugares influenciaram a
medicina européia pode ser
traçada ao longo da história.
Até o século 18, por exemplo,
havia muitas semelhanças entre esses sistemas médicos diferentes, na modo como refletiam sobre o corpo humano e
sua relação com o universo.
Essa herança comum terminou por ser erradicada da história da medicina ocidental.
Com o tempo, as noções de
ortodoxia se enrijeceram. Porque a biomedicina convencional agora se apresenta como
detentora de conhecimento
absoluto, os praticantes de
abordagens diferenciadas se
vêem forçados a se apresentar
como "complementares" ou
"alternativos".
Bivins nos conduz em uma
fascinante jornada do Oriente
ao Ocidente e de volta, traçando os percursos do conhecimento e da tradição que deram
forma à medicina tal qual é hoje praticada. Ela usa como
exemplo o medicamento conhecido como Tiger Balm, um
bálsamo vendido em embalagens hexagonais de cores brilhantes em mais de cem países.
Embora o Tiger Balm seja
produzido em Cingapura, seu
maior mercado são os EUA, e a
internet agora torna mais fácil
do que nunca, aos consumidores ocidentais, obter medicamentos não-convencionais em
diversas regiões do mundo.
Da mesma forma que a medicina ocidental sofre influência
de outras culturas, os sistemas
médicos da China e da Índia estão evoluindo. Bivins enfatiza
que "em momento nenhum os
sistemas médicos autóctones
se mantiveram estáticos diante
da biomedicina".
Isso sugere que um novo capítulo pode estar se abrindo
para a medicina alternativa, no
qual as economias em crescimento combinarão seu conhecimento para criar novos híbridos. O professor Dawkins talvez não goste da idéia, mas ao
que parece a medicina alternativa está aqui para ficar.
Este texto foi publicado no "Financial Times".
Tradução de Paulo Migliacci.
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