São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2004

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arte

POR FELIPE CHAIMOVICH

Crítica acuada

A moderna crítica de arte nasceu como gênero político, no século 18. A reflexão acerca das obras criticadas seria indissociável de um projeto amplo para a cultura como força transformadora da sociedade. A perda desse horizonte leva o crítico a fragmentar seu pensamento, subordinando os juízos a interesses do mercado ou da moda.
Por outro lado, só é possível para o crítico de arte formar uma visão consistente da cultura pela prática constante do escrever e publicar. A pluralidade de obras e mostras a serem julgadas vai exigindo confronto com temas cada vez mais abrangentes. Ao mesmo tempo, a escrita destinada à mídia impressa, em que cada palavra tem um custo, leva ao esclarecimento e precisão dos próprios conceitos.
Contudo, o Brasil sofre atualmente da carência de imprensa especializada em arte. O alto custo da impressão no país, aliado à escassez de patrocínios constantes, inviabiliza criar e manter periódicos com espaço regular para críticos nacionais.
Seguem-se duas conseqüências. A primeira delas é a opção de produzir artigos para revistas estrangeiras. Nosso pensamento sobre arte é freqüentemente adaptado para o inglês, espanhol, francês ou italiano, além de se restringir aos espaços reduzidos que tais veículos internacionais destinam à cobertura de exposições pelo mundo afora, sendo o Brasil apenas mais um tema da pauta globalizada. A segunda conseqüência é a irregularidade da publicação dos críticos em língua portuguesa. Logo, rareiam as ocasiões para exercitar a redação no próprio idioma, comprometendo o processo de sistematizar e amadurecer projetos para a cultura.
A escassez de imprensa brasileira especializada em arte reforça nossa dependência de literatura importada sobre nós mesmos. Assim, perdemos força no debate transnacional que define os parâmetros da arte contemporânea.


Felipe Chaimovich é professor de estética na Fundação Armando Álvares Penteado.


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