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12 MESES & 6 DESTINOS
Migração ameaça China; UE em crise
Ninguém sabe o que acontecerá numa China solapada por uma crise econômica e social
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Jerry Lampen - 8.ago.08/Reuters
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Bandeira da China é hasteada durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, em Pequim
LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
Não deve haver país
no mundo em que
as manchetes de
2009 sejam mais
ansiosamente esperadas do que os EUA. Depois
de uma transição presidencial
que está parecendo longa demais, os americanos aspiram a
um novo astral.
Para dar adeus ao estropício
do governo George W. Bush e
pelas boas notícias que presumidamente devem sair do saco
de bondades estatais levado
para a Casa Branca por Barack
Obama.
Na campanha eleitoral, Obama prometeu um plano de US$
175 bilhões para relançar a economia. Agora, seus assessores
já falam de um montante que
deve ultrapassar US$ 800 bilhões. Três milhões de empregos deverão ser criados em
grandes obras de infra-estrutura, como a construção de estradas, escolas e de sistemas de
transporte de massa.
As outras notícias anunciadas pelo novo presidente, reverenciado mundo afora como
um Papai Noel que chegará
com um mês de atraso, são menos precisas.
Decerto, sua equipe encarregada das questões do ambiente,
um "green team" com um Prêmio Nobel [o físico Steven
Chu] e cientistas engajados na
luta pela energia renovável,
promete muitas reformas importantes. Mas a maioria dos
membros de seu governo não
será portadora de mudanças,
frustrando a parte mais esperançosa de seu eleitorado.
Na China, ao contrário dos
EUA, a esperança é de que nada
mude, que haja mais do mesmo. Com um ano de 2009 sem
novidades, para que o país continue a crescer acima de 8% ao
ano, evitando o grande salto no
escuro.
Ninguém sabe o que acontecerá numa China solapada por
uma crise econômica e social.
Os especialistas seguirão de
perto as migrações dos cerca de
150 milhões de "mingong"
-bóias-frias e peões da construção-, que começaram a refluir das Províncias prósperas
do litoral para as cidades do interior. Se a crise persistir, haverá manifestações dos "mingong". Será uma notícia ruim
para os países habituados a tirar partido da gestão econômica da ditadura chinesa.
Na Europa, o ano começa
com uma má manchete. Nos
próximos seis meses, o novo
presidente da União Européia
será Vaclav Klaus.
Presidente da República
Tcheca, Vaclav Klaus é um eurocético declarado e um azucrinador de primeira. Neoliberal extremado, antiecologista
militante, Vaclav Klaus é o único chefe de Estado da UE que
proibiu a bandeira européia em
sua sede de governo.
Bélgica aos pedaços
Mais grave para a UE, a Bélgica, um de seus países fundadores, pode ir à breca em 2009.
Tropeçando numa crise constitucional e identitária há anos, a
Bélgica, fundada em 1830, corre o risco de fragmentar-se em
dois países distintos, um francófono e outro flamengo.
Na América Latina, 2009
prenuncia viradas políticas. No
final de um período em que
Washington teve uma de suas
presidências mais conservadoras, diante de governos latino-americanos majoritariamente
assumidos por partidos de esquerda e de centro-esquerda, a
direita, ajudada pela crise, está
bem situada para voltar ao poder em vários países.
No Chile, na Bolívia, no Panamá, no Uruguai, na Argentina as equipes governamentais
enfrentarão as eleições em condições adversas.
No Brasil, tudo depende do
contexto econômico e da performance eleitoral de Dilma
Rousseff (ministra-chefe da
Casa Civil), que terá o duvidoso
privilégio de concorrer à Presidência da República sem nunca
ter assumido nenhum posto
eletivo na vida.
No México e na Colômbia, a
direita no poder não enfrenta
ameaça séria da oposição.
Assim, no momento em que
um presidente entra na Casa
Branca conduzido por um eleitorado de centro-esquerda e
com uma plataforma reformista, a América Latina estará de
novo de sinal trocado com a política de Washington.
LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO é historiador e
professor na Universidade de Paris 4. É autor de
"O Trato dos Viventes" (Cia. das Letras) e escreve regularmente na seção "Autores", do Mais! .
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