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arte
POR FELIPE CHAIMOVICH
Crítica acuada
A moderna crítica de arte nasceu
como gênero político, no século 18.
A reflexão acerca das obras criticadas seria indissociável de um projeto amplo para a cultura como força
transformadora da sociedade. A
perda desse horizonte leva o crítico
a fragmentar seu pensamento, subordinando os juízos a interesses do
mercado ou da moda.
Por outro lado, só é possível para o
crítico de arte formar uma visão
consistente da cultura pela prática
constante do escrever e publicar. A
pluralidade de obras e mostras a serem julgadas vai exigindo confronto
com temas cada vez mais abrangentes. Ao mesmo tempo, a escrita destinada à mídia impressa, em que cada palavra tem um custo, leva ao esclarecimento e precisão dos próprios conceitos.
Contudo, o Brasil sofre atualmente da carência de imprensa especializada em arte. O alto custo da impressão no país, aliado à escassez de
patrocínios constantes, inviabiliza
criar e manter periódicos com espaço regular para críticos nacionais.
Seguem-se duas conseqüências. A
primeira delas é a opção de produzir
artigos para revistas estrangeiras.
Nosso pensamento sobre arte é freqüentemente adaptado para o inglês, espanhol, francês ou italiano,
além de se restringir aos espaços reduzidos que tais veículos internacionais destinam à cobertura de exposições pelo mundo afora, sendo o
Brasil apenas mais um tema da pauta globalizada. A segunda conseqüência é a irregularidade da publicação dos críticos em língua portuguesa. Logo, rareiam as ocasiões para exercitar a redação no próprio
idioma, comprometendo o processo de sistematizar e amadurecer
projetos para a cultura.
A escassez de imprensa brasileira
especializada em arte reforça nossa
dependência de literatura importada sobre nós mesmos. Assim, perdemos força no debate transnacional que define os parâmetros da arte
contemporânea.
Felipe Chaimovich é professor de estética
na Fundação Armando Álvares Penteado.
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