São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2008

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Pesquisa

O real está valendo uma nota

Maioria recebe salário e paga compras em dinheiro vivo

por OSCAR PILAGALLO


As transferências eletrônicas, os cartões de débito e crédito e até o velho e bom cheque, tudo isso pode dar a impressão de que o dinheiro em espécie, ou seja, as cédulas e as moedas, teria o seu uso cada vez mais restrito ao troco cotidiano.

No Brasil, no entanto, não é isso o que acontece. Uma pesquisa do DataFolha, feita a pedido do Banco Central, mostra que a maioria dos brasileiros ainda recebe salário e faz pagamentos em dinheiro vivo.

Na média, 55% da população economicamente ativa do país está nessa situação. No Nordeste, a parcela dos que recebem em espécie sobe para 70%.

No imaginário popular, pagamentos em cédulas estão associados a algum tipo negócio escuso. Uma mala de dinheiro exige explicações. Mesmo alguns maços de dinheiro são suspeitos.

E, no entanto, grandes compras são feitas com dinheiro vivo. Quem toma a realidade da classe média das grandes metrópoles como um retrato do país irá se surpreender ao saber que quase dois terços das compras ou contas de valor superior a R$ 500 ainda são pagas em espécie.

A pesquisa revela um corte por nível de poder aquisitivo que indica a existência de dois países: o dos com cartão e o dos sem cartão. Aqueles dois terços que pagam com dinheiro representam a média nacional. Mas, quando se isolam as classes chamadas de A e B, a porcentagem se inverte: nessa faixa de renda, mais de dois terços saldam seus compromissos utilizando-se de "outros meios".

A maior parte do dinheiro vivo, porém, circula em pequenas quantidades, em carteiras. É o dinheiro do bolso, aquele que paga a condução do trabalho, o café do boteco, o chiclete do filho.

Quanto o brasileiro leva ao sair de casa? A maioria (61%), até R$ 20. É exatamente a mesma porcentagem registrada em pesquisa realizada em 2005. É apenas curioso, e não mais do que isso, notar que, como o valor absoluto é igual, o poder de compra do que se leva na carteira é menor, corroído por uma inflação que, no período, ficou em torno de 10%.

É curioso também que, fazendo-se outra comparação, seja possível afirmar o contrário. Medido em dólar, o poder de compra do real aumentou. Só nos últimos 12 meses, a moeda americana chegou a cair quase 20% (o dólar vem caindo no mundo todo, mas frente ao real teve sua maior desvalorização).

A maioria prefere dividir aqueles R$ 20 do dia-a-dia em notas de R$ 5 e R$ 10. Mas, se depender dos caixas eletrônicos, não terá essas notas na carteira. Nas máquinas, apenas 11% das notas são de R$ 5. "A preferência contrasta com a disponibilidade", observa o próprio BC.

Catorze anos atrás o real estava em plena gestação. A moeda, que nasceria em julho de 1994, ainda estava na forma embrionária, a URV (Unidade Real de Valor). Sofreu sobrevalorização na estréia, teve sua cotação corrigida ao longo dos anos e hoje está novamente valorizado (o que é angustiante para o exportador e divertido para o turista brasileiro em Nova York ou Paris).

Moedas valorizadas, naturalmente, são alvos preferenciais dos falsificadores. O real não é exceção, sobretudo quando se trata das notas maiores, as de R$ 50 e R$ 100. A população, em grande parte, está atenta ao perigo. A pesquisa mostrou que entre 2005 e 2007 cresceu de 53% para 58% a porcentagem dos que verificam se a cédula recebida é verdadeira, em geral checando a marca d'água.

A estabilidade do real também gerou uma mudança cultural no que diz respeito ao uso de moedas. A grande maioria as coloca em circulação, e não mais as "esquece" em casa, como acontecia nos tempos em que carregá-las era só desconforto inútil. Hoje, é até crescente o número de pessoas que quer moedas de maior valor, como de R$ 2 ou R$ 5. Para quem acha demais, uma comparação: a espessa, pesada e respeitada moeda de uma libra esterlina, cotada a R$ 3,3, tem um poder aquisitivo intermediário entre os dois valores mais desejados.

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