São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009

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Conta dividida


Empresas de comunicação nos EUA querem abandonar gratuidade on-line e discutem como cobrar

DE WASHINGTON

Se a informação quer ser livre, como defende boa parte da blogosfera e o modelo sugerido por Chris Anderson em seu livro parece concordar, os jornalistas que a produzem querem ser pagos. Ou, no dizer de Bill Keller, editor-executivo do "New York Times", informação de qualidade custa caro.
"Da última vez em que eu estive em Bagdá, não vi uma sucursal do "Huffington Post", do Google ou do "Drudge Report", porque nenhum deles está lá", disse ele em entrevista recente ao "Daily Show", do comediante Jon Stewart, citando os agregadores de notícias mais populares dos EUA -com exceção do "Post", nenhum tem equipe própria de jornalismo.
O "Times" mantém um escritório de uma dezena de jornalistas no Iraque, uma operação de custo anual estimado entre US$ 2 milhões e US$ 3 milhões. "Não estão lá porque é caro, porque é perigoso", continuou Keller. "É muito mais fácil ficar em casa e pegar carona no trabalho feito pelos outros."
Lideradas pelo "New York Times" e pela News Corporation, de Rupert Murdoch, que publica o "Wall Street Journal", entre outros, as principais empresas jornalísticas dos EUA estão prestes a acabar com a "carona" -ou pelo menos a coibir, rachando a conta.
Desde o fim do semestre passado, representantes desses e de outros títulos, como o "Washington Post" e o "USA Today", vêm se reunindo em busca de um modelo de negócios para seu conteúdo on-line que substitua o adotado pela maioria no começo dos anos 90, que se provaria insustentável.
Naquele momento, quando a internet começava a se popularizar, e diferentemente de no Brasil, as grandes empresas decidiram liberar suas versões on-line, cobrando apenas pelo produto impresso. Na maior parte dos casos, tudo o que está no papel pode ser encontrado de graça no site. Esperava-se que a publicidade migrasse de meios, o que não aconteceu.
Uma das exceções a esse modelo inicial foi o "Wall Street Journal". O diário nunca abriu o site e tem hoje uma base de assinantes on-line de pouco mais de um milhão de pessoas, que pagam US$ 103,48 por ano (R$ 196,61). Fala-se que o "New York Times" poderia começar a cobrar US$ 5 (R$ 9,50) por mês pelo acesso de seu site, hoje totalmente aberto e gratuito, ou pelo menos pelo acesso a partes de seu site, que seriam fechadas -o tal modelo "freemium" que Anderson defende.
Por ser o mais prestigioso, de interesse geral e nacional, o "Times" funcionaria como o pioneiro que causaria um efeito dominó a ser seguido pelo resto da indústria local. Outro movimento aguardado é o de Murdoch, que vem dando sinais de que pode implantar o modelo do wsj.com em todos os outros jornais de seu grupo.
A ideia não desagrada Chris Anderson. "Dependendo do que me oferecessem, eu pagaria US$ 5 por mês para ter acesso on-line ao "New York Times'", disse. "Mas não acho que eles vão fechar tudo." (SD)


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