São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2008

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12 MESES & 6 DESTINOS

Migração ameaça China; UE em crise


Ninguém sabe o que acontecerá numa China solapada por uma crise econômica e social

Jerry Lampen - 8.ago.08/Reuters
Bandeira da China é hasteada durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, em Pequim

LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

Não deve haver país no mundo em que as manchetes de 2009 sejam mais ansiosamente esperadas do que os EUA. Depois de uma transição presidencial que está parecendo longa demais, os americanos aspiram a um novo astral.
Para dar adeus ao estropício do governo George W. Bush e pelas boas notícias que presumidamente devem sair do saco de bondades estatais levado para a Casa Branca por Barack Obama.
Na campanha eleitoral, Obama prometeu um plano de US$ 175 bilhões para relançar a economia. Agora, seus assessores já falam de um montante que deve ultrapassar US$ 800 bilhões. Três milhões de empregos deverão ser criados em grandes obras de infra-estrutura, como a construção de estradas, escolas e de sistemas de transporte de massa.
As outras notícias anunciadas pelo novo presidente, reverenciado mundo afora como um Papai Noel que chegará com um mês de atraso, são menos precisas. Decerto, sua equipe encarregada das questões do ambiente, um "green team" com um Prêmio Nobel [o físico Steven Chu] e cientistas engajados na luta pela energia renovável, promete muitas reformas importantes. Mas a maioria dos membros de seu governo não será portadora de mudanças, frustrando a parte mais esperançosa de seu eleitorado.
Na China, ao contrário dos EUA, a esperança é de que nada mude, que haja mais do mesmo. Com um ano de 2009 sem novidades, para que o país continue a crescer acima de 8% ao ano, evitando o grande salto no escuro.
Ninguém sabe o que acontecerá numa China solapada por uma crise econômica e social. Os especialistas seguirão de perto as migrações dos cerca de 150 milhões de "mingong" -bóias-frias e peões da construção-, que começaram a refluir das Províncias prósperas do litoral para as cidades do interior. Se a crise persistir, haverá manifestações dos "mingong". Será uma notícia ruim para os países habituados a tirar partido da gestão econômica da ditadura chinesa.
Na Europa, o ano começa com uma má manchete. Nos próximos seis meses, o novo presidente da União Européia será Vaclav Klaus.
Presidente da República Tcheca, Vaclav Klaus é um eurocético declarado e um azucrinador de primeira. Neoliberal extremado, antiecologista militante, Vaclav Klaus é o único chefe de Estado da UE que proibiu a bandeira européia em sua sede de governo.

Bélgica aos pedaços
Mais grave para a UE, a Bélgica, um de seus países fundadores, pode ir à breca em 2009. Tropeçando numa crise constitucional e identitária há anos, a Bélgica, fundada em 1830, corre o risco de fragmentar-se em dois países distintos, um francófono e outro flamengo.
Na América Latina, 2009 prenuncia viradas políticas. No final de um período em que Washington teve uma de suas presidências mais conservadoras, diante de governos latino-americanos majoritariamente assumidos por partidos de esquerda e de centro-esquerda, a direita, ajudada pela crise, está bem situada para voltar ao poder em vários países.
No Chile, na Bolívia, no Panamá, no Uruguai, na Argentina as equipes governamentais enfrentarão as eleições em condições adversas. No Brasil, tudo depende do contexto econômico e da performance eleitoral de Dilma Rousseff (ministra-chefe da Casa Civil), que terá o duvidoso privilégio de concorrer à Presidência da República sem nunca ter assumido nenhum posto eletivo na vida.
No México e na Colômbia, a direita no poder não enfrenta ameaça séria da oposição. Assim, no momento em que um presidente entra na Casa Branca conduzido por um eleitorado de centro-esquerda e com uma plataforma reformista, a América Latina estará de novo de sinal trocado com a política de Washington.


LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO é historiador e professor na Universidade de Paris 4. É autor de "O Trato dos Viventes" (Cia. das Letras) e escreve regularmente na seção "Autores", do Mais! .


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